Toda gestante que faz pré-natal comigo recebe a seguinte orientação:
Pode continuar tendo relações sexuais sem preocupações! Durante a gestação, se aparecer alguma comorbidade que a impeça de namorar, eu te aviso! Por enquanto, se sangrar um pouquinho, não se preocupe! Ah, e depois das 37 semanas, para estimular o parto natural, o sexo é mais do que recomendado!
Achou estranho ou já recebeu essa orientação? Abaixo, separei os medos e as alegrias do sexo em cada fase da gestação por trimestre, para te explicar que ele não é, e nem deve ser, um bicho de sete cabeças.
Até 12 semanas: os primeiros três meses
No início da gravidez, é comum que as mulheres sintam uma mistura de emoções, desde excitação sobre o que está por vir até preocupação com o desconhecido. Algumas mulheres se preocupam que o sexo possa prejudicar o desenvolvimento do bebê ou causar um aborto espontâneo, enquanto outras sentem desconforto devido a sintomas comuns da gravidez, como dor, náusea, fadiga e sensibilidade mamária.
A culpada por esses sentimentos é a progesterona, hormônio essencial para a manutenção da gestação, que causa muito cansaço e queda da libido no primeiro trimestre.
As náuseas e fadiga são por conta do aumento do beta-HCG, aquele hormônio que deixa o teste de gravidez de xixi positivo, e que impacta diretamente no desejo sexual.
Quem tenta manter o apetite sexual da mulher é o estrogênio, que melhora a circulação sanguínea, a sensibilidade e o prazer sexual.
Além disso, a atividade sexual ajuda a liberar endorfinas, hormônios que promovem a sensação de bem-estar e aliviam o estresse, tão importantes nesses primeiros 3 meses. Sem falar que manter a intimidade com o parceiro fortalece a relação e cria um ambiente de apoio emocional importantíssimo nesse começo.
Quando devemos nos preocupar e não ter relações sexuais nesse trimestre: se a gestante tiver diagnósticos como colo curto, ameaça de abortamento, lesões detectadas no exame de Papanicolau ou na Colposcopia que causam sangramento, dentre outras.
Entre 12 e 28 semanas: a lua de mel da gravidez
Este período é frequentemente chamado de “lua de mel” da gravidez, pois muitas mulheres experimentam um aumento na libido. Os níveis de estrogênio continuam a aumentar, promovendo maior sensibilidade na vulva, vagina, clitóris e seios, o que aumenta a libido e o prazer sexual.
Também no segundo trimestre, as mulheres grávidas se sentem mais confortáveis, pois os sintomas chatinhos iniciais da gravidez geralmente diminuem. Os níveis de progesterona permanecem altos, mas o corpo se ajusta aos seus níveis, e muitas mulheres relatam um aumento na libido durante este período.
O que pode afetar a libido nessa fase é a autoestima da mulher, abalada muitas vezes pelo aumento do peso e pelas mudanças no corpo.
Atentar-se a diagnósticos como placenta prévia ou acretismo placentário, diagnósticos que impedem que os casais tenham relações sexuais nesse período.
O detalhe mais importante: os benefícios dos orgasmos
Os orgasmos podem tonificar os músculos pélvicos, preparando o corpo para o parto. Além disso, endorfinas são liberadas durante o orgasmo, as quais são os famosos “hormônios do bem-estar”, os quais diminuem o estresse e aumentam o prazer.
Até o nascimento: os benefícios do sexo no terceiro trimestre
Apesar dos desafios, o sexo no terceiro trimestre continua oferecendo benefícios, como o alívio dores e o bem-estar advindo do orgasmo, além de um boom de ocitocina liberado durante e após a relação sexual, o chamado “hormônio do amor”.
Após as 28 semanas, o desconforto físico pode tornar-se uma grande uma preocupação, já que o aumento significativo do peso e o tamanho da barriga deixam algumas posições sexuais desconfortáveis. Porém, um hormônio chamado relaxina, responsável por (literalmente) relaxar os ligamentos da pelve para o parto, reduz o desconforto e as dores durante o sexo.
E por falar em parto, até o sêmen do parceiro pode ajudar através do sexo com penetração vaginal: o sêmen contém prostaglandinas, que ajudam a amolecer o colo do útero, preparando-o para o parto normal.
Alguns cuidados devem ser tomados uma vez que, para pacientes com alto risco para trabalho de parto prematuro, o sexo, nesse momento, deva ser evitado.
Para acalmar os ânimos, a prolactina, hormônio responsável pela preparação para lactação e amamentação, tem efeito calmante e diminui a libido.
Como equilibrar essa montanha-russa hormonal durante a gravidez?
O primeiro segredo é a comunicação aberta e sincera com seu parceiro. O segundo é a mesma comunicação, mas agora com seu médico.
Respeitar a si mesma e ao seu corpo fazem toda diferença. Aposte em diferentes posições sexuais que possam ser mais confortáveis em cada fase da gestação e esteja atenta aos sinais do seu corpo. Sempre lembrando que são nos momentos de proibição que a criatividade deve entrar em jogo! Não podemos nunca esquecer que o sexo não se resume a penetração, logo, brincadeiras eróticas que não envolvam essa prática estão muito bem-vindos.
Manter uma vida sexual saudável durante a gravidez pode ser desafiador, mas é perfeitamente possível e pode ser extremamente benéfico para a saúde física e emocional da mulher.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
Veja Também
Quando a dor transforma o desejo em desconforto, pode ser vaginismo
Disfunções sexuais e seu sofrimento psicológico na masculinidade
Incontinência urinária: cerca de 60% das mulheres não recebem tratamento adequado
Dor durante a relação sexual? Entenda sobre o transtorno da dor genitopélvica
Como abordar a sexualidade na adolescência: um desafio para pais, mães e cuidadores