Estresse mode on
Os dias mais puxados merecem atenção redobrada com a duplinha: cabeça e ombros! Geralmente são áreas que podem nos indicar os primeiros sinais de cansaço e tensão quando, muitas vezes, nem mesmo nós conscientemente estamos sob pressão.
Aliás, pense no conceito de uma pessoa “cabeça quente” —vem da ideia de que acumula carga mental e “estoura” fácil.
Vale lembrar que somos seres integrados e uma via do corpo sinalizando tensão para o cérebro pode responder com mais estresse e um corpo ainda mais rígido. Compreender como nossa mente e corpo se conectam, conhecer o conceito de “rápido & devagar” —do cérebro reptiliano, racional, neocórtex, etc —você já deve ter ouvido sobre alguns desses. Mas se for sua primeira vez, sugiro explorar o tema com Daniel Kahneman, entre outros, que apresentam conceitos da neurociência de forma didático-comportamental, e não apenas relacionados à biologia — o que se torna ainda mais interessante.
Para onde você acha que projeta a tensão quando fica “nervosinho”?
Ou ainda, para onde vai a sua força quando se sente pressionado ou estressado? Muitos dirão que nunca haviam parado para pensar ou observar essas reações tão “naturais” e fisiológicas do próprio corpo ao estresse.
Corta para uma cena que tive esses últimos dias imersos numa semana chamada de “adaptação” da criança na escola. Para quem não se familiariza com esse universo, é um período que ficamos de prontidão e stand by. Estávamos na nossa (minha e da pequena) primeira adaptação observando a movimentação e a fofurice das crianças.
Em um determinado momento entre o vai e vem de pais, um pequeno chegou agarradinho à mãe com uma certa tensão no olhar. Um mix de medo, ansiedade e tensão da separação da mãe. Ele a abraçou firmemente, mãozinhas fechadas e uma certa rigidez no corpinho, como se estivesse de prontidão para reagir expressando sua vontade de permanecer um grudinho.
Pouco a pouco, com toques de carinho e palavras de acolhimento, logo vi a tensão se transformar em relaxamento. Uma sensação boa de se sentir em segurança interpretada pela forma que seu corpinho se descomprimiu, mãos se abriram e pouco a pouco soltou da mãe —sem lágrimas, gritos ou maiores reações da criança —vulgo – tentativas de chutes ou tapas no ar.
Aquela energia da tensão havia se dissipado e todo foco havia sido redirecionado para um lugar seguro do brincar, e logo o vi saltitando e liberando toda aquela tensão pré-acumulada sob a forma de pega-pega no escorrega.
Nesse momento, lembrei de um livro de neurociência aplicada ao desenvolvimento, que sugere justamente que em momentos de tensão ou “birra” —o movimento é excelente ferramenta para ajudar o cérebro reptiliano a sair do “modo reação automática”.
E cá entre nós, o que somos nós, adultos, senão grandes crianças um pouco mal resolvidas?! Fica fácil relacionar essas reações com o que vemos na vida adulta: àquele cara que briga e se exalta too much no trânsito, à reatividade exacerbada de uma cliente insatisfeita, por aí vai e se estende a todas áreas da vida. É fisiológico, um momento de estresse, sobe a adrenalina, cortisol nas alturas, o corpo tensiona e entra no modo automático: hipervigilante e reativo, e nem sempre com reações proporcionais.
Não raramente, vemos pessoas explodindo com gestos e movimentos violentos —quebrar coisas, socar paredes. E, convenhamos, em algum momento, todos já se sentiram tomados por emoções e agindo de forma automática ou descontrolada —aquele momento “vergonha alheia”.
Modo operandi do probleminha
Gatilhos podem nos levar ao mesmo estado. Como seres lutando pela sobrevivência, protegemos uma região vital do nosso corpo —a jugular, pescoço e os braços que se “armam” para lutar.
Quanto ao corpo, de forma crônica, o estresse torna os músculos naturalmente tensos e prontos para a “luta”. Quando atendo alguém com um padrão de nuca tensa/dura, geralmente apelido carinhosamente de “portal do inferno”. Remetendo à tensão que não permite o fluir ao restante do corpo. Quem fica muito no mental, geralmente “congela e trava” o restante do corpo, acumulando a tensão.
Pelo yoga, há a interpretação de que interrompemos o fluxo das Nadis e assim é com a medicina tradicional chinesa também —Bloqueios de energia. Pela medicina ocidental, há a resposta de contração pelo excesso de cortisol, reagimos em luta e fuga, e formamos diversos pontos de tensão muscular que bloqueiam sinapses.
Que tal começar a soltar esse pescoço tenso?
Quebrar esse ciclo automático de reação e aliviar a tensão do corpo, soltando as contraturas, movimentando ou simplesmente redirecionando sua atenção e energia para o movimento na hora do estresse, pode mudar completamente a forma que seu cérebro responde!
A partir de agora, quando estiver em um momento de tensão durante a reunião, ou a um triz de soltar uma resposta mal criada que (com certeza) vá se arrepender… redirecione a tensão e se movimente! Vamos começar agora com opções simples para fazer aí sentado na mesa do escritório:
Inclinação lateral —o mais simples para facilitar seu dia. Inspire parado e exalando leve. Orelha direita em direção ao ombro direito, mas force a mão direita em direção ao solo. Repita 2x e faça o mesmo do lado esquerdo.
Rotação de ombros —rode os ombros tanto para frente quanto para trás. Você pode fazer até se sentir com o ombro mais relaxado.
Abertura e fechamento de escápula —nesse exercício, a ideia é focar em afastar e juntar as suas escápulas. Inspire toda vez que abrir o peito e exale todo ar, afastando as escápulas. Deixei em vídeo para facilitar visualizar o movimento:
Pausas são essenciais para que o movimento possa existir! Redirecionar a energia acumulada fisicamente antes de reagir pode melhorar não só sua saúde mas salvar relações pessoais e de trabalho. Na próxima matéria da nossa coluna trarei mais formas de te ajudar a gerenciar o estresse no escritório com mais ergonomia, exercícios específicos para melhorar dores e desconfortos, e até opções de mudanças e técnicas de respiração do yoga.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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