25/04/2024 - 14:00
A crença sobre vinho e saúde cardiovascular surgiu na década de 80 por meio de um estudo científico. O estudo afirmou que o Resveratrol – ingrediente das sementes de uva e do vinho tinto– beneficiava a saúde cardiovascular. Mas antes de dizer se tudo isso é mito ou verdade, vamos entender todos os passos que fizeram as pessoas chegarem a essa conclusão.
A origem do vinho, a bebida mais antiga do mundo
Em registros arqueológicos, as mais antigas sementes de uva cultivadas foram encontradas em territórios como a Turquia, a Arménia e a Geórgia Soviética que datam de 6.500 a 8.500 anos A.C. Estas descobertas revelam uma grande história por trás da bebida, indicando que o vinho foi criado por volta de 6.000 A.C, período em que os povos começaram a se estabelecer em comunidades se dedicando à agricultura e à pecuária. Foi a partir daí que começaram a surgir técnicas de fermentação para conservar os alimentos por mais tempo, o que deu origem à produção e armazenamento de vinhos.
Os grandes impulsionadores da cultura do vinho foram os egípcios, gregos e romanos. E ao que tudo indica, eles seguiam as seguintes regras:
- Plantavam as parreiras em locais com sombra para proteção do sol;
- Colhiam as uvas;
- As uvas eram pisoteadas até sair todo o suco;
- Peneirar o suco por meio de uma lona de linho esticada em uma moldura de madeira;
- Após o processo, a bebida era armazenada separadamente e selada com barro em grandes vasos contendo alças, denominados ânforas.
Para vinhos com elevado teor alcoólico era necessário deixar mais tempo de fermentação, por isso nesse processo, descobriram diversas formas de fazer outros tipos de vinho, testando e utilizando diversas técnicas.
A fábula persa sobre o vinho, que encantou toda a corte do Rei Jamshid
Uma lenda conta que um rei persa, chamado Jamshid escondia uvas dentro de jarras para comer fora de estação, e na época, uma das jarras foi descartada porque as uvas estavam espumando e exalando um cheiro forte possivelmente venenoso.
A Donzela, que já havia perdido o amor pelo rei, ao saber da possível “bebida envenenada”, foi beber o líquido dessa jarra específica para tentar suicídio. Mas quando ela bebeu, sentiu-se feliz e dormiu profundamente. Ao acordar, ela contou ao rei o que havia acontecido, e ele ordenou aos trabalhadores que preparassem uma grande quantidade desta bebida para que todos bebessem. À medida que as pessoas bebiam, ficavam felizes e foi desta forma que tudo começou.
Será que essa alegria ao tomar a bebida estava relacionada com estar saudável?
Vinho e saúde cardiovascular: uma crença antiga que prevalece até hoje
Alguns estudos apontaram problemas nesse tipo de estudo desde a década de 1980, pois não há evidências de que o vinho seja um dos responsáveis pela saúde do coração. Pesquisadores afirmam que talvez naquela época as pessoas que bebiam moderadamente fossem mais saudáveis do que as pessoas que não bebiam nada, entre outras questões.
Kaye Middleton Fillmore, pesquisadora da Universidade da Califórnia, em São Francisco, estava entre os que pediram uma investigação mais aprofundada da pesquisa.
“Cabe à comunidade científica avaliar cuidadosamente esta evidência”, escreveu ela num editorial publicado em 2000.
Em 2001, Fillmore convenceu Stockwell e outros cientistas a ajudá-la a investigar esses estudos anteriores e analisá-los para que ela pudesse explicar melhor para a população sobre essas informações recorrentes. Já em uma nova análise, a equipe de investigadores encontrou um resultado que nos faz pensar sobre tudo isto: os benefícios anteriormente observados do consumo moderado de álcool desapareceram.
As descobertas, publicadas em 2006, foram manchetes por contradizerem a tal da sabedoria prevalecente: “Estudo põe fim à crença de que um pouco de vinho ajuda o coração”, noticiou o Los Angeles Times. É claro que isto perturbou a indústria do vinho, que gastou muito dinheiro para neutralizar a informação.
Dennis Bruemmer, do Departamento de Cardiologia da Clínica Cleveland, nos Estados Unidos, afirma que a crença de que “uma ingestão diária moderada de vinho tinto faz bem ao coração” tem como base a cultura francesa. Na França, a bebida é muito popular, e um adulto pode consumir cerca de 47L por ano (mais de 62 garrafas). Além disso, eles, os franceses, geralmente apresentam baixas taxas de doenças cardiovasculares, o que faz as pessoas terem essa crença predominante em todas as culturas.
O cardiologista ainda ressalta uma revelação surpreendente: o segredo da baixa taxa de doenças cardíacas na França não está ligado ao vinho tinto, mas sim em outros hábitos saudáveis da cultura francesa. Comparado a países com altas taxas de mortalidade, a França se destaca pela baixa incidência de obesidade, diabetes tipo 2 e sedentarismo, além de uma alimentação mais equilibrada, seguindo principalmente a dieta mediterrânea.
E o tal do Resveratrol?
De fato a substância contida nas sementes das uvas, tem um composto natural antioxidante que ajuda na prevenção de doenças cardiovasculares.
“O resveratrol ajuda a ativar uma enzima chamada telomerase, que protege a integridade do genoma”, explica o cardiologista Bruemmer.
É por conta disso, que há muito se associa que o vinho tinto faz bem à saúde do coração, ainda mais se consumido uma taça por dia – o que está longe de ser verdade. Sendo assim, estudos indicam que a quantidade necessária dessa substância chamada Resveratrol para de fato proporcionar algum benefício teria que ser imensa – o que seria impossível de conseguir tomando vinho tinto.
Estudo recente afirma que o consumo diário de álcool aumenta o risco de problemas cardiovasculares
Em 2022, alguns investigadores relataram algumas notícias bastante preocupantes: que o consumo de álcool não só não trazia benefícios cardiovasculares, mas também poderia aumentar o risco de problemas cardíacos, diz a Dra. Leslie Cho, cardiologista da Cleveland Clinic.
“Hoje, pesquisas mostram que beber vinho ou outra bebida alcoólica diariamente pode elevar o risco de doenças crônicas. Estas incluem pressão alta, ritmo cardíaco irregular, diabetes, entre outros problemas de saúde”, disse ela.
Por meio dos estudos, é certo afirmar que nenhuma quantidade de álcool é segura – algo que a OMS (organização mundial da saúde) afirma desde 1988.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e supervisionado por um Profissional da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.