Muitas vezes não percebemos o quanto o sono é um processo involuntário e complexo de múltiplos fatores que influenciam a nossa capacidade de dormir bem. Desta forma, vamos explorar os principais processos fisiológicos que regulam o sono e como podemos utilizar esse conhecimento para melhorar a nossa qualidade de vida.

 

Os dois principais processos do sono 

O sono é regulado por dois processos fundamentais: o processo homeostático e o processo circadiano. Esses processos trabalham juntos para determinar quando dormimos e a qualidade do nosso sono. Além desses dois, um terceiro processo muito importante é capaz de se sobrepor aos dois, o sistema de alerta.

 

O processo homeostático (Processo S)

O processo homeostático, também conhecido como “drive do sono”, refere-se à pressão crescente para dormir que acumulamos durante o período em que estamos acordados. Quanto mais tempo ficamos acordados, maior a pressão para dormir. Esse processo pode ser entendido como uma necessidade fisiológica de sono que é “esvaziada” durante a noite ou com cochilos durante o dia.

Por exemplo, se passamos um dia muito ativo, a pressão para dormir se acumula mais rapidamente. Da mesma forma, a exposição ao Sol durante o dia pode acelerar esse acúmulo. Por outro lado, em um dia pouco ativo, essa pressão se acumula mais lentamente. É por isso que, se acordarmos muito tarde, teremos dificuldade para dormir no horário habitual à noite: não há tempo hábil para acumular essa tão necessária pressão para o sono.

 

O processo circadiano

O processo circadiano se refere ao ritmo de aproximadamente 24 horas do nosso corpo, influenciado pelo ciclo de claro e escuro do ambiente. É esse processo que nos faz sentir sono à noite e nos mantém acordados durante o dia. Para a maioria das pessoas, o pico de sonolência ocorre entre 3h00 e 5h00 da manhã.

Este processo é oposto ao homeostático. Enquanto o drive do sono nos empurra para dormir, o ritmo circadiano nos ajuda a permanecer acordados durante o dia. Uma rotina regular, incluindo horários consistentes para dormir e acordar, bem como para as refeições, ajuda a manter o ritmo circadiano sincronizado com o ciclo natural de luz e escuridão.

 

O sistema de alerta

Além dos processos homeostático e circadiano, o sistema de alerta do nosso corpo pode se sobrepor a eles. Este sistema nos permite responder a ameaças ou situações de perigo, mantendo-nos alertas mesmo com alta pressão para dormir. No entanto, na vida moderna, esse sistema frequentemente é ativado de maneira desproporcional devido ao estresse, contribuindo para problemas de sono como a insônia e transtornos de ansiedade.

 

A influência da temperatura corporal nos processos fisiológicos do sono

O ritmo circadiano também está relacionado às variações fisiológicas da temperatura do nosso corpo. Geralmente, estamos mais alertas e ativos quando nossa temperatura está mais alta, o que ocorre ao final da manhã e no início da noite. À medida que a temperatura cai, sentimos mais sonolência, atingindo o ponto mais baixo por volta das 3h da madrugada.

Além da temperatura, outros fenômenos do nosso organismo variam com o ritmo circadiano, como a produção de urina, fluxo sanguíneo cerebral, pressão arterial e a liberação de hormônios como o cortisol. Alterar o ritmo circadiano é difícil, o que é evidente quando viajamos para diferentes fusos horários e experimentamos o jet lag.

 

A importância da melatonina

A melatonina, conhecida como o “hormônio da escuridão”, desempenha um papel crucial na regulação do sono. Produzida pela glândula pineal durante a noite, a melatonina induz a sonolência. A exposição à luz, especialmente à noite, pode suprimir a produção de melatonina, dificultando o sono.

Para ajudar nosso relógio biológico a funcionar corretamente, é essencial manter uma rotina regular de sono e vigília, bem como minimizar a exposição à luz antes de dormir. O uso de telas à noite, por exemplo, pode enganar nosso cérebro, fazendo-o pensar que ainda é dia, o que prejudica a produção de melatonina e a indução do sono.

 

Benefícios da consistência

Manter horários consistentes para dormir e acordar tem impactos significativos na qualidade do sono. Mudanças frequentes no horário de sono/vigília podem ser comparadas a viagens constantes através de fusos horários, causando uma espécie de jet lag crônico.

A regularidade nas atividades diárias, como horários de refeições, trabalho e exercícios, também contribui para o bom funcionamento do relógio biológico. A luz da manhã é especialmente importante para acertar nosso relógio biológico, reforçando a necessidade de exposição à luz natural logo ao acordar.

Outra regularidade muito importante, e infelizmente raramente mencionada, é a necessidade de respeitar nosso lugar de dormir: usar a nossa cama somente para o sono, e não para atividades como leitura, TV / séries / vídeos, trabalho, redes sociais. Se a nossa cama servir somente para dormir, nosso organismo já saberá o que fazer quando deitarmos nela: induzir o sono!

Entender os processos que regulam o sono é fundamental para adotar hábitos que promovam uma boa qualidade de descanso. Manter uma rotina regular, minimizar a exposição à luz à noite e garantir um ambiente propício ao sono são passos essenciais para sincronizar nosso relógio biológico e melhorar nossa saúde geral. Afinal, um sono de qualidade é a base para uma vida saudável e produtiva! Se você ficou curioso para entender melhor essa questão da função da cama, fique ligado nas minhas próximas colunas aqui na Isto É Bem-estar para entender como a insônia acontece.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.