Às vezes estamos tão sobrecarregados da correria, que tentamos acordar mais cedo para treinar e programamos a função “soneca” até que… não dá mais tempo de treinar! De fato é bem difícil quando estamos divididos entre descansar um pouquinho mais ou realizar um treino de corrida. Ficamos no dilema de dormir mais, porque estamos com pouca energia; ou treinamos mais para a nossa saúde.

Por isso, vamos desvendar esse processo de tomada de decisão para que você se sinta seguro para fazer o que for necessário para sua saúde e bem-estar físico e mental.

 

Detecte o tipo de cansaço

O primeiro ponto é identificar seu tipo de cansaço. Existem patologias associadas ao cansaço, como a síndrome da fadiga crônica ou alterações metabólicas, como alterações de tireoide. Entretanto, existe o cansaço físico, mental, emocional e precisamos perceber quando estão interferindo no nosso dia a dia e qualidade de vida.

 

Agora a pergunta: “treinar ou dormir?”

O sono é essencial e a privação do sono pode trazer prejuízos para você, levando a um aumento da probabilidade de lesões, comprometimento do sistema imunológico, aumento da suscetibilidade a resfriados e infecções de trato respiratório superior, além das dificuldade no processo de emagrecimento ou qualquer resultado que almeja no seu treino.

A National Sleep Foundation afirma que jovens e adultos precisam de cerca de 7 a 9 horas de sono por noite. 

O que sabemos é que é um grande ciclo, não durmo, não obtenho resultados nos treinos e, portanto, o sono afeta o desempenho atlético e cognitivo. Os cochilos da tarde são ótimos, e até os mais curtos podem te ajudar muito. Entretanto, não há pesquisas sobre se um deve ser priorizado em detrimento do outro ou os prós e contras de malhar quando você está cansado.

Os estudos não conhecem nossas individualidades e as pesquisas não sabem das suas necessidades. A verdade é que os dados nunca serão capazes de tomar a decisão de dormir versus fazer exercícios. Só você é capaz de definir o que é melhor para você. Portanto, devemos ter consciência de descobrir e definir qual deles é preciso em determinado momento. 

E como escolher entre dormir e fazer exercícios? 

Devemos ouvir nosso corpo atentamente e incessantemente, aprendendo como sintonizar constantemente o que estamos sentindo e o que precisamos, porque nosso corpo, alma e mente devem estar em constante equilíbrio. 

O treinamento é uma grande parte da nossa vida. Portanto, sabemos o quanto somos “fisiologicamente preguiçosos” e nosso organismo tem uma tendência de poupar energia, nos deixando cada vez mais inativos. 

Precisamos entender também qual nosso instinto natural. Eu preciso prestar atenção no descanso —mesmo vivendo cansada, já que, naturalmente, prefiro treinar mais e me supervisionar para dormir mais.

Portanto, ao se deparar com a decisão entre dormir ou fazer exercícios, saiba que provavelmente você flutuará automaticamente em torno de tudo o que lhe é familiar e instintivo. 

Para ajudar a superar esses impulsos naturais e realmente entrar em sintonia com o que o seu corpo precisa naquele momento específico, é importante fazer as seguintes perguntas: 

  • “Quanto dormi na noite anterior? Pelo menos sete horas?”
  • “O treino agora me ajudará a dormir melhor esta noite?”
  • “Quão cansado está meu corpo? Quanto treinei essa semana?”
  • “Estou com alguma dor, fadiga ou lesão? Meu corpo se beneficiará com um pouco de descanso? Estou me colocando em risco de (mais) lesões?”
  • “Como estou me sentindo emocionalmente? Estou deprimido? Passei por um dia estressante?”
  • “Quão distraído estou mentalmente? Acabei de passar oito horas na frente de um computador?”
  • “Tenho viajado muito? Mudei de fuso? Meu organismo está trabalhando mais que o comum? Estou me sentindo esgotado?”
  • “Uma soneca rápida ajudará? Ou uma meditação? Ou uma conversa? Ficar quieto por alguns momentos para organizar meus pensamentos e energia ajudará?”
  • “Como pular o treino me fará sentir mais tarde? Descansado? Mais forte?”
  • “Meu ego está atrapalhando? Estou apenas tentando me esforçar demais para provar para alguém que consigo? Ou que não sou fraco? Ou que penso que não preciso e não é necessário descansar?”

Algumas pessoas podem precisar de um treino intenso após um dia emocionalmente intenso, enquanto outras precisam de um tempo tranquilo e sozinhas e de uma pausa total nas atividades. O objetivo dessas perguntas, em outras palavras, não é chegar à resposta “certa”, mas orientar-se no pensamento mais intencional e crítico sobre o que seu corpo e sua mente estão pedindo.

Quanto mais você começar a prestar atenção, fazer anotações mentais, ouvir seu eu interior, mais saberá exatamente o que seu corpo precisa. O eterno debate responderá por si mesmo. Entenda que você precisa, em alguns momentos, ser o seu espectador e testemunha fidedigna das suas atitudes. 

Eu aprendi que se estou num ponto em que estou legitimamente questionando se devo descansar ou não, isso é um sinal de alerta imediato. Sei que o simples fato de não ter certeza é uma indicação de que provavelmente preciso descansar. Qualquer indecisão geralmente é meu ego apenas tentando provar que consigo, às custas do descanso que meu corpo realmente precisa.

Então, minha resposta a pergunta é “depende”. Para responder à pergunta por si mesmo, você provavelmente precisará ter algumas conversas difíceis com seu próprio corpo.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

The Guardian. The seven types of rest: I spent a week trying them all. Could they help end my exhaustion? Disponível em: 
https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2021/nov/25/the-seven-types-of-rest-i-spent-a-week-trying-them-all-could-they-help-end-my-exhaustion