Pode parecer um pouco estranho ler esse tipo de chamada. Talvez por ser um tema polêmico demais. Afinal, todo mundo já se aventurou em dar uma corridinha por aí em algum momento fitness da vida. Fora isso, é de consenso geral que há milhares de benefícios em mexer o corpo correndo, principalmente para nossa saúde cardiorrespiratória. Mas é justamente por ser algo tão popular que essa é uma dúvida super comum dos pacientes.
E atenção, trago esse tema não só como fisioterapeuta, mas também como uma pessoa que corre igual a Phoebe do seriado Friends (se não entendeu a referência, dê uma olhadinha no Google) e que tem pouca aptidão como qualquer outra pessoa. Enfim, antes de retomar o problema do joelho causado –ou não – pela corrida, vale a pena entender mais sobre essa atividade tão difundida e popular.
Correr, definitivamente, exige pouco investimento, pois você pode praticar no quarteirão da sua casa, adaptando no seu dia a dia ou até quando está de férias. É maravilhoso, pois você nem precisa agendar e, no máximo, precisa ter disponível um par de tênis para o pontapé inicial, ou eu deveria dizer, para o passinho inicial. Provavelmente por isso, a corrida lidera no ranking das atividades mais escolhidas pelos brasileiros.
O benefício da corrida começa com o combate ao sedentarismo, e a partir disso, ganha adeptos por todos os benefícios relacionados à específica prática. Os cardiologistas batem o martelo respaldados por órgãos de saúde e diretrizes, mostrando que ao menos 10 minutos de corrida podem levar a benefícios, como a redução de mortalidade e complicações por doenças cardiovasculares.
Dito isso, vamos à pergunta que não quer calar: faz mal ou não faz mal para o seu joelho?
A corrida está associada a um maior risco de lesões por uso excessivo quando comparada a outros exercícios aeróbicos como caminhada e bicicleta. Entre as complicações do corpo, em membros inferiores, o joelho se mantém como a maior queixa em corredores, seguido por tornozelo, pé e pernas.
Geralmente –e infelizmente -, as mulheres que correm são as mais acometidas por problemas nos joelhos se comparadas aos homens. Os homens corredores parecem ter mais problemas relacionados ao tornozelo e pés (por exemplo, com a canelite e fascite plantar).
Revendo artigos, metanálises que mostravam a influência da corrida no impacto da cartilagem dos joelhos observaram que, de fato, há uma redução de volume e espessura da cartilagem imediatamente após a corrida. O que realmente não parece ser bom, mas a melhor notícia, é que as alterações dos estudos apontam ser transitórias. Isto é, há alterações imediatas na morfologia e composição da cartilagem, mas tudo parece ocorrer por uma dinâmica natural dos fluidos com a movimentação e impacto. Estudos apontam que a cartilagem se recupera após a corrida, e que, a longo prazo, com a exposição a mais corridas, ela também parece ser capaz de se readaptar. Há ainda outras evidências indicando que a corrida não gera novas lesões por si só. Mas isso não significa que você tem o aval para correr loucamente sem se preparar.
Lembre-se que não somos só feitos de cartilagem e não é só sobre a cartilagem do seu joelho, e sim sobre o cuidar olhando o corpo como um todo. Até por isso, muitos corredores têm problemas ainda maiores com dores nas costas e pés.
Chamo aqui a sua atenção como uma pessoa que corre biomecanicamente mal (já disse que pareço a Phoebe, né?). Eu, por exemplo, tenho frouxidão ligamentar em todo corpo, incluindo meu joelhos, o que me leva a hiperestender os joelhos e torcer o tornozelo, correr, para mim sem preparo adequado da musculatura ou orientação profissional para a técnica da corrida, pode me expor a lesões. No meu caso, sei que possuo outras opções e para começar a correr como esporte de escolha, deveria antes de tudo, me preparar com técnica e orientação.
Se você não é como eu, nem como a Phoebe, mas ama correr, mantenha seu pace. Entenda que é preciso cuidar do corpo.
O ideal seria que todos pudessem ter assessoria em corrida, treinador, acesso a consultas médicas e fisioterapêuticas –assim como há a mesma orientação em qualquer outro esporte praticado. Mas o ideal nem sempre é acessível a todos. Meu objetivo hoje é que você se mantenha em movimento, com segurança e saúde para que tenha uma relação longa e saudável com a corrida! E que, assim, nada te faça parar (literalmente).
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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