De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), milhões de pessoas em todo o mundo são obesas – 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças. A estimativa é que, até 2025, aproximadamente 167 milhões de pessoas – adultos e crianças – se tornarão menos saudáveis por terem excesso de peso ou obesidade e, ainda, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade.
No Brasil, de acordo com a ABESO, essa doença crônica aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006, para 20,3% em 2019. O Ministério da Saúde reforça: “a pandemia contínua de obesidade afeta a população mundial com efeitos igualmente devastadores. Seu impacto no desenvolvimento de comorbidades e, subsequentemente, seu efeito na expectativa de vida, é tão devastador quanto qualquer pandemia infecciosa.”
A obesidade é considerada uma patologia crônica (não tem cura, porém tem controle), associada a inúmeros fatores, como genéticos, emocionais, alterações hormonais, sedentarismo e com o aumento — hipertrofia e hiperplasia — de adipócitos (células de gordura). O excesso de gordura gera um aumento da liberação de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-alfa. Por esse motivo, a obesidade gera um estado inflamatório no nosso organismo.
Pessoas com obesidade têm histórias e gatilhos do porquê desencadearam a doença. Quando passam a entender o motivo, na maioria das vezes, são histórias variadas e/ou a própria genética que desencadearam esse processo.
Sabemos que não é fácil manter uma rotina extremamente regrada, mas é imprescindível para a promoção da saúde. Devemos trazer à tona questionamentos como: “quanto tempo levou para chegar ao peso atual?”, “o que desencadeou a obesidade?”, “qual a história que o corpo conta?”. Essas perguntas trazem clareza sobre quais as dificuldades que encontraremos (incluo aqui todas as pessoas que pensam em mudar o estilo de vida) ao longo do percurso, ajudando assim, a não desistirem.
E também não devemos cair em justificativas como: “estou obeso, mas sou saudável!”, pois a obesidade pode ser silenciosa e, em diversos casos, não dá indícios de todas as doenças que podem despertar no decorrer da vida.
Sendo assim, será que é necessário adoecer para mudar? Para se cuidar? Para escolher uma vida melhor e com mais saúde?
Entretanto, tenho que deixar claro que não existe fórmula mágica. Um exemplo é realizar dietas malucas, com restrições calóricas que, é claro, levará a uma perda de peso rápida inicial. Após algumas semanas, a taxa de perda de peso torna-se mais lenta e gradual. Por fim, depois de alguns meses, é comum que os dígitos na balança parem de diminuir e ocorra até um reganho de peso, muitas vezes gerando frustração em quem iniciou o processo de mudança de hábitos.
Mas por que é tão difícil manter a rotina saudável e tantas pessoas desistem?
Várias causas têm sido propostas para explicar esses padrões desfavoráveis de perda de peso. É bem reconhecido que a baixa eficácia ou ausência de sucesso em dietas de restrição calórica se deve principalmente ao fracasso da adesão à prescrição dietética, um fenômeno que pode ocorrer rapidamente no decorrer da dieta e que, geralmente, aumenta com o tempo. Em alguns casos, observa-se um abandono total dos programas de tratamento da obesidade.
Dimatteo, em 1994, já mostrava que 38% dos pacientes deixaram de seguir um tratamento agudo recomendado – como o uso de antibióticos –, 43% dos pacientes não aderiam a um tratamento crônico e 75% dos pacientes não seguiam as recomendações médicas relacionadas a mudanças de estilo de vida, como alimentação, exercícios, abandono do cigarro etc.
Em 1995, Dishman mostrou que 50% dos indivíduos que iniciam um programa de treinamento o abandonarão dentro de 3 a 6 meses. Esses números mudaram e continuam aumentando. Mas a grande pergunta que fica é: por que tantas pessoas desmotivam e abandonam a mudança de estilo de vida? O que acontece?
Quando falamos em estudos de mudança de estilo de vida – e até no meu de doutorado — é natural uma evasão de cerca de 30%. Já sabemos que ela acontece, pois o público é um público evasivo, que sempre muda de exercício, muda de dieta e sempre está em dieta. As mudanças, quando partem do paciente, sempre vêm acompanhadas de um início empolgado, querendo treinar todos dias e criando metas utópicas. Aí, no meio do processo, desandam.
O conceito de complacência, descrito por Holli e Calabrese em 1991, mostra que o comportamento alimentar – e também podemos incluir aqui a rotina de treino — coincidem com as recomendações do profissional e, dessa forma, os planos alimentares e de treinos tornam-se passivos e complacentes pelo paciente. O que isso significa? Que ele replica e não aprende. Informações básicas e práticas não são passadas. As razões daquelas recomendações não são explicadas e a alimentação saudável é supervalorizada, sendo uma linha tênue para a desistência, pois qualquer desandada pode ser um gatilho para a “fuga” desse novo estilo de vida.
A motivação é o que faz a pessoa agir ou o que estimula a pessoa a essa ação, sendo um processo que instiga um novo comportamento, fornecendo um propósito e direção, permitindo a persistência a essa mudança e conduzindo as escolhas ou preferências desse novo comportamento.
O que deve ficar claro é que as influências motivacionais de hoje podem ser diferentes das de amanhã, e o que acaba ocorrendo é que as metas de curto prazo podem preceder as de longo prazo.
Temos que entender que o imediatismo e expectativas altas com um estilo de vida novo e saudável podem frustrar. O que temos que ter é sempre o pé no chão, colocando na prática o que está no papel, pois muitas vezes saímos dos consultórios e engavetamos um planejamento alimentar.
Por isso, seja crítico com você mesmo.
- Tente detectar os pequenos erros – na maioria das vezes culpamos o pão do café da manhã e ele não é o vilão do processo.
- Comece pelo micro, não pelo macro. O macro é sempre o que você tenta fazer, o que você sabe, o planejamento que você nunca coloca em prática. O micro são os pequenos erros e esses são muito mais difíceis de mudarmos quando mudamos o macro antes. Então, comece pelos erros pequenos, pois você mudará seu estilo de vida aos poucos.
- Tente trazer para a consciência as ações que faz de forma inconsciente. Essas ações são as mais impulsivas e os principais gatilhos para o processo de desmotivação, ou seja, você tascou uma lata de leite condensado e depois se deu conta, e pensou “agora foi tudo por água abaixo”. Se sua vontade foi impulsiva, tente tirar uma foto antes, mandar para alguém, trazer para a consciência de alguma forma, rompendo essa barreira do impulso. Assim, você vai repensar se vale a pena. E se pensar que vale a pena, coma sem culpa.
- Pare de estabelecer metas inatingíveis, utópicas, que nunca atingiu. Seja realista. Coloque as metas no chão. O que fazer a mais é lucro. Pense que você sempre vai querer fugir disso tudo — e uma forma disso acontecer é após se frustrar.
- Seja positivo e esteja ao lado de pessoas que te ajudem a mudar.
- Junto com um profissional de saúde, ache as soluções para os seus problemas e não arrume mais problemas.
- Foque na motivação intrínseca, principalmente na sua saúde. Isso é o que de fato importa.
- Pense que a vida é inconstante e é normal que nada dê certo em algum dia. Em uma semana, na maioria dos dias acontecem contratempos e nada sai como planejado. Isso é normal e não é motivo algum para desistência e, sim, para organizar melhor sua rotina.
- Pense sempre nos dias como únicos e no balanço dentro de um mesmo dia, nunca jogue para o outro dia.
- Final de semana também são dias que podem e devem ser contados. Seu metabolismo não é diferente no sábado e domingo e seu coração não deixa de bater. Por isso, se você precisa treinar 3 vezes por semana e trabalha de segunda a sexta até tarde, escolha malhar em um dia da semana e no sábado e domingo.
O que vocês devem saber é que a desmotivação acontece. A recaída faz parte do processo — querer fugir também. Por isso, não dificulte. A dificuldade é um pulo para a desmotivação. Facilite. Se não quer entrar em uma academia, comece pela alimentação. Opte por estratégias que o permitam focar em uma progressão ou uma constância.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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