A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é a endocrinopatia feminina mais comum, afetando de 15% a 18% das mulheres em idade reprodutiva. Com certeza você conhece alguma mulher que apresenta essa condição clínica. Normalmente, a SOP está mais presente em mulheres com sobrepeso ou obesidade e é caracterizada por irregularidade menstrual, diminuição da fertilidade e sinais visíveis, como queda de cabelo, acne e aumento no pelos na face e corpo. Ainda, a resistência à insulina é frequente, mesmo naquelas mulheres que não estão acima do peso.

 

A mudança no estilo de vida é a primeira linha de tratamento para o manejo de mulheres com SOP. O exercício físico regular, assim como a manutenção de peso corporal e adoção de hábitos alimentares saudáveis é fundamental na prevenção e tratamento da SOP e de distúrbios metabólicos associados. 

 

Portanto, vou te mostrar opções interessantes para o tratamento nutricional de mulheres com SOP. O primeiro ponto é ajustar as calorias consumidas, para que não estejam em demasia e assim, o peso corporal seja ajustado. Estudos em pacientes com SOP confirmam que modestas reduções de peso melhoram a tolerância à glicose, perfil do risco cardiovascular e função reprodutiva.

 

Um déficit calórico diário de apenas 200 kcal/dia pode promover a redução de peso a longo prazo. Já um déficit de 500 kcal/dia é necessário para a média de redução de 0,5 kg/semana. Esses déficits podem ser desafiadores na prática, o que explica por que muitas pacientes têm dificuldade em conseguir uma redução de peso satisfatória.

 

E para complicar mais, existe uma impressão distinta de que as mulheres com SOP têm mais dificuldade em controle e redução de peso. 

 

Ainda, o controle no consumo de carboidratos é determinante. Isso não significa que devemos excluir ou reduzir drasticamente os carboidratos, mas é interessante limitar entre 40 a 45% das calorias consumidas. Ou seja, em um cardápio diário de 2 mil calorias, os carboidratos representam de 800 a 900 kcal. Mas além da quantidade, a qualidade deve ser observada, e assim, o foco deve ser no consumo de carboidratos integrais, presente em cereais, frutas, legumes e demais vegetais. Assim, devemos limitar os carboidratos ultraprocessados, presentes em biscoitos, doces e massas.

 

Para o tratamento nutricional da SOP, as fibras não podem ficar de fora, visto que apresentam benefícios metabólicos positivos no microbioma intestinal assim como conferem mais saciedade e melhor controle de glicemia e insulina. O consumo diário de 25 a 35g de fibras pode ser atingido com alimentos vegetais, feijões, cereais integrais, sementes de abóbora, girassol, linhaça, chia e especialmente psyllium.

 

Além dos carboidratos, a ingestão de ácido graxo saturado deve ser limitada em até 7% das calorias consumidas em um dia. Estudos demonstraram que a troca de alimentos ricos em ácido graxo saturado (como manteiga, banha de porco) por ácido graxo poli e mono-insaturado (extra-virgem, oleaginosas, sementes) exerce efeitos anti-inflamatórios importantes para as pacientes com SOP. Não é à toa que a dieta mediterrânea, rica em ácidos graxos monoinsaturados (MUFA), tem sido amplamente aceita como padrão-ouro para as dietas saudáveis.

 

Um dos fatores mais importantes é a ingestão de proteínas, que é fundamental, por aumentar a saciedade, contribui para aumentar termogênese pós-prandial (que significa gastar mais calorias no processo de digestão), e aumenta a massa muscular, em resposta ao exercício físico. Sugiro pelo menos o consumo de 1,2 gramas de proteína por quilo de peso corporal, ou seja, uma mulher de 60kg deveria consumir pelo menos 72 gramas de proteína por dia. Vale observar que esse valor se refere à proteína apenas e os alimentos contém os demais nutrientes na composição. Assim, em 100g de filé de frango grelhado, existe por volta de 30g de proteína. 

 

Outros nutrientes devem ser ajustados, e infelizmente a grande maioria das mulheres com SOP consome uma dieta inadequadamente balanceada, envolvendo deficiências em fibras, ômega 3, cálcio, magnésio, zinco e vitaminas (ácido fólico, vitamina C, vitamina B12 e vitamina D). Ao analisar a literatura disponível sobre suplementação na SOP, atenção deve ser dada à vitamina D, que aumenta a produção e liberação de insulina, além de diversas funções metabólicas. Por isso, é obrigatório suplementar a paciente com SOP que apresenta níveis plasmáticos insuficientes dessa vitamina.

 

A SOP é um distúrbio complexo e intervenções devem ser feitas para promover o controle de peso e melhorar a ação da insulina. Portanto, os ajustes alimentares devem ser feitos de modo constante para que exista benefício prolongado.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

Farshchi H, Rane A, Love A, Kennedy RL. Diet and nutrition in polycystic ovary syndrome (PCOS): pointers for nutritional management. J Obstet Gynaecol. 2007;27(8):762-773. doi:10.1080/01443610701667338 
Szczuko M, Kikut J, Szczuko U, et al. Nutrition Strategy and Life Style in Polycystic Ovary Syndrome-Narrative Review. Nutrients. 2021;13(7):2452. Published 2021 Jul 18. doi:10.3390/nu13072452