Sempre gostei de treinar, mas quando meus filhos nasceram, dei um tempo. Talvez por achar que deveria ter mais tempo com eles, talvez por um sentimento de culpa, talvez por dependência emocional ou até mesmo por cansaço. Precisava daquele cheirinho o tempo todo… que saudades! Mas um dia, enquanto escrevia um texto e eles brincavam na casa de amigos, notei que a pele das minhas mãos não estavam tão jovens quanto antes. Levantei, me olhei no espelho e estava extremamente magra e abatida. Percebi que, durante um tempo, me deixei em segundo plano e, se continuasse assim, adoeceria, e ficaria emocionalmente abalada por me sentir “abandonada”.
Durante muitos dias, foi difícil voltar à rotina de treinar com frequência com a desculpa do “amanhã começo”. Afinal, é muito mais fácil voltar a velhos maus hábitos do que a velhos bons hábitos. Parei de deixar para amanhã e falei: “vou agora”! Larguei tudo o que estava fazendo naquele momento, voltei a minha rotina e desde lá, há 10 anos, nunca mais parei. Sabe o que aconteceu? Trabalhei autoeficácia e não deixei para a famosa segunda-feira. Recomecei no mesmo dia, no final da tarde. Hoje, escrevo para vocês, trabalho, cuido de dois filhos e consigo fazer exercícios regularmente, cuidando de mim.
“Encontre sua motivação!” Será que encontramos o que não temos?
Quantas vezes ouvimos: “ache a motivação que existe dentro de você”. Mas calma! Como vou achar uma motivação que não existe? Esse é o ponto. Não encontramos o que não existe, por isso, temos que construí-la. Construa a sua motivação. Dê uma chance a um novo estilo de vida.
Eu, você, todos nós; não somos constantes, não somos capazes de controlar minuciosamente nossos dias e o nosso estado emocional. Alguns dias, acordamos dispostos a resolver tudo o que podemos, ficamos animados, treinamos, nos cuidamos e cumprimos a alimentação de forma impecável. Outros dias, acordamos naquela gravidade e fazemos o MVP (o mínimo viável possível) e só cumprimos sem saber o que, mas, no final, parece que não fizemos nada. Ainda há aqueles dias que acordamos desanimados e deixamos tudo ir por água abaixo.
Por esses motivos, temos que construir a motivação. Dessa forma, teremos estrutura e um bom alicerce para manter uma disciplina junto com a motivação e fazer com que flua como um hábito, uma rotina. Para isso, você precisa entender que nada acontece de um dia para o outro, você terá um trabalho constante –e para o resto da sua vida.
É necessário focar na sua motivação intrínseca.
A motivação intrínseca é quando realizamos algo sem nos preocupar com recompensas ou com o que os outros irão pensar. Na verdade, você faz isso porque é satisfatório e gratificante para você e por você –e não por causa de uma recompensa, prazo, incentivo ou pressão externa para fazê-lo.
Já a motivação extrínseca é um comportamento baseado em recompensas. É um tipo de condicionamento que usa recompensas ou punições para aumentar ou diminuir a probabilidade de recorrência de comportamentos específicos. A desvantagem desse tipo de motivação é estabelecer o que fazer quando a recompensa acabar ou seu valor acabar, além da dependência da recompensa. Vale lembrar que se deve avaliar quando esse tipo de motivação é necessária.
Pensando em estilo de vida e construção da sua motivação, focar na motivação intrínseca nos leva a entender que dificilmente receberemos recompensas externas por comer um agrião, certo? A motivação intrínseca foca na busca pela sua saúde física e mental, focando em necessidades biológicas (fome e sede) e necessidades psicológicas (competência, autonomia e relacionamento). E isso é duradouro, pois você sempre precisará da motivação intrínseca –diferentemente da extrínseca, que pode ter um prazo.
Recompensas extrínsecas podem minar a motivação intrínseca quando usadas em determinadas situações ou usadas com muita frequência. As recompensas podem perder seu valor ao recompensar um comportamento que já era intrinsecamente motivador.
Saiba que seu corpo vai querer te autossabotar
As derrapadas fazem parte do processo e não podemos desistir por isso. Temos momentos e momentos e precisamos entender que devemos continuar sempre. Nossa emoção sempre virará para uma padaria em busca de uma coxinha, mas nossa mente deve sempre questionar se vale a pena naquele momento.
Sempre vamos inclinar para o mais fácil, o mais cômodo, o caminho mais curto. Comemos uma coxinha escondidos, justificando, por que e de quem estamos escondendo. Assuma a sua vontade, coma, aproveite a coxinha, mas volte à sua rotina na próxima refeição, treine e não dê tudo como perdido, pois seu dia não está resumido a uma coxinha e sim em um conjunto de atitudes.
Veja algumas dicas para melhorar sua motivação
- Planeje sua rotina, sua agenda, separe suas roupas, faça um roteiro dos seus dias. Com certeza, a coxinha não estará no roteiro e você não terá a desculpa de: “poxa, não sei o que comer! Vou parar na padaria!”
- Procure locais para treinar perto da sua casa que lhe façam sentir-se bem e opte sempre por exercícios com os quais, minimamente, você se identifique.
- Treine com alguém. Uma pesquisa britânica mostrou que treinar com um amigo é eficiente para se animar na hora de se exercitar –e sem desculpas -, pois pesquisas mostram que amigos virtuais como apps e até videoconferência também funcionam.
- Use sua rede social como um diário, pois você acompanhará sua evolução.
- Trabalhe a autoeficácia confiando em você. Se você é uma pessoa sem autoeficácia, pense nos seus sucessos e em coisas boas, acredite que tudo dará certo e não deixe o treino pela metade.
- Dê pequenos passos. Estabeleça pequenas metas, como começar treinando 2 a 3 vezes por semana ou mudando uma refeição de cada vez. À medida que for atingindo e estabelecer um hábito, inclua outras metas.
- Pesquisas mostram que, quanto mais você treina, mais você pensa em não desistir do programa de exercícios. Isso porque você, com o tempo, começa a notar os resultados positivos do treinamento, como fortalecimento muscular, emagrecimento, disposição e sensação de bem-estar causados pela liberação de serotonina e prevenção de patologias.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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