O melasma é muito mais do que uma simples manchinha que se trata com um creminho. Estamos falando de genética, inflamação, melanócitos (células que produzem melanina) funcionando além do normal, envolvimento de ação hormonal, alterações estruturais celular e funcional nas diferentes camadas da pele; enfim, é bem complexo.

Existe toda uma bagunça hormonal e uma cascata de ações que ocorrem no nosso corpo —dentre elas, a liberação de agentes pró-inflamatórios que induzem a produção de melanina a partir da exposição aos raios ultravioletas –, isso tudo associado à um baixo potencial de recuperação, já que perdemos essa capacidade com a idade.

Mas de qual radiação estamos falando? Da exposição ao sol do dia a dia, da luz visível, da exposição durante as atividades diárias, onde os raios UVA e a luz visível são os mais incidentes, e aos quais os indivíduos são mais expostos. Por melhor que sejam os protetores, eles não protegem dessas radiações.

Além da radiação, temos ainda a influência dos hormônios no melasma, que sabemos que é uma doença que acomete mais o público feminino. O conhecemos pela sua maior incidência durante a gestação, sua relação com o uso de contraceptivos orais e também sabemos que pode piorar durante a reposição hormonal na menopausa, mas devo reforçar que o melasma não é uma doença exclusiva do público feminino.

Outro dado conhecido sobre o melasma é a influência do estresse oxidativo sobre a doença, que é uma reação natural que ocorre no nosso corpo, gerando substâncias não muito boas, que desencadeiam um processo inflamatório no nosso organismo. Para combater essa cascata inflamatória,  precisamos de vitaminas e minerais via alimentação ou via suplementação antioxidante. 

Hoje sabemos que o melasma é uma doença crônica que não é somente de causa genética, hormonal, e dependente de exposição à radiação solar. Dessa forma, a exposição a fatores como o estresse oxidativo e fatores ambientais que acabam por gerar radicais livres (a tal das substâncias não legais que citei acima), são também os responsáveis por perpetuar a mancha ou fazer com que ela piore. Os exemplos dessas substâncias são o cigarro, sedentarismo, a privação de sono, dieta rica em açúcar e poluição. Para terem uma ideia, alguns estudos mostram marcadores de estresse oxidativos aumentados em pacientes com melasma severo.

Curiosidade: você sabia que a melatonina (aquela que muita gente usa para dormir) é um antioxidante indireto? Ela estabiliza a membrana celular deixando-a mais resistente ao estresse oxidativo, e aparentemente, pacientes com melasma possuem níveis mais baixos de melatonina endógena. É por esse motivo que a melatonina em doses fisiológicas é um dos medicamentos que ajudam no tratamento do melasma.

Seguindo esse mesmo raciocínio, diversos tratamentos contra o melasma são antioxidantes como a vitamina C, a niacinamida, a cisteamina, o ácido kojico, i ácido fítico e o pycnogenol.

Agora, pasmem: você sabia que a pele do melasma é uma pele rica em fibroblastos –que é a célula que produz colágeno – velhos? E que eles se comportam secretando agentes inflamatórios e produzindo mais melanina? Ou seja, estamos falando de uma doença que vai muito além de só produzir mancha.

Existe uma alteração estrutural da pele. Por isso, tratamentos que melhoram a qualidade da pele, sua hidratação, sua densidade, sua qualidade melhoram indiretamente. Alguns estudos citam o microagulhamento como uma ótima alternativa para o melasma, por restaurar a espessura da epiderme. Assim como o laser de baixa potência,  por atacar os melanócitos sem muito calor. Portanto, há melhora do melasma sem piora da doença.

O melasma é uma doença que deve ser abordada de forma multidisciplinar, englobando medicamentos orais, medicamentos tópicos, alterando estilo de vida e mudança de hábitos. A fisiopatologia da doença ainda não é completamente conhecida, mas a cada dia vamos descobrindo um pouquinho mais –e estou aqui para atualizar vocês, leitores.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

Sarkar R, Devadasan S, Choubey V, Goswami B. Melatonin and oxidative stress in melasma - an unexplored territory; a prospective study. Int J Dermatol. 2020 May;59(5):572-575. doi: 10.1111/ijd.14827. Epub 2020 Mar 5. PMID: 32141063.