No dia da obesidade, já passamos de 1 bilhão de pessoas acometidas pela obesidade no mundo e muitos ainda querem “normalizar” um padrão que pode e deve ser prevenido. 

Como profissional da saúde, tenho o dever de falar sobre o tema, já que chegamos ao ponto de que: a obesidade é uma epidemia e um problema de saúde pública.

Os estudos mostram que havia cerca de 226 milhões de adultos, adolescentes e crianças obesas no mundo em 1990 e esse número subiu para 1.038 bilhão em 2022 —o que aconteceu mais cedo do que prevíamos que seria em 2030!

No Brasil, em 2022, 9% dessa população tinha índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30 kg/cm², o que configura obesidade. Já em 2023, esse percentual subiu para 17,1%. Atualmente, mais da metade da população brasileira (56,8%) está com excesso de peso, uma soma de pessoas com sobrepeso e obesidade.

Quanto mais o tempo passa, mais pessoas são acometidas com a obesidade. Desde 1990, este número quase quadruplicou. Estamos falando de 4% de pessoas passando fome e 20% de pessoas acima do peso. A “epidemia” da obesidade atinge especialmente os países mais pobres e a taxa cresce entre crianças e adolescentes mais rapidamente do que entre adultos. A curva que antes tendia para a falta, hoje está no excesso: mas por que não pregarmos o equilíbrio? 

  • 1975 — a desnutrição atingia 8.2% da população e a obesidade 2.5%
  • 1989 — a obesidade aumentou para 7.3% e a desnutrição caiu para 8.9%
  • 1997 — a desnutrição caiu para 5.3% e a obesidade se aproximou dos 13%

 

Gastos com obesidade e economia com estilo de vida saudável 

Para vocês terem uma ideia, um estudo encomendado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e realizado pela Orizon mostrou que o custo da obesidade grave e mórbida no sistema de saúde suplementar do Brasil representa, por beneficiário, R$ 2.750 por mês, o que somado ao ano resulta em R$ 33 mil.

Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), mostrou que o valor gasto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2019 para o cuidado do excesso de peso e da obesidade foi de R$ 1,5 bilhão. O número representa 22% do gasto anual direto com doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) no Brasil. 

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCDM) alerta: quem está acima do peso gasta, pelo menos, 15% do salário no tratamento de doenças. O número chega a 30% entre os obesos mórbidos —detalhe: este dado é de 2008, imagine como estamos agora! 

Mas daí você fala, se cuidar é caro? Não! Não se prevenir e ficar doente é caro! 

Estudo confirma que o incentivo ao consumo de alimentos saudáveis pode garantir maior economia dos governos nos gastos em saúde. 

A pesquisa trabalhou com dois diferentes cenários: na primeira situação, o incentivo subsidiava 30% do gasto das pessoas com frutas e verduras. Já no segundo quadro, o benefício também incluía cereais integrais, óleos vegetais e oleaginosas, como nozes e castanhas.

Enquanto a primeira situação resultou na prevenção potencial de cerca de 1,9 milhão de casos de doença cardiovascular e de 350 mil mortes, o segundo caso trouxe resultados ainda mais positivos: mais de 3,2 milhões de infartos e derrames poderiam ser evitados, além de 120 mil diagnósticos de diabetes e 620 mil mortes ao longo da vida da população beneficiada.

Os pesquisadores concluíram que ambas as situações apresentaram um bom custo-benefício, mas com destaque para o segundo cenário que geraria uma economia de US$ 100 bilhões, sendo 2,5 vezes maior que os gastos poupados com o incentivo apenas de frutas e verduras.

Um outro estudo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mostrou que a cada um real investido em prevenção, há uma economia de dois reais para os planos de saúde e sistema de saúde (dados de 2015, sendo que com certeza esses números são ainda maiores).

 

Mas o que é a obesidade? 

A obesidade é um problema de longo prazo, sendo uma patologia crônica, que pode ser prevenida, que não tem cura, porém tem controle. 

É uma doença crônico-degenerativa, inflamatória e multifatorial que favorece o balanço energético positivo, na qual a reserva natural de gordura –central e periférica — aumenta até o ponto que se associa a certos problemas de saúde ou aumento da taxa de mortalidade.

A obesidade gera um estado inflamatório subclínico. Quando o tecido adiposo tem um crescimento anormal, leva a um aumento da expressão de citocinas pró-inflamatórias, de PAI-1, leptina (levando a resistência a ação da mesma e a hiperleptinemia) e redução de adiponectina.

É uma doença crônica e complexa, acompanhada por um maior risco de morte por doenças cardíacas, diabetes e certos tipos de cânceres. Durante a pandemia do coronavírus, o excesso de peso aumentou o risco de morte.

Dentre tantos fatores, podem afetar padrões epigenéticos…

O epigenoma é o conjunto de modificações químicas que ocorrem no próprio gene e na cromatina. O código epigenético dá instruções ao genoma de quando e onde os genes devem ser expressos. 

Por isso, a alimentação da gestante afeta padrões epigenéticos, como a transcrição ou o silenciamento estabelecido precocemente e mantidos durante a vida. Essas marcas epigenéticas no útero podem aumentar a suscetibilidade a doenças no bebê quando adulto, como obesidade, intolerância à glicose, diabetes tipo II e doenças relacionadas a essa condição como aterosclerose e problemas cardiovasculares.

Por esse motivo, pais obesos têm mais probabilidade de terem filhos obesos. A pesquisadora reforça que “a obesidade pode ser considerada uma doença transgeracional, ou seja, pode ser transmitida de geração para geração. Dessa forma, mães e pais obesos apresentam maior probabilidade de gerar filhos que desenvolvam obesidade e doenças associadas à obesidade ao longo da vida. Esse cenário torna-se ainda mais preocupante ao observarmos o aumento crescente na incidência da obesidade no Brasil e no mundo em todos os grupos populacionais, inclusive entre homens e mulheres em idade reprodutiva.”

Nossa alimentação, nosso estilo de vida e a adiposidade — excesso de gordura corporal — pode influenciar na expressão genética dos bebês. Antes que debatam temas ideológicos, reforço que não são as mulheres só e somente influenciadores desse processo. Os homens são responsáveis por cerca de 50% dessa programação. Então, os pais devem estar saudáveis para que as novas gerações estejam cada vez melhores.

 

E o que temos que fazer? 

Por isso, não devemos fazer do nosso “normal” uma população com obesidade e doente, pois podemos prevenir, tratar e evitar que gerações sejam acometidas pela obesidade e pelas patologias associadas. Além de estratégias governamentais e incentivar que os profissionais falem, sem medo, cada vez mais sobre o assunto; algumas dicas são importantes.

  • Reconhecer que você precisa mudar alguns hábitos diários já é um ótimo começo. Agora, para de fato mudar, é fundamental estabelecer metas e ter determinação. Nessa etapa inicial, não seja muito rigoroso nem busque objetivos impossíveis de atingir. Ninguém emagrece 10 kg em uma semana nem consegue um bumbum durinho de um dia para o outro. A definição de metas semanais ou até mesmo diárias reais é o melhor estímulo para você se manter animado e não desistir facilmente –como em todas as outras vezes.
  • Priorize a proteína. Aumente a variedade de alimentos proteicos e selecione opções magras, como peixe, nozes e frango. Lembre-se que a quantidade exata de proteína que você precisa dependerá da sua idade, nível de atividade e se você tiver algum problema de saúde. Dietas ricas em proteínas aumentam saciedade, reduzem a ingestão calórica diária geral e auxiliam na redução de gordura, além de prevenirem reduções na massa magra (músculo) e manterem uma taxa metabólica eficiente, apesar de promover a perda de peso.
  • Inclua fibras na sua alimentação. Alimentos ricos em fibras, incluindo grãos integrais, frutas e vegetais, são essenciais em qualquer dieta, principalmente naquelas destinadas à perda de peso, pois auxiliam na saciedade. A ingestão adequada de fibras é de 25 gramas por dia para mulheres e 38 gramas por dia para homens.
  • Evite alimentos processados, ultraprocessados e foque na alimentação in natura. Sabemos o que temos que fazer. O mais importante é ter força de vontade para seguir.
  • Durma bem. Muitas vezes, é difícil ter um sono de qualidade devido ao estresse, insônia ou tempo limitado. No entanto, é importante notar que os hábitos de sono são extremamente importantes para uma perda de peso bem sucedida. Um estudo realizado em pessoas com apneia do sono que estavam em um programa de perda de peso mostrou que pessoas com apneia menos grave tiveram maior sucesso na perda de peso do que aqueles com problemas mais graves. Outros estudos mostraram benefícios semelhantes da saúde do sono na perda de peso –o CDC (Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) recomenda pelo menos 7 horas de sono ininterrupto por noite. Foque em reduzir o tempo de tela antes de dormir, eliminar o consumo de cafeína à tarde e à noite e praticar atividade física regular.
  • Encontre maneiras de reduzir o estresse. O estresse pode ser uma das maiores razões pelas quais você não consegue perder peso. Um estudo descobriu que a implementação de um programa de gerenciamento de estresse em indivíduos obesos levou a reduções significativas em seus níveis de percepção de estresse e depressão, bem como na adoção de hábitos alimentares mais saudáveis. Outro estudo mostrou que aqueles sob alto estresse eram menos propensos a perder peso.
  • Incorpore treinamentos de força na rotina. A atividade física é uma ótima maneira de promover a perda de gordura corporal e tanto os exercícios aeróbicos quanto os de levantamento de peso queimam calorias e contribuem para uma rotina de perda de peso equilibrada. Pesquisas sugerem que incorporar 2 a 3 dias de treinamento de resistência na rotina produz a mesma quantidade de perda de peso que o treinamento aeróbico sozinho, mas que o treinamento de resistência melhora a composição corporal, reduzindo a gordura corporal e aumentando a massa muscular. Encontre sua motivação para treinar!
  • Confie e acredite que você conseguirá. Isso se chama autoeficácia (determinação), sendo que algumas pessoas têm de sobra e outras não têm nenhum pouco. Se você é uma pessoa sem autoeficácia, pense nos seus sucessos e em coisas boas, acredite que tudo dará certo e não deixe o treino pela metade.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

WHO. One in eight people are now living with obesity. Disponível em: https://www.who.int/news/item/01-03-2024-one-in-eight-people-are-now-living-with-obesity
Agência Brasil. Beneficiário obeso custa R$ 33 mil por ano para a saúde suplementar. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-06/beneficiario-obeso-custa-r-33-mil-por-ano-para-saude-suplementar#:~:text=ouvir%3A,resulta%20em%20R%24%2033%20mil.
Painel da Obesidade. Obesidade e sobrepeso geram gasto de R$ 1,5 bilhão no SUS. Disponível em: https://painelobesidade.com.br/gastos-com-obesidade-e-sobrepeso-no-sus/
ABESO. Obesos Gastam 15% do Salário em Tratamentos. Disponível em: https://abeso.org.br/obesos-gastam-15-do-salario-em-tratamentos/
IDEC. Incentivo à alimentação saudável gera economia em saúde, diz estudo. Disponível em: https://idec.org.br/noticia/incentivo-alimentacao-saudavel-gera-economia-em-saude-diz-estudo
Machado, PP. Obesidade: o excesso de gordura gera um processo inflamatório, desencadeando diversas doenças. Disponível em: https://bemestar.istoe.com.br/obesidade-o-excesso-de-gordura-gera-um-processo-inflamatorio-desencadeando-diversas-doencas/
Machado, PP. Descubra os motivos pelos quais você não deve romantizar a obesidade. Disponível em: https://bemestar.istoe.com.br/descubra-os-motivos-pelos-quais-voce-nao-deve-romantizar-a-obesidade/
Machado, PP. Descubra como encontrar motivação para treinar todos os dias. Disponível em: https://bemestar.istoe.com.br/sem-animo-para-treinar-como-encontrar-motivacao-para-se-exercitar/