Há muito tempo que estudos mostram que o excesso de gordura corporal pode causar danos em diferentes partes do nosso corpo, incluindo o cérebro. Uma pesquisa descobriu que pessoas obesas com uma relação cintura-quadril elevada tinham um volume cerebral ligeiramente menor em comparação com pessoas que tinham um índice de massa corporal normal. Sendo assim, a pesquisa demonstrou que essa gordura estava ligada a uma retração cerebral.
Um outro estudo analisou imagens cerebrais e relacionou que níveis mais altos de composição de gordura corporal estão relacionados a quantidades reduzidas de massa cinzenta –uma área do cérebro que contém células nervosas. Esse achado era mais evidente em homens do que mulheres.
Além disso, já está evidenciado que a obesidade e o excesso de gordura corporal podem afetar o cérebro em vários aspectos, como:
- Redução da saciedade. A elevação de composição corporal de gordura pode levar à redução do processo de saciedade, ou seja, podemos desenvolver o processo compulsivo, principalmente por conta de problemas associados à sinalização central de leptina e grelina, além do rompimento da barreira hematoencefálica. Para você ter uma ideia, um estudo que avaliou o cérebro de mulheres que ingeriam milkshake com frequência apontou que quanto mais peso elas ganhavam, menos o cérebro respondia ao milkshake, ficando evidente que havia um processo de “resistência” à saciedade.
- Aumento da compulsão. Existe uma região cerebral chamada córtex órbito frontal, que é uma região responsável pelo impulso. Em crianças obesas, essa região parece estar mais encolhida em comparação com crianças saudáveis. E, quanto menor essa região cerebral, maior a probabilidade de os adolescentes comerem compulsivamente. A obesidade é conhecida por causar alterações no sistema imunológico, aumentando a inflamação no corpo. Esse aumento da inflamação pode afetar o cérebro e levar a um ciclo vicioso, em que a obesidade gera uma inflamação que danifica certas partes do cérebro, o que leva a uma alimentação mais desequilibrada.
- Risco de demência. O aumento de gordura corporal leva à inflamação, causando impacto cerebral, principalmente de gordura visceral, que pode ser ainda mais impactante na demência.
- Compulsão alimentar por reação ao estresse. A dieta restritiva e o efeito iô-iô podem mudar a maneira como o cérebro reage ao estresse, de modo que, quando estamos cansados, por exemplo, podemos criar o comportamento de comer mais. Em um estudo divulgado na Neuroscience, um grupo de ratos fez uma dieta para perder de 10% a 15% do seu peso corporal. Em seguida, os ratos podiam ingerir alimentos normalmente, até voltar ao peso que tinham, semelhante ao efeito sanfona. Quando os ratos foram expostos a situações estressantes, como ouvir sons à noite, eles comiam mais comida do que aqueles que nunca haviam sido colocados em uma dieta restritiva. Assim, os ratos também tinham mudanças na maneira como os genes são expressados, particularmente em genes envolvidos na regulação das respostas ao estresse. Os pesquisadores concluíram que essas modificações podem ter alterado o comportamento alimentar dos animais durante o estresse.
- Perda de memória em mulheres após a menopausa. Os hormônios liberados pela gordura podem causar inflamação e afetar a cognição. Um estudo analisou testes de memória de 8.745 mulheres com idade entre 65 e 79 anos. Os pesquisadores descobriram que um aumento de 1 ponto no índice de massa corporal (IMC) de uma mulher estava associado à redução de 100 pontos no teste de memória.
Envelhecimento cerebral e o excesso de gordura corporal
Não é de surpreender que a mudança do padrão alimentar e a inclusão de exercícios físicos na rotina do dia a dia sejam capazes de melhorar todo o cenário. Dessa forma, mudar sua alimentação para uma dieta rica em vegetais e pobre em alimentos processados e ultraprocessados pode beneficiar a sua idade biológica cerebral.
De acordo com um estudo deste ano (2023) realizado com 102 participantes que realizaram exames cerebrais antes do início do estudo e novamente após 18 meses —juntamente com uma bateria de testes de função hepática, níveis de colesterol e peso corporal — concluiu que uma dieta mediterrânea rica em vegetais, frutos do mar e grãos integrais (ou mesmo seguir um padrão alimentar mais saudável), pode retardar os sinais de envelhecimento cerebral acelerado com uma redução de apenas 1% do peso corporal, que são comumente observados na obesidade.
Para a pesquisa, realizaram exames cerebrais após 18 meses da inclusão de um novo estilo de vida e nova dieta, mostrando que a idade cerebral dos participantes parecia quase nove meses mais jovem do que o esperado —isso em comparação com estimativas da idade cronológica do cérebro.
Os grupos seguiram uma de três dietas: uma dieta mediterrânea com muitas nozes, peixe e frango em vez de carne vermelha; uma dieta mediterrânea com alguns extras, como chá verde pelos polifenóis; ou uma dieta baseada em diretrizes alimentares saudáveis.
O estudo mostra que a idade biológica do seu corpo é muito mais do que um sentimento, sendo que sinais de envelhecimento biológico podem ser encontrados pontilhados ao longo do seu DNA, gravados nas extremidades dos seus cromossomos ou, como este estudo sugere, nas conexões afrouxadas do seu cérebro.
Embora um número crescente de pesquisas sugira que o envelhecimento biológico causado por eventos estressantes pode ser reversível, este estudo mostrou que melhorar a dieta pode ser uma das opções mais simples para melhorar a condição corporal, independentemente da idade.
Em média, as pessoas que participaram do estudo perderam cerca de 2,3 quilos. Para cada 1% de peso corporal perdido após seguir uma dieta definida ou orientações de saúde, os cérebros dos participantes pareciam quase nove meses mais jovens do que a sua idade cronológica.
Se as mudanças na conectividade cerebral realmente se traduzem em melhorias na função cerebral, ainda é uma grande incógnita. O cérebro é uma rede complexa de conexões flexíveis que estamos apenas começando a mapear, embora uma revisão recente sugira que a dieta mediterrânea tem um efeito positivo na memória das pessoas mais velhas.
Os sinais de envelhecimento cerebral retardado também foram associados a níveis mais baixos de gordura no fígado e a um perfil lipídico melhorado, mas, novamente, estas alterações podem ser superficiais ou de curta duração.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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