Temos que lembrar que a dor é sempre interpretada e compreendida pelo cérebro independente de qual ou onde seja a sua causa. A dor sempre é experienciada de forma individual e única por cada um de nós. Sabe-se que transtornos de saúde mental, como a ansiedade e a depressão, interferem na forma de sentir as dores porque afetam o corpo das mais variadas maneiras. Há sintomas que perpetuam e amplificam quadros álgicos (dolorosos de um ponto de vista físico). E sim, já falamos desse tema inclusive na nossa última matéria publicada aqui na IstoÉ Bem-estar com outro convidado da área de Psicologia que abrilhantou nosso olhar do cuidar.

O ser humano é multifacetado e dependemos de N fatores que interferem em resultados e, mais que isso, expectativas de sucesso do seu tratamento. Ainda que, na fisioterapia, usemos todos os critérios e recursos considerados padrão ouro no tratamento de um paciente, nem sempre ele evolui conforme os guidelines. E você sabe o por quê?

Pense em como o ser humano é influenciado por fatores externos e internos que ditam de forma direta na sua saúde e na percepção de bem-estar. Imagine essa situação hipotética: no decorrer de um tratamento para dor nas costas, a pessoa começa a enfrentar situações super estressantes e vivência, por exemplo, a perda de uma pessoa próxima. Isso certamente irá desestabilizá-la, ela pode simplesmente não conseguir aderir mais às orientações, estará tensa, pode sofrer com insônia e estará lidando ainda com o luto. Pode acontecer também de que simplesmente naquele momento, o paciente precisará de mais apoio e suporte multiprofissional. 

Muita gente quando é encaminhada ao profissional de psicologia durante um tratamento para dor considerado convencional, não aceita a indicação. Acredito que por ainda existir uma forte crença de que isso invalidaria a sua “dor real”. Como se uma dor psicológica ou emocional, não tivesse o mesmo “peso” de uma dor física que racionalmente tem uma  causa externa. 

 

“Ah, essa dor aí é psicológica” 

Quem nunca ouviu essa frase, não é mesmo? Independentemente da causa, a dor é real! O primeiro ponto é que nenhuma dor deve ser subjugada. A dor, mesmo sem diagnóstico físico e clínico, é capaz de influenciar todas as questões fisiológicas e principalmente funcionais da vida de uma pessoa.

É comum ainda vermos pacientes que, quando indicados a um acompanhamento psicológico, acreditam que o profissional de saúde está minimizando o que sentem como se menosprezassem a experiência e o impacto da dor em sua vida. Sendo que, na verdade, deveríamos pensar de forma oposta! E sempre, sempre complementar quando se fala em cuidado ao paciente, afinal, uma equipe trabalhando de forma conjunta no tratamento agrega e beneficia quem mais importa, que são as pessoas.

Além disso, sabemos que algumas crenças podem limitar a evolução e desfecho em diversos casos. Por exemplo, aqui na nossa rotina clínica, as mais comuns são a cinesiofobia e a catastrofização -em que os pacientes não evoluem no tratamento e se frustram porque têm medo do movimento, o que limita o início do tratamento na fisioterapia e  a adesão a uma atividade física. 

 

“A tríade: equipe – paciente – família. Nosso desafio principal é a articulação entre o atendimento às demandas da equipe e a preservação da atenção às necessidades do paciente e família.” 

 

Para abordar o tema de hoje, conversamos com a psicóloga, Dra Elen Kirchhoff Appolinario Pierro, que explica o papel desse profissional no tratamento da dor. O bate-papo foi rico e trouxe a perspectiva do psicólogo, sendo o ponto de articulação em alinhar necessidades e expectativas de todos envolvidos. 

Atribuo o sucesso de um tratamento quando os profissionais conseguem se comunicar e trabalhar juntos pelo melhor de cada paciente. Há esse papel essencial de interlocução entre equipe e paciente, garantindo que o profissional de saúde possa ter conhecimento da história de vida por trás dos sintomas daquele indivíduo, entendendo suas crenças e percepções que possam influenciar para aceitação ou adesão ao tratamento proposto.  

O psicólogo pode trazer a escuta e acolhimento contribuindo na percepção do importante ponto do próprio paciente se sentir melhor cuidado pela equipe de saúde, o que auxilia em muitos momentos de maior ansiedade e alinha as expectativas de confiança. Outro ponto importante que o profissional nos traz é o papel da motivação para que o paciente se engaje ativamente no processo do tratamento. 

 

E como isso é feito?

A não adesão ou desistência ao tratamento ainda hoje acontece de forma recorrente em pacientes, em especial, crônicos que se sentem desacreditados da medicina. A psicóloga orienta que é necessário que o paciente seja educado sobre seu caso, com maior conhecimento de seu diagnóstico e alinhando adequado com suas expectativas de resultados (e nunca idealizadas de um ponto de vista utópico) de seu tratamento, com isso há uma menor chance de remissão de sintomas.

E se engana quem pensa que há uma abordagem única para atendimento psicológico de pacientes com dores. Dra Elen esclarece que há várias linhas terapêuticas aptas a atender pacientes com dores; entre elas: Psicossomática, Gestalt terapia, Psicodrama, Hipnose, Atenção Plena (mindfulness), TCC, etc. Segundo ela: “O principal é proporcionar a escuta e entender que o paciente que se apresenta sofrendo com dor é um indivíduo que precisa ser olhado de forma integral, que possui uma história que vai além do sintoma ou do próprio adoecimento. Acredito que as diferentes abordagens se complementam e oferecem a cada paciente a possibilidade de uma terapêutica mais personalizada e individualizada”.

Que nós, como profissionais de saúde, possamos atuar lado a lado de médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, etc para que o nosso principal objetivo seja a escuta e o olhar para cuidar verdadeiramente de cada um de nossos pacientes.

 

Colaboração: ELEN KIRCHHOFF APPOLINARIO PIERRO – especialista em Psicologia Hospitalar – CRP 06/68278

@patologiadacoluna 

elenpierro@gmail.com

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.