A terapeuta de casais e da família, Mary Nelsen Tamborski, coach certificada de disciplina positiva, escritora e palestrante, participou do evento Mind Summit São Paulo, nesta terça-feira, 28 de novembro, apresentando o novo livro de sua mãe denominado “Serenidade: você sabe o que está impedindo a sua felicidade?”

A coach inicia a palestra falando sobre o sistema de crenças e pensamentos no qual as pessoas estão presas, deixando de ter consciência dos próprios pensamentos até sentirem o seu reflexo no corpo. Segundo a terapeuta, são os pensamentos que criam a nossa realidade, sendo funções e habilidades que controlamos, e que, para assumirmos essa função, precisamos criar consciência desse potencial.

Ela explica que o primeiro passo para o entendimento de nosso ser é estar atento aos pensamentos, emoções, estímulos e as nossas respostas à eles. Numa abordagem didática, Mary trata do espaço entre estímulo e resposta, este que temos o poder de decidir o que fazer diante de alguma situação.

Essa responsabilidade pode levar ao crescimento e à liberdade, tudo dependendo da sua escolha naquele momento. É sobre esse potencial de escolha e controle sobre seus pensamentos, e não de controle das coisas, que a terapeuta ensina em suas palestras e coaching.

Enfatizando a necessidade de autocompreensão e atenção, o terapeuta também aborda a resposta a pensamentos negativos e situações ruins fora do nosso controle. A chave para esses momentos é ter compaixão, gratidão pelo seu ser e não colocar a culpa em outras pessoas que você considera responsáveis pela situação. 

Mais ainda, trata-se de ter gratidão em todos os momentos, sabendo que, para cada problema, há um aprendizado e uma escolha quanto à sua resposta. Você pode escolher uma resposta de crescimento ou pensamentos negativos que sejam desfavoráveis ao seu próprio ser, tudo depende da sua escolha.

Usando isso como exemplo, a especialista conta sobre um acontecimento que ocorreu com ela no caminho para o evento, ainda nos Estados Unidos. Ela foi estacionar no aeroporto e descobriu que a vaga onde conseguiu um valor mais em conta não estava mais disponível, devido ao excesso de viajantes no período de Ação de Graças. Precisando pagar mais caro pelo estacionamento, ela contou a raiva e o ataque de pânico que a dominaram por um momento, até que se lembrou de seus ensinamentos.

Ela buscou a gratidão, parou de culpar os outros, sabendo que apesar de não imaginar a lotação, não poderia culpar a si mesma pelo ocorrido, mantendo a gratidão por existir outro local para estacionar e por ter pessoas esperando para a palestra e por ela mesma. Isso a fez se acalmar e a aproveitar o momento. 

Seguindo a história de Wayner Dyer, quem Mary se inspira, ela segue a filosofia de que aproveitar a vida já é uma forma de promover a felicidade em todos os momentos, independente do que aconteceu ou virá a acontecer, buscando viver o aqui, o agora e o presente. É sobre ter a habilidade de sair da sua própria mente e prestar atenção ao seu coração, pois é ele quem contém a resposta para tudo. A resposta já está em você. 

Ao comentar sobre o livro “Serenidade: você sabe o que está impedindo a sua felicidade?”, escrito por Jane, sua mãe, traz 4 chaves que promovem a serenidade:

  1. Pensar é uma função, não a própria realidade;
  2. Sentimentos são um compasso;
  3. As realidades são separadas, ou seja, cada um tem uma própria realidade;
  4. A consciência tem humores e níveis.

Mary aprofundou-se em cada um destes tópicos, especialmente sobre as realidades separadas, tópico principal de suas palestras e cursos sobre terapia de casal. 

Cada um tem sua própria realidade, moldada pelos seus pensamentos, sistemas de crença, blueprints próprios, não existindo certo ou errado, mas o próprio de cada ser. Essas realidades separadas podem levar a discussões e brigas, quando não respeitadas, pois ao pensar que algo pode estar sendo feito contra você em seu relacionamento, você pode estar caindo nas diferenças entre a sua realidade e a de seu parceiro, que também não compreende a sua. 

Assim, a chave é respeitar a realidade de cada um, tendo a consciência de que ela é própria e não errada por ser diferente. O “talking to the wall” conversando com a parede segundo a terapeuta, trata-se das paredes existentes entre as pessoas, as paredes de suas realidades, que aparecem durante discussões e brigas. A realidade é vista por lentes, que podem ser de preconceitos, julgamentos, ou de gratidão e consciência. Tudo depende da lente que você escolher colocar.  

Ainda sobre a serenidade e saúde mental, Mary revelou algumas formas de escape da mente, maneiras de sair do mental e mover-se para o coração. 

Gratidão, dar risadas, ajudar o outro e entender, compreender ter consciência dos seus pensamentos e da divergência de realidades são 4 formas de escape da mente. A felicidade, tão procurada por todos, está em todos os lugares. Com você, bem embaixo dos seus olhos, no seu quintal, não no do seu vizinho, enfatiza a terapeuta. 

“Can’t change it” não consegue mudar isso aceite sua realidade, só pode ir para o futuro, nunca para o passado, comentou a especialista. Ela trouxe à palestra a visão de estar no presente, para evitar as preocupações e estresses com futuro, e mais ainda, os remorsos e arrependimentos do passado. O ato de estar consciente, atento, aos seus pensamentos, atitudes, escolhas e ações é o que promoverá sua felicidade e serenidade. “É sentindo que se cura”, afirma a terapeuta. Ter consciência de seus sentimentos, o ajudará a ter maior controle sobre eles, não deixando os pensamentos negativos controlarem sua realidade. E caso se sinta incapaz de mudar, sentir-se preso, ela aconselha a procurar a ajuda de um amigo, um terapeuta, alguém que esteja disposto a ouvir, para que assim você consiga expor os seus pensamentos e sentimentos, tomando consciência deles. “Não deixe que seu sistema de crenças o aprisione, você está sempre no controle deles”, retoma a terapeuta. 

serenidade

 

Após palestra estimulante e esclarecedora, nós da IstoÉ Bem-estar tivemos a oportunidade de entrevistar pessoalmente a Mary, para conhecê-la melhor, compreender mais sobre seus cursos e sua trajetória como terapeuta.

 

Você imaginava que iria seguir a carreira de sua mãe? Como foi a sua entrada e trajetória como terapeuta de casais e da família?

“Foi meio acidental, não esperava seguir os passos da minha mãe. Eu originalmente me formei em administração pública, eu ia ser uma planejadora financeira. Foi logo após o 11 de setembro, e eu senti um grande propósito naquilo. Mas eu também não encontrava a felicidade ou a alegria, então depois de trabalhar como bartending -barman – por quase 8 ou 9 anos, eu descobri que eu queria seguir na terapia de casais e da família, então fui atrás da minha formação como mestre e eu estava no final do programa quando tive meu primeiro filho.  Foi apenas quando ele estava com 6 ou 8 meses que eu aprendi que queria saber ainda mais sobre o que minha mãe ensinava e escrevia todos esses anos. E só foi quando meu segundo filho nasceu que eu me tornei certificada em educadora de disciplina positiva para pais, e fui aprendendo mais sobre o que era prático e não prático, as aplicações das ferramentas e, tendo sucesso, eu percebi que queria divulgar para a maior quantidade de pessoas que eu pudesse. E meio que aconteceu. Me tornei uma coach e comecei a escrever sobre minhas histórias de sucesso e meus desafios em ser uma mãe, aplicando as minhas ferramentas, o que me levou a escrever meu primeiro livro. E foi ele, eu acredito, que abriu ainda mais oportunidades para eu começar a viajar ao redor do mundo, começar a compartilhar sobre meu livro e minhas experiências sobre ser filha dessa disciplina positiva, e aqui estamos, quase 15 anos sendo parte deste mundo da disciplina positiva. E 17 anos sendo terapeuta de casais e da família”.

 

Como foi o processo de aprendizado dessa disciplina positiva?

“Muito do que eu aprendi eu não sabia que eu estava aprendendo, vamos dizer, uma teoria ou um método, eu só sabia que me fazia me sentir bem ser uma filha criada com carinho e por pais divertidos, que sempre faziam questão de saber que a mensagem de amor estava sendo absorvida. Mas por meio de um aprendizado disciplinar, por meio do entendimento, por me ajudar a aprender e crescer”.

 

Em suas consultas, como você lida com pais mais céticos, com dificuldades em aceitar essa nova abordagem de aprendizado, com dificuldades em aceitar a disciplina positiva?

“Eu aprendi, logo no começo, que algumas vezes as pessoas ainda não estão prontas a aprender ou a querer mudar, e é geralmente por meio da sua própria experiência, ou apenas por confiar em mim. Uma vez eu tive uma cliente que a primeira vez que trabalhamos juntas ela já havia ligado para a polícia para seu próprio filho, várias vezes, e ele tinha menos que 12 anos. Porque ele era muito violento. E eu a havia aconselhado a abordagem dos abraços. Que uma criança problemática era uma criança desencorajada, e que quando ele se sentisse melhor, ele agiria melhor, mas ela teria que se certificar de que a mensagem do amor havia sido compreendida, antes que o problema fosse resolvido e descobrisse o que o deixava tão decepcionado. Então a falei sobre os abraços e a encorajei que na próxima vez que ele tivesse um momento de raiva, e após ligar para a polícia, ela teria que abaixar o nível de tensão dele dizendo: eu preciso de um abraço. E o filho era tão confuso, que ele costumava bater ou ser pego pela polícia, e ela disse que queria um abraço. Eventualmente ele deu o abraço e derreteu em seus braços. Ela me mandou uma mensagem imediatamente. Disse que nunca havia imaginado que aquilo iria funcionar, especialmente com o filho dela. E aquilo era apenas o começo da mudança no relacionamento entre eles. Então é um pouco sobre confiar no processo, confiar na sua criança, confiar nos outros humanos, saber que todos queremos ser amados, vistos, escutados, todos queremos saber que importamos. E quando nossos pais podem nos fazer entender que somos importantes e que amor é a primeira coisa, então podemos passar pela mudança”. 

 

Qual é a sua abordagem na terapia de casal, e quais são as maiores dificuldades para os casais que você ajuda a resolver? 

“Eu tento ensinar os casais e não ir contra as crianças, contra um e o outro, mas ir para um espaço de amor e até dizer isso. Quero conversar com você porque amo você tanto e me pergunto ou estou curioso ou eu preciso entender. Mas você profetiza essa mensagem de amor. E é só quando as duas pessoas se sentem conectadas pelo coração que elas serão capazes de focar em qualquer tipo de correção. Então quando vejo um casal que está resistente a qualquer tipo de abordagem da disciplina positiva, eu foco mais na relação deles e como eles podem criar uma conexão juntos. Então a lição de casa deles pode não ter nada a ver com ferramentas, filosofias ou modelos, pode ser apenas fazer uma noite de saída, passar um tempo juntos. Recriar a relação entre eles. Porque é apenas quando você se sentir próximo de seu parceiro e de suas crianças é que você verá mudanças”.

“Muito do que fazemos e muito do que influenciamos nossos filhos começa com a gente. Era no começo da pandemia que eu me achava muito estressada, agitada, muito fácil de me irritar, então eu precisei fazer uma promessa para mim mesma que eu não iria falar quando estivesse chateada. Mas para ter certeza de que todos estavam certos disso, eu deixei minha família sabendo. Disse: ‘a mamãe tem uma declaração. Eu não falarei se estiver me sentindo chateada. Começando agora, imediatamente’. E eles me olharam como, okay, e seguiram o que estava fazendo. E foi provavelmente naquela mesma noite, que meu filho mais novo, que deveria ter uns 8 anos na época, me disse: ‘mãe, porque você está falando?’, e eu com aquele tom retruquei: ‘o que você quer dizer com falando? Eu estou falando porque eu preciso que você fique pronto para ir pra cama, preciso que pare de fazer o que está fazendo’. E ele disse: ‘mas você está brava, você não deveria falar enquanto está brava’. Então eu respondi: ‘você está certo. Obrigada pelo lembrete’, e eu fechei minha boca. No dia seguinte ele estava chateado, e eu tentei fazer umas perguntas, tentei entrar no seu mundo e ele disse: ‘eu não estou falando no momento’. E eu respondi: ‘bem você está falando, mas porque não quer falar?’. E ele: ‘porque eu estou bravo’. Então novamente, se eu quero ver meus filhos controlando suas próprias emoções, seu comportamento, preciso começar reconhecendo meus próprios erros, problemas, e fazer o que posso para corrigi-los. 

 

Poderia nos dar um conselho, uma dica para quem quer seguir na disciplina positiva, que deseja seguir a serenidade?

“Essa é uma nova linguagem com muitas novas habilidades. Leva tempo, leva treinamento, prática, e necessita de entendimento de que não existe aquilo de pai perfeito, que estamos todos fazendo o melhor que podemos e é sobre progresso, não perfeição. E que podemos modelar isso para nossos filhos, podemos transformar isso na vida deles, e no futuro deles, ensiná-los de que eles não precisam ser perfeitos, de que podem continuar aprendendo e crescendo, assim como nós”. 

 

Mary Nelsen Tamborski é terapeuta de casais e da família, coach certificada de disciplina positiva, palestrante e co-autora junto de sua mãe, Jane Nelsen, do livro “Disciplina Positiva para Casais: como cultivar um relacionamento feliz”. 

Mind Summit São Paulo , aconteceu nesta terça-feira, 28 de novembro, no Teatro Renaissance, em São Paulo, e reuniu dez especialistas, estrangeiros e brasileiros, em temas como saúde mental, bem-estar, relacionamentos, estilo de vida, práticas de resiliência e serenidade, num dia completo de palestras, discussões e exercícios para os participantes. O objetivo era mostrar as novas abordagens e terapias voltadas para a saúde mental e um estilo de vida mais saudável.