01/01/2024 - 6:00
Estamos aprendendo cada vez mais sobre a importância da microbiota intestinal e suas ligações com diversas doenças. De fato, cuidar do intestino é mais importante do que imaginávamos. Ainda, tudo o que comemos não é apenas alimento para o nosso corpo, mas também alimento para a nossa microbiota, o que tem impacto na nossa saúde.
No entanto, o consumidor é bombardeado com produtos e alegações sobre suplementos e alimentos probióticos. Por isso é importante ter cautela, visto que não dominamos sobre os benefícios dos probióticos em todas as áreas da saúde. Em algumas áreas, onde há alguma evidência, as conclusões podem ser muito específicas ao contexto em que foram utilizadas. Além das promessas imprecisas, ou pelo menos prematuras, existem algumas alegações, possivelmente benéficas, que são exageradas.
A definição de probióticos é “organismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas podem conferir benefícios à saúde do hospedeiro”. Esta definição foi criada em 2001 pelas Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Na prática, porém, o termo probióticos é usado muito mais amplamente e há muitos produtos probióticos nesse mercado que não atendem aos requisitos.
As bactérias, com alegação de propriedades probióticas, podem ser encontradas em vários alimentos, como iogurtes ou em suplementos nutricionais vendidos em diversas formas (cápsulas, pós, comprimidos). Dentro destes suplementos, pode haver uma ou mais cepas de bactérias. As mais comuns e mais estudadas são as espécies de bactérias Lactobacillus e Bifido. É geralmente aceito que essas bactérias provavelmente proporcionam alguns benefícios à saúde, incluindo a normalização da microbiota intestinal, a regulação do trânsito intestinal e a produção de ácidos graxos de cadeia curta (que contribuem para a nossa saúde geral).
Os efeitos probióticos são frequentemente específicos de espécies e cepas e a dose é importante. Se os estudos demonstraram um efeito com uma determinada dose, isso não significa que veremos um efeito semelhante com uma dose diferente. Uma única cepa pode ter vários benefícios, mas nenhuma cepa terá todos os benefícios. Além disso, se combinarmos cepas, elas poderão afetar a ação umas das outras. As reivindicações, portanto, devem ser muito específicas para as cepas e combinações de cepas. Foi até demonstrado que suplementos de diferentes fabricantes, que segundo o rótulo eram idênticos, tinham efeitos muito diferentes na microbiota intestinal. Para tornar tudo ainda mais complexo, é possível que o mesmo suplemento probiótico tenha efeitos diferentes em pessoas com diferentes composições da microbiota. Ou seja, fica tudo bem complexo.
Além disso, precisamos ter cautela com a resistência aos antibióticos, visto que é uma das maiores ameaças à saúde global atualmente. As bactérias contra as quais precisamos de proteção estão a tornar-se resistentes aos antibióticos e um número crescente de infecções está ficando mais difícil de tratar. Infecções como pneumonia, tuberculose e salmonela são mais difíceis de tratar porque as bactérias responsáveis por estas infecções estão mais resistentes aos nossos tratamentos com antibióticos.
Um grupo de pesquisadores alertou que os suplementos probióticos podem acelerar esse processo. Há um conjunto significativo de evidências que demonstram a resistência aos antibióticos das bactérias probióticas dos alimentos e suplementos. Tem sido argumentado que os suplementos dietéticos contendo concentrações tão elevadas de probióticos representam uma excelente condição para a propagação dos chamados “determinantes resistentes”. O termo “determinantes resistentes” é um termo genérico que inclui genes resistentes e mutações que dão às bactérias a capacidade de resistir aos efeitos dos medicamentos.
Por isso, o cuidado com a microbiota intestinal é importante, mas precisamos de cautela no momento de consumir suplementos com probióticos. Alguns efeitos positivos foram observados, mas devemos estar cientes de que também pode haver efeitos negativos desses suplementos. O que está claro é que uma dieta equilibrada com muitos alimentos integrais é um importante modulador da função gastrointestinal e da microbiota intestinal.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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