A revolução digital já deixou a sua marca em muitos setores, e o campo da medicina não é exceção. Entre os avanços mais impressionantes estão os robôs que auxiliam nos procedimentos cirúrgicos (ou cirurgia robótica), uma tecnologia que está redefinindo os limites do que é possível em um ambiente cirúrgico. Com a promessa de maior precisão, menor invasão e resultados melhores para os pacientes, a cirurgia robótica é um desenvolvimento empolgante, mas que ainda gera muitas perguntas.
Para esclarecer essas questões, entrevistei o Dr. Daniel Maia, uma autoridade em cirurgia robótica. Ele me ofereceu uma visão privilegiada sobre como essa tecnologia funciona, como ela difere dos métodos cirúrgicos tradicionais, os benefícios e possíveis riscos para os pacientes, assim como a direção em que essa inovação pode estar se encaminhando.
Entrevista sobre robôs no centro cirúrgico
Fabrício Machado (FM): Poderia começar explicando o que é a cirurgia robótica e como ela funciona?
Daniel Maia (DM): A cirurgia robótica nada mais é do que a utilização de um robô conduzido pelo médico cirurgião com a intenção de minimizar tremores, movimentos bruscos e, com isso, deixar a cirurgia mais segura e precisa.
FM: Como a cirurgia robótica difere das cirurgias tradicionais?
DM: A plataforma robótica utiliza basicamente dois equipamentos. Um é o local onde o cirurgião opera, semelhante a um videogame, em que ele usa um joystick (controle) para manejar os braços que ficam na outra parte do robô. Essa outra parte que fica acoplada ao paciente são os braços introduzidos por meio de pequenas incisões e onde vão as pinças do cirurgião, para realizar a cirurgia.
FM: Como a cirurgia robótica melhora a precisão e a segurança em comparação às técnicas cirúrgicas convencionais?
DM: A cirurgia robótica tem como principal função diminuir os excessos de movimentos, manobras desnecessárias e até minimizar tremores e possíveis erros cometidos pelos cirurgiões. Uma outra vantagem é a visualização que o cirurgião tem de dentro da cavidade abdominal, uma visão tridimensional em altíssima definição com extrema precisão.
FM: Quais são os principais benefícios da cirurgia robótica para os pacientes?
DM: Os benefícios da cirurgia robótica são diversos, principalmente no que diz respeito a redução das complicações, a diminuição do tempo de internação e de recuperação, melhores resultados estéticos e uma maior segurança, visto que todos os cirurgiões que usam a plataforma robótica têm que passar por uma certificação e, com isso, uma padronização de todo o treinamento.
FM: Existem riscos ou desvantagens em optar pela cirurgia robótica?
DM: Posso dizer que riscos maiores não existem do que os procedimentos convencionais. Existem sim, procedimentos que são mais beneficiados pela plataforma robótica. A principal desvantagem seria o custo, visto que os planos de saúde suplementares não cobrem esta tecnologia.
FM: Em quais tipos de cirurgias ou condições médicas a cirurgia robótica é mais utilizada?
DM: Os pacientes que possuem doenças relacionadas à próstata, doenças do pulmão e mediastino, trato gastrointestinal, cirurgias bariátricas, portadores de câncer – principalmente da região pélvica – são os que mais se beneficiam da cirurgia robótica
FM: Como você prevê o futuro da cirurgia robótica? Quais são as possíveis evoluções dessa tecnologia?
DM: O que nós temos visto com relação ao futuro são plataformas com conjuntos de equipamentos menores, que não ocupam tanto espaço no centro cirúrgico, aparelhos que podem ser transportados de uma sala cirúrgica para outra e com menos tecnologia embarcada, de manuseio mais fácil e com mais acessibilidade, além de terem facilidade de serem transportados, quem sabe, para regiões mais remotas.
FM: Como é o treinamento para se tornar um cirurgião robótico? É diferente do treinamento para cirurgias convencionais?
DM: O cirurgião, para se tornar habilitado para cirurgia robótica, deve fazer um treinamento que consiste operar em modelos virtuais de computador , treinamento em modelos sintéticos, como bonecos, treinamento teórico e por fim, ele faz um certo número de cirurgias reais acompanhado de cirurgiões que já se habilitaram e se tornaram tutores desse tipo de treinamento.
FM: A cirurgia robótica é acessível a todos os pacientes ou existem limitações devido ao custo ou à disponibilidade de equipamentos?
DM: Não, a cirurgia robótica ainda não está disponível a toda população. Existe uma restrição por conta de custos. Os planos de saúde não contemplam esse tipo de tecnologia e além disso, existe um problema de logística, porque precisa de uma estrutura mínima para instalação desse tipo de robô.
FM: Como os avanços na inteligência artificial estão impactando a cirurgia robótica?
DM: A inteligência artificial só vem melhorar a tecnologia da cirurgia robótica. Já existem plataformas de robô utilizando a inteligência artificial para melhorar o desempenho dos cirurgiões, então isso é só o início de um futuro brilhante.
Para acessar meu curso sobre inovação, gestão e finanças em saúde, é só clicar aqui!
*Colaboração Dr. Daniel Eichemberg Fernandes e Maia, Sócio Proprietário do Instituto Vitale – Clinico e Cirúrgico. Médico Cirurgião da Rede D’Or São Luiz – Especialista em Cirurgia Minimamente Invasiva. (CRM 107990/SP)
**O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
***Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
Veja Também
Radiação em exames de imagem: tudo o que você precisa saber
Dor e alívio: a importância da radiologia intervencionista no tratamento do câncer
Inteligência artificial e inovação: aliadas no combate à doença renal crônica
Diabetes, hipertensão e alguns medicamentos: saiba o que pode causar a doença renal crônica
Desvendando o lipedema: estratégias para lidar com a doença