As dietas ricas em ácidos graxos saturados podem aumentar as concentrações plasmáticas de LDL e consequentemente, aumentar o risco de doenças cardiovasculares (DCV) em comparação com ácidos graxos poli-insaturados. A popularidade do óleo de coco disparou nos últimos anos devido a seus supostos efeitos à saúde, embora a gordura de coco contenha cerca de 90% de gordura saturada.

Os defensores do consumo de óleo de coco argumentam que a DCV é incomum entre as populações que consomem coco como alimento básico, como as populações Pukapukans e Tokelauan, que obtêm 34% e 63%, respectivamente, da ingestão diária de energia do coco. No entanto, estes resultados devem ser tratados com cautela devido à natureza observacional e ecológica do estudo. Afinal, estas populações consomem grandes quantidades de peixe e baixas quantidades de alimentos processados. Além disso, vivem em ilhas, utilizam mais a bicicleta como meio de transporte e praticam mais atividade física. Portanto, fica claro que é inapropriado afirmar que a redução das DCV se deve ao uso do coco.

Outro argumento comum a favor do consumo do óleo de coco é a sua composição por ácidos graxos de cadeia média (AGCM), que são rapidamente absorvidos pelo intestino e, portanto, poderiam desempenhar um papel mais importante como fonte de energia em comparação com gorduras de cadeia longa. No entanto, o ácido láurico, que compreende cerca de metade dos ácidos graxos totais do óleo de coco, pode não agir biologicamente como outros AGCM, não apresentando essa rapidez na absorção intestinal. 

Ainda, com o intuito de avaliar os efeitos adicionais do óleo de coco, um estudo de revisão sistemática com meta-análise foi realizado para avaliar os efeitos do consumo de óleo de coco em comparação com óleos vegetais com baixo teor de gordura saturada e gordura trans. Foram feitos 17 ensaios que demonstraram que o óleo de coco aumentou significativamente o colesterol total e colesterol LDL, mas sem alterar as concentrações de triglicerídeos. Porém, é importante ter cautela, afinal nenhum alimento de modo isolado pode ser considerado vilão ou mocinho. Assim, o consumo de óleo de coco pode ser feito, mas desde que não seja em demasia. 

Vale ressaltar também que o óleo de coco não demonstra efeito significativo na redução do peso corporal, circunferência da cintura, percentual de gordura corporal e glicemia plasmática em jejum. Além disso, o óleo de coco possui um valor calórico significativo e, portanto, se o consumo for elevado, pode promover ganho de peso e gordura corporal.

Também foi sugerido que os polifenóis no óleo de coco podem ser benéficos para melhorar a inflamação. Porém os resultados do estudo citado previamente não apoiam as alegações de benefícios do consumo de óleo de coco para o alívio da inflamação. 

Portanto, o óleo de coco não deve ser visto como um óleo saudável para a redução do risco de DCV e é justificado limitar o consumo de óleo de coco devido ao seu alto teor de gordura saturada.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

Neelakantan N, Seah JYH, van Dam RM. The Effect of Coconut Oil Consumption on Cardiovascular Risk Factors: A Systematic Review and Meta-Analysis of Clinical Trials. Circulation. 2020;141(10):803-814. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.119.043052