A resposta para essa pergunta é: depende. Em algumas situações específicas, uma avaliação com um ginecologista pode ser necessária até mesmo na infância, mas, na grande maioria dos casos, a dúvida surge mesmo a partir da primeira menstruação.

O termo correto que define a primeira menstruação é a menarca, e o esperado é que ela ocorra entre 9 e 14 anos de idade. A menstruação pode ocorrer antes ou depois desse período, e isso por si só, já justifica o acompanhamento com um especialista.

É esperado que as primeiras menstruações sejam meio bagunçadas, podendo vir acompanhadas de cólicas, fluxos mais intensos e ciclos irregulares. Isso se deve a uma imaturidade de todo o funcionamento hormonal necessário para a ovulação e a menstruação. É aceitável que esses ciclos irregulares durem até um ano após a primeira menstruação, portanto, a partir disso seria indicado um acompanhamento com um ginecologista, caso os ciclos continuem irregulares.

Cólicas menstruais também podem levar à busca por uma consulta ginecológica, e já falei bastante delas em um texto aqui.

Outro motivo frequente de primeiras consultas seria a busca por orientação e indicação de um método contraceptivo, que deve ocorrer preferencialmente antes do início da vida sexual por parte da adolescente. Num cenário ideal, essas orientações iniciais normalmente partem de algum familiar próximo, e, nesses casos, o papel do médico seria sanar dúvidas, orientar riscos e consequências, e ajudar na escolha de um método contraceptivo mais adequado para a situação. 

A educação sexual deveria começar em casa, mas por motivos diversos isso nem sempre é possível ou feito de maneira adequada.

Agora, independente da idade do início da vida sexual e de como foram as orientações até aqui, a partir desse momento se torna necessária pelo menos uma consulta anual com um ginecologista. 

Pelo Ministério da Saúde, a partir dos 25 anos ou em algumas situações especiais, pode ser necessária a coleta do exame preventivo para o câncer de colo de útero, a colpocitologia oncótica, conhecido popularmente com o nome de exame de Papanicolau.

O exame recebe esse nome em homenagem ao grego Georges Papanicolaou, que o desenvolveu no início do século passado. O exame consiste na coleta e análise das células do fundo da vagina e do colo do útero. Essa avaliação permite identificar alterações nessas células causadas pelo vírus HPV, que é sexualmente transmissível, antes de evoluírem para um câncer. Ou seja, o câncer de colo uterino, que tem relação direta com o vírus do HPV, sexualmente transmissível, pode ser prevenido com a coleta de um simples exame realizado em consultório.

Na minha prática clínica, por ter duas especialidades, Ginecologia e Medicina do Esporte, acabo atendendo tanto homens quanto mulheres, e o que percebo é que normalmente mulheres costumam ser muito mais cuidadosas com a saúde, muito provavelmente por terem se habituado a isso desde cedo, seja por necessidade ou orientação familiar.

Independente do motivo ou de quando se iniciou o acompanhamento ginecológico, o importante é torná-lo algo menos desagradável e assustador, e essa tarefa cabe a médicos e familiares. Costumo sugerir que a partir de uma certa idade, quando possível, que a adolescente acompanhe a mãe em algumas consultas, para ir se habituando ao ambiente e ao que é feito na consulta, afinal, boa parte da ansiedade em relação a isso vem do medo do que é desconhecido.

O mesmo pode ser feito com o exame ginecológico propriamente dito, quando não for extremamente necessário, não realizá-lo na primeira consulta. Explicar o que será feito numa próxima visita, orientar os motivos pelos quais cada exame é necessário, e até mostrar os aparelhos que serão utilizados. 

Importante lembrarmos que o início do acompanhamento ginecológico, que por si só já poderia gerar incerteza e ansiedade, costuma acontecer na adolescência, fase de grandes mudanças e desafios para meninas e suas famílias, sendo assim, tudo que fizermos para tentar suavizar esse processo pode diminuir a chance de traumas e contribuir para uma vida feliz e mais saudável, do ponto de vista físico, emocional, sexual e social.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.