Todos sabemos que a chegada de um bebê gera um turbilhão de emoções em todos os envolvidos, principalmente nas mães que acabaram de dar à luz, mas a depressão pós-parto parece ainda algo muito distante para a maioria das pessoas. Está relacionada ao maior risco de interrupção da amamentação, conflitos familiares e negligência com relação às necessidades físicas e psicológicas da criança.
A depressão pós-parto pode afetar negativamente a relação entre mãe e filho, com danos ao desenvolvimento psicomotor e da linguagem das crianças, que trarão consequências sociais e de aprendizado que podem perdurar até a vida adulta.
Estudos mostram que a depressão pós-parto, que pode ocorrer até 6 meses após o nascimento, acomete aproximadamente 15% das mulheres, e seu maior problema é o fato de que é pouco diagnosticada. As noites mal dormidas e a dedicação exaustiva ao recém nascido nos primeiros meses fazem com que mães e familiares próximos não percebam os sinais de uma depressão se instalando. Além disso, a grande queda hormonal após o parto faz com que as mulheres tenham uma maior oscilação emocional, que é esperada, mas que ajuda a confundir ainda mais, retardando ou impedindo o diagnóstico.
Mas como a depressão pós-parto acontece?
Logo após o parto, ocorre a retirada da placenta, que produzia enormes quantidades de estrogênio e progesterona. Durante a gestação, a quantidade de progesterona produzida chega a ser 20 vezes maior, e a de estradiol aumenta de 200 a 300 vezes mais do que era produzido antes da gravidez, e essa queda ocorre de forma abrupta com a saída da placenta.
Outros hormônios também sofrem oscilações relevantes com a retirada da placenta, como o cortisol, a serotonina e os hormônios da tireoide. A privação do sono e cansaço fazem parte desse processo também.
Claro que essas oscilações acontecem com todas as mulheres que dão à luz, mas existem alguns fatores de risco e uma predisposição genética para a depressão pós-parto.
Os fatores de risco que devem ser sinais de alerta para familiares e profissionais de saúde envolvidos nos cuidados de gestantes e puérperas são: histórico de depressão ou ansiedade antes do parto, estresse constante no cuidado com o recém nascido, suporte social e familiar inadequados, ter passado por cesárea de emergência, conflitos conjugais, ter passado por eventos traumáticos durante a gravidez ou logo após o parto e idade materna precoce. Mulheres mais jovens com gravidez indesejada devem ter um atenção especial do ponto de vista psicológico, pois apresentam risco maior do que mulheres mais maduras.
Muitos dos sintomas presentes na depressão pós-parto são comuns a qualquer mulher nessa fase, como alterações no padrão do sono, mudanças no apetite, cansaço excessivo e oscilações de humor, o que torna o diagnóstico mais difícil. Por isso utilizamos questionários padronizados como forma de rastreamento, que ajudam a identificar com maior precisão possíveis casos de depressão pós-parto, que deverão ter uma avaliação e acompanhamento com médico psiquiatra.
O questionário mais recomendado por sociedades médicas para essa finalidade é a Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo, que é simples e pode ser utilizada por qualquer profissional de saúde.
Outro fato que também impede o acompanhamento adequado dessas mulheres é o preconceito que existe na sociedade com relação a doenças psiquiátricas. Muitas pessoas ainda veem essas questões como fraqueza ou algo passageiro, ainda mais em um momento de tantas mudanças como esse. Existe também o medo em relação ao tratamento, principalmente por parte de mães que amamentam, por acreditarem que as medicações, que por vezes são necessárias, podem passar pelo leite e causar danos aos seus bebês.
Um acompanhamento pré-natal adequado e um bom suporte familiar podem fazer toda a diferença, diminuindo as chances e ajudando no diagnóstico precoce de uma possível depressão pós-parto. A busca por informações ou ajuda pode partir das pessoas que convivem mais de perto com essa mãe, ao notarem mudanças no humor ou alguns dos sinais descritos aqui.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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