Recentemente andaram surgindo postagens supostamente falsas em redes sociais, sobre o uso abusivo de pílulas do dia seguinte e suas consequências. Em uma delas, uma jovem de 20 anos relata ter sofrido um AVC (acidente vascular cerebral) após ter utilizado 72 pílulas do dia seguinte num período de 3 meses, segundo ela por orientação do seu namorado. Independente da veracidade dos fatos, o que realmente assusta nessa história, são os inúmeros comentários que surgem em tais postagens, mostrando uma enorme quantidade de mulheres com o hábito de utilizar tal método rotineiramente.

Pílula do dia seguinte, na verdade, é uma forma do que chamamos contracepção de emergência, portanto não são métodos seguros e eficazes para o uso frequente, devendo ser usados apenas em situações especiais como quando o preservativo se rompe durante a relação, em casos de abuso sexual, em algumas situações de esquecimento ou uso incorreto dos contraceptivos orais, entre outros.

Mas afinal, por que a contracepção de emergência não pode ser recomendada como método de rotina na prevenção de uma gravidez indesejada? 

Um dos principais motivos é que o método não previne a contaminação por ISTs, e soma-se a isso o fato de ser mais escolhido por pessoas em relacionamentos não estáveis. Não é um método tão eficaz quanto outros, e sua eficácia pode variar conforme o período do ciclo que a mulher se encontra, além de que, quanto mais distante da relação ele for utilizado, menor será a chance de funcionar. O limite máximo em que ela faz efeito é de até 72 horas após a relação.

Por ser uma dose de hormônio muito mais alta do que encontramos nas pílulas convencionais, é muito comum causar alterações menstruais, como sangramentos irregulares ou atrasos. Outros sintomas descritos após seu uso são: enjoos, vômitos, dores de cabeça, inchaço, oscilações de humor, entre outros. Existem até mesmo casos descritos de gravidez nas tubas uterinas após seu uso, também chamado de gravidez ectópica.

Quanto ao uso prolongado e seus efeitos, como o possível AVC do relato que viralizou, não temos estudos suficientes para determinar se podem mesmo acontecer ou não, pois até então o método não é indicado para o uso de rotina. 

 

E como age a pílula do dia seguinte no corpo da mulher?

A ação do hormônio ingerido pode variar muito conforme a fase do ciclo menstrual que ele é usado. Se for um pouco antes da ovulação, ele pode ser capaz de atrasá-la ou impedi-la. Atua no muco que fica no colo uterino, tornando a passagem dos espermatozoides mais difícil. Torna o endométrio, camada que reveste internamente o útero e recebe o embrião, mais fino e menos favorável à implantação do embrião. Altera o sentido do batimento das fímbrias, que são estruturas que conduzem o óvulo ou embrião pelas tubas até a cavidade uterina, dificultando assim a fecundação.

Existe a discussão a respeito do controle da venda de tais contraceptivos, que são vendidos livremente sem a necessidade de receita médica. Pode ser uma ferramenta útil justamente em casos de emergência, para mulheres que não tenham acesso a métodos ou às devidas orientações a respeito, principalmente adolescentes, mas como já disse, não é ideal como método rotineiro.

O acompanhamento com um ginecologista pode e deve ser feito desde antes do início da vida sexual das mulheres que, mesmo antes da maioridade, é permitido sem o acompanhamento dos responsáveis. Só a educação sexual e em saúde vai diminuir a incidência de gravidez não planejada ou de efeitos indesejados com o uso de medicamentos, independentemente da idade. 

Um ambiente familiar propício a conversas e orientações sobre sexualidade e métodos de evitar gravidez pode ser muito favorável para jovens que estão iniciando a vida sexual, e nos casos em que isso não for possível, a busca por aconselhamento médico também pode diminuir as chances de gravidez indesejada ou outras consequências para a vida e a saúde delas.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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