Se eu te perguntasse em qual posição permanecem a maior parte do seu dia, com certeza, a maioria responderia que fica sentado e, cientificamente, esses dados corroboram com as respostas. Estudos apontam que o ser humano permanece sentado mais de um terço de sua vida.

Além do ambiente de trabalho, o lazer e o estilo de vida também favorecem o fatídico “permanecer sentado por longos períodos”. Para se ter ideia do impacto do sentar no corpo humano, nessa posição há o aumento da pressão entre os discos da coluna em até 35%. Imagine essa rotina de estar sentado, ao longo dos anos? O corpo sofre ao ficar muito tempo na mesma posição. 

Quando se está sentado, os músculos que passam pelo nosso quadril, como o iliopsoas, ficam encurtados. Há estudos que mostram que a falta de flexibilidade é compensada pela instabilidade da coluna lombar e diminuição da mobilidade no quadril. Tanto o encurtamento quanto a instabilidade levam a um efeito em cascata, sobrecarregando outros músculos e articulações do corpo. Enfim, as dores surgem e não à toa, pois, ao permanecer na posição, o corpo sofre desequilíbrios –sobrecargas erradas nas articulações e encurtamentos -, compensações que interferem na integridade das regiões até mais distantes do seu corpo.

Associado ao sedentarismo, esse hábito de permanecer sentado cria um combo perfeito para as dores do corpo. Imagine uma estrutura sem fundação que tenta constantemente encontrar um eixo e ponto de equilíbrio, uma verdadeira “Torre de Pisa” se moldando pelo corpo. Sem a estabilidade necessária, há o aumento de contraturas musculares e pontos de gatilho miofasciais, os populares e superdoloridos “nós” nas costas. Provavelmente você os possui e, apesar de não conhecê-los, eles podem te acompanhar diariamente sem que você se dê conta que estão envolvidos em muitas das dores que sente.

Esses pontos musculares tensos e rígidos do corpo podem ser causa de dores e fraqueza muscular em até 85% das pessoas com disfunções. Além disso, a pouca mobilidade de articulações associada ao mau uso de musculatura do core compromete o alinhamento de toda estrutura do corpo. 

Vamos falar dos principais problemas que recebo aqui na rotina em consultório:

  • Dor nas costas. A dor nas costas deve ser encarada com a seriedade de um problema de saúde pública, sendo a região lombar a que leva muita gente a procurar tratamento. Mas para além da famosa lombalgia, a região do bumbum também sofre os efeitos dessa posição –pode surgir localizada no osso do cóccix que fica bem no final da coluna, ou um pouco acima dele, ou ser localizada entre os isquios em uma região espalhada (difusa) por todo o bumbum.
  • Dor na lombar. Há quem aposte em medicações, antiinflamatórios e relaxantes musculares, mas saiba que as diretrizes não respaldam seu uso para tratamento. E hoje, apontam que o melhor caminho é a prática de atividade física. Há uma gama de exercícios em que você pode investir nesses casos, como alongamento, treinamento de força e exercícios de controle motor. O que sempre oriento é: procure um profissional de saúde para prescrição adequada dos exercícios.
  • Dor no bumbum. O que se observa nos casos de dores no bumbum (em especial, quando não associado a um episódio de trauma e queda), é que, geralmente, está relacionado ou à inatividade física ou a permanência na posição sentado por longos períodos –como quando se está pedalando. O importante é que se observem esses sintomas e em caso de desconforto,  se procure por atendimento médico para investigar a causa das dores.

O que pode ser feito para evitar isso se minha rotina exige que eu fique sentado?

Postura sentada errada
Postura que costumamos ficar no trabalho que gera desconforto e dores. Colocamos o peso do corpo no sacro, com o desalinhamento de toda parte superior da coluna. Reprodução. (Crédito:Reprodução )
Postura sentada alinhada
Postura sentada com apoio nos isquios: alinhamento e sustentação para a coluna. Você também pode optar por colocar um apoio na lombar. Reprodução. (Crédito:Reprodução)

Reforço em dizer que são poucas as pessoas que percebem ou respeitam o próprio corpo. Muita gente permanece sentado por horas a fio apesar de sentirem dores ou desconfortos. Então o ponto chave é se respeitar, fazer pausas e alternar a forma que se senta.

Vale ainda dizer que, em casos de estilo de vida sedentário, a saúde sempre paga um preço ainda mais alto. Quem é sedentário tem a musculatura enfraquecida, pouca mobilidade articular e baixa consciência do próprio corpo e, por isso, tende a sofrer ainda mais as consequências dessa postura ao longo do tempo. 

Pensando no corpo como um todo, especialistas explicam que a dor precisa ser investigada de forma individual e tratada adequadamente. Mas de forma geral, tanto para prevenção quanto tratamento, é importante que sejam feitos trabalhos de fortalecimento, em especial, de músculos que estabilizam a lombar e o quadril, além de mudanças de hábitos com a inserção de mais movimento no dia a dia.

A reeducação postural pode auxiliar no tratamento e dar mais consciência ao corpo. Lembre-se que a inatividade física se relaciona intimamente à fraqueza muscular e todas repercussões  que podem gerar dores. Se possível, faça uma atividade física com respaldo profissional, indicação clínica e prescrição adequada de exercícios.

Clique aqui e veja no meu Instagram um vídeo mostrando como sentar de forma alinhada.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

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