Já falei muito sobre o papel do exercício físico orientado para a gestante, também já abordei sobre os benefícios fisiológicos para o binômio mãe-bebê. Mas a realidade é que, muitas mães, seja por falta de tempo ou de apoio, acabam não conseguindo se movimentar o quanto ou como gostariam, o que pode ser um grande desafio para o puerpério e até para um maternar mais saudável. 

Aqui na minha rotina, minha maior experiência é com atendimento fisioterapêutico em saúde da mulher —seja no pilates gestante ou na fisioterapia pélvica no acompanhamento de gestantes e puérperas —além, é claro, da experiência individual com minha própria vivência em ser gestante e mãe. 

Mas é essencial ampliar a visão e poder falar com profissionais que considero essenciais no quesito movimento do corpo, os companheiros de todo fisioterapeuta, os profissionais de educação física.

E para esse conteúdo, convidei uma profissional formada pela UFRGS com especialização nos métodos GDS de cadeias musculares e coordenação motora, ênfase em abordagens integrativas do corpo e idealizadora do grupo de apoio AMI (Acolhimento Materno Integrativo), Rafaela de Macedo, para continuarmos o bate-papo sobre o tema com base em toda sua bagagem e vivências pessoal e profissional. 

A profissional de educação física acredita que uma das chaves está em ampliar a rede de apoio, formando grupos de conversas e movimentos entre mães, pois ela considera que o pós-parto pode ser uma fase extremamente solitária. O “simples”, conversar com outras mães que vivenciam ou já passaram pelos desafios de cuidar de um bebê contribui para aliviar as tensões físicas. Mas a grande sacada é associar esse momento de encontro de mulheres aos movimentos individuais que o corpo necessita, ampliando todos seus benefícios.

E, claro, em casos em que os encontros não sejam possíveis, é preciso encontrar um momento no seu dia para parar, respirar e escutar o próprio corpo, tornando essa fase um pouco mais leve e diminuindo também a sobrecarga física e emocional.

 

Acredite! Os benefícios do movimento se estendem no pós-parto

O movimento traz diversos benefícios na gestação, mas também no pós-parto. E não podemos nos esquecer que os benefícios não se restringem ao físico mas ao emocional da mulher. Rafaela reforça que no puerpério, o corpo se reorganiza para ser aconchego do recém-nascido. É natural a mãe adotar posturas que antes não eram tão frequentes e que, em conjunto com toda a fadiga emocional, geram desconfortos e dores. Por isso, ela fala sobre o quanto se movimentar e ter momentos de cuidado consigo, pela sua experiência profissional e principalmente por sua vivência pessoal, é essencial! —em especial para o alívio de dores e tensões geradas ou acumuladas, e pela sensação de plenitude em estar se cuidando ou se permitindo ser cuidada, o que pode ser tão negligenciado na rotina. 

 

Vivemos em uma sociedade que está muito mais conectada com o fazer do que com o sentir. Mas o maternar é muito sobre sentir” 

 

Apesar da formação acadêmica mais tradicional, ao longo das formações a profissional de educação física agregou conhecimentos e distintas visões do movimento do corpo humano, sendo sua gestação fonte de grande aprendizado sobre o maternar. Hoje, ela acredita que os benefícios em qualquer movimento devem se relacionar à criação da consciência corporal e da escuta de cada corpo. “Se a mãe tem uma boa consciência corporal, os movimentos fluidos e instintivos estarão mais presentes”, relata a especialista. 

 

Existe um exercício ideal no pós-parto?

Assim como não existe um corpo ideal, não existe um exercício ideal para todo corpo nem para todas as almas. O ideal é fazer atividades que acolham a mãe de forma integral (corpo e mente conectados), com movimentos que respeitem o momento que o corpo dela está passando, aliviando as tensões de forma suave e respeitosa.

Não há uma modalidade mais indicada no puerpério. Algumas podem querer fazer atividades em grupo com mais mulheres, outras podem buscar por atividades individuais pois ficam mais introspectivas e precisam de tempo para se reconectarem consigo mesmas. Lembre-se que não há regra, e não há certo ou errado —vale se escutar e perceber quais suas necessidades.

A dica mais importante sobre escolher a atividade física nessa fase, segundo Rafaela, é não ter pressa. Vemos muitas mulheres focadas  em emagrecer, ou em “voltar” ao corpo de antes, ou ainda no desespero em ter resultados estéticos. Mas ela enfatiza que vale priorizar movimentos de consciência corporal que reorganizem o corpo para que você possa realizar os movimentos de forma mais coordenada, evitando lesões, desgastes articulares e ajudando a aliviar a sobrecarga desta fase. Se possível, sempre realize atividades direcionadas e acompanhadas por bons profissionais de educação física.

 

Colaboração: Rafaela de Macedo

CREF 130795-G/SP

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.