Com o passar dos anos, acostumei-me com a dor e aprendi a lidar com os pensamentos negativos a ela associados. Nunca deixei de fazer minhas atividades diárias por causa desse problema, pois além da condição, tive que enfrentar outros acontecimentos da vida, o que fez com que eu reagisse de forma diferente à dor.
Acontece que sempre que eu sentia algum tipo de dor nas costelas (principalmente quando a dor era bem no meio do peito, irradiando para o lado esquerdo), pensava que era um problema sério, como um infarto. Sofri um grande “sequestro emocional”, eu diria, e comecei a ter crises de ansiedade, desenvolvendo o que se chama de síndrome do pânico.
Antes, pensava: “Bem, estou com dor, mas, ficarei tranquila, é a minha costela”, e seguia o dia normalmente. Mas a dor passou a gerar um sentimento impulsivo e totalmente desesperador. Foi assim que eu comecei a ter ansiedade e taquicardia, seguida de pensamentos como “estou tendo um infarto” e “parece que meu coração vai parar”.
Nesse período, foi uma situação tão difícil que a ansiedade gerada foi aumentando intensivamente. Era como uma bomba-relógio, que estourou com as crises. Eu não conseguia mais sair de casa devido a síndrome de pânico, nem trabalhar e tão pouco treinar.
Então, chegou uma hora em que pensei: “Calma, vou respirar e entender o que está acontecendo”. E nada como entender, de fato, os seus problemas e lidar com eles de forma mais racional e leve. Por muito tempo tentei deixar de lado os problemas, mas isso não é a melhor solução, pois o sentimento fica ali, escondidinho, ele continua existindo e uma hora dá as caras novamente.
Foi então que eu resolvi enfrentá-lo: parar, entender e estabelecer uma nova rotina. E quando digo rotina é mesmo uma rotina real, regrada, assumindo compromissos e momentos de tédio em que posso estar comigo mesma e refletir.
Como funcionou para mim, resolvi escrever este texto, pois pode ajudar outras pessoas a lidar com a ansiedade. Mas o IMPORTANTE é: o que funcionou para mim pode não funcionar para você e, dependendo da situação da sua saúde mental, é essencial buscar uma rede de apoio profissional, com psiquiatras e psicólogos.
Passo 1 – Entender o que está acontecendo:
Esse é o ponto principal de todo o processo, pois nada como contextualizar e racionalizar uma emoção tão forte. O livro “Não Acredite em Tudo Que Você Sente: Identifique seus Esquemas Emocionais e Liberte-se da Ansiedade e da Depressão”, de Robert L. Leah, auxilia por meio de explicações e exercícios como enfrentar os sinais e sintomas.
O que temos que entender é que não precisamos nos sentir bem o tempo todo, mas precisamos conseguir sentir tudo. Além disso, emoções não são o mesmo que agir sobre elas, ou ações, ou escolhas morais. Nós, humanos, temos uma grande capacidade de sentir, pois atribuímos significado a muitas coisas.
Em uma crise por exemplo, precisamos trazer para a consciência sentimentos impulsivos, isto é:
- Entender a sensação: onde sinto isso no meu corpo? (Exemplo: estou ansioso e meu coração acelerou);
- Qual a crença ou significado que atribuo a isso (o coração acelerado pode me infartar);
- O que ele desencadeia (estou em perigo, estou com medo);
- Qual o comportamento que tenho (fico desesperada, triste etc.);
- Quais as tendências interpessoais e como reajo (reclamo, choro, só quero dormir).
Pois entender todo esse processo ajuda a raciocinar, pois precisamos validar os sentimentos e entender que eles são reais. O livro me ajudou, por meio de exercícios (mostro alguns abaixo), a passar por cada momento e enfrentá-los com sabedoria.
Estratégias que me ajudaram a lidar com a ansiedade
TÉCNICAS RESPIRATÓRIAS
Cada vez que sinto que a ansiedade está prestes a chegar — qualquer pessoa que sofre de ataques graves de ansiedade sabe quando isso vai acontecer — paro o que estou fazendo e começo a usar técnicas de respiração que me ajudam a relaxar.
Uma vez, estava com uma crise muito forte e meu marido colocou um vídeo de meditação, com músicas suaves. Isso me tranquilizou tanto que, naquele momento, fui ver a quantidade de pessoas que também estavam ali para controlar a ansiedade e percebi que não estava sozinha. Assim, em vez de maximizar aquele sentimento, eu consegui normalizar e entender que aquelas pessoas que estavam ali também estavam precisando daquela música, daquele momento para se acalmarem.
Imagine só uma pessoa extremamente ansiosa em um ciclo inacabável de crise de ansiedade parar tudo o que estava fazendo e respirar? Foi difícil, eu confesso, mas aos poucos, com muita disciplina, fui colocando as técnicas respiratórias guiadas — aplicativos como o Meditopia — no meu dia a dia para me acostumar.
Esses aplicativos me ajudaram a controlar os meus pensamentos e também a fazer uma pausa para trazer à consciência o que eu estava sentindo e, por fim, consegui me acalmar e entender tudo aquilo.
A KUNDALINI YOGA
Pratico exercícios físicos desde criança e sempre me fizeram muito bem. Mas eu queria mais, era algo não só de corpo, mas de mente, espírito, alma. Foi assim que encontrei o Kundalini Yoga, uma prática milenar que combina técnicas de respiração (pranayama), movimentos, mantras, posturas físicas (asanas), relaxamento, concentração e meditação.
Conhecida como yoga da consciência, a prática conecta e desperta as particularidades do ser, levando a um alinhamento e maior consciência corporal, emocional, mental e espiritual; atuando sobre todos os elementos do corpo, com ênfase no sistema nervoso, endócrino, circulatório e linfático, para a manutenção da saúde do corpo, além de trabalhar toda estrutura energética dos chakras, nadis e meridianos.
De acordo com a professora Aurora Castellotti, psicóloga e instrutora de yoga, essa prática pode aumentar a resistência e a vitalidade física, além de trazer um estado mental de maior calma e um equilíbrio para as emoções, além do aumento de confiança em seu próprio ‘Ser’ que eleva a um sentimento maior de autoconfiança seguida de uma conexão mais harmônica nos nossos relacionamentos.
A prática regular da Kundalini Yoga ajusta o sistema glandular e fortalece o sistema nervoso, nos tornando aptos a respostas mais éticas, criativas e eficazes aos desafios cotidianos, situações de estresse, que nos são apresentados em nosso dia a dia. Isso também permite que consideremos os nossos hábitos, dando-nos consciência sobre seus impactos em nossas vidas e a liberdade para agirmos diferente, promovendo um alinhamento entre o aspecto físico, mental e espiritual.
As posturas de yoga, conhecidas como asanas, ajudam a aliviar o desconforto físico. E, mais do que isso, a yoga não só ajuda a aliviar as dores do corpo físico, como também pode ajudar nos pensamentos negativos e preocupações frequentes, comuns para aqueles que enfrentam a ansiedade.
AULAS DE BIKE
Outra coisa que trouxe benefícios foi a prática de aulas de bike no estúdio Velocity. Nelas, aprendi a focar mais em mim, entender até onde meus batimentos cardíacos podem chegar de forma saudável, controlar minhas diversas sensações e ter um sentimento absurdo de “uau, eu consegui! Me superei!”.
Segundo a diretora técnica da Velocity, Ana Paula Simões, “o conceito das aulas é olhar para o indivíduo de maneira mais ampla e ajudá-lo a desenvolver consciência corporal e atenção plena, orientando-o a estar presente ali durante a atividade. Queremos que, naqueles 45 minutos de aula, o aluno esteja presente — a nossa ideia é fazer com pratique o mindfullness ali.
Ela também explica que, a música durante a aula, é a principal ferramenta no processo de imersão. As oscilações estratégicas elaboradas geram diferentes emoções e respostas no aluno, resultando em um grande alívio no fim de cada aula.
Na Velocity, eles ressaltam que o objetivo principal está em como os professores programam as aulas, como são os incentivos e as boas ideias na cabeça de todos os alunos, para que eles sigam com energia boa para começar ou finalizar o dia de trabalho.
Os segmentos de aula em que há o direcionamento específico para meditações ativas com a bike, é que o aluno explore cada vez mais a si mesmo por meio de técnicas respiratórias e consciência corporal, introspecção através dos estímulos gerados pela condução do professor e músicas sugeridas.
Há também aulas em que o estímulo físico, a excitação, o trabalho de força e a programação mental para as superações e conquistas são extremamente estimulados. Com isso em mente, questões como ansiedade e gerenciamento de estresse são trabalhadas, já que o objetivo da aula é manter os alunos no presente — por meio de estímulos prazerosos e introspectivos. O resultado disso tudo é alívio e bem-estar através do movimento.”
ÓCIO
Destinei 30 minutos do meu dia para o ócio. Assim precisei parar. Reforço sempre que, na minha infância, nos maiores momentos de tédio e silêncio surgiam as melhores risadas e as melhores brincadeiras. Ficar sem fazer nada é uma pausa desse tanto de informações que nos bombardeiam dia após dia. É uma pausa desse algoritmo direcionado que sempre sabe o que você precisa, que sempre enfia mais e mais informações, mais compras, mais pessoas, mais, mais e sempre mais.
Temos que entender que, de vez em quando, precisar de menos é uma necessidade. Então, pare e deixe sua cabeça também ter um descanso. Pode ter certeza que fará toda a diferença na sua vida.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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