O consumo de alimentos ricos em proteínas cresce a cada dia e apesar do ajuste de proteínas ser fundamental para a saúde, o excesso pode não ser benéfico para algumas pessoas. Recentemente, um estudo recebeu atenção na mídia depois de associar uma alta ingestão de proteínas ao risco de doenças cardiovasculares (DCV).
Antes de criticar a proteína, precisamos avaliar os estudos. Previamente, foi demonstrado através de pesquisas em animais, que aminoácidos derivados de proteínas ativam vias de sinalização em células imunológicas. Os aminoácidos, em especial a leucina, ativam uma via do mTORC1, em células do sistema imunológico chamadas monócitos/macrófagos. Quando a via de sinalização mTORC1 é ativada nas células do sistema imunológico, ela pode interferir na autofagia —que é a eliminação natural do corpo de células disfuncionais ou danificadas — e por isso tem sido associada à aterosclerose e ao aumento do risco de DCV.
Já o novo estudo, foi conduzido em 23 adultos com sobrepeso ou obesidade, em duas etapas:
1) Na primeira etapa, 14 participantes consumiram uma bebida contendo 13g ou 63g de proteína
2) Na segunda etapa, 9 participantes consumiram uma refeição contendo 15% (17g) ou 22% (25g) de proteína.
Em ambas as etapas, foram colhidas amostras de sangue antes e depois da bebida ou refeição (até 3 horas depois). Como resultado, os autores concluíram que uma ingestão elevada de proteínas causa a ativação do mTORC1, inibe a regulação das células imunológicas e promove a aterosclerose. Porém, é uma conclusão ousada baseada em dados de curto prazo (menos de 3 horas), com um público limitado a pessoas com sobrepeso e obesidade, não avaliando pessoas com baixa porcentagem de gordura ou com massa muscular desenvolvida.
Os resultados deste estudo mostram um efeito agudo da ingestão de proteínas na sinalização celular em humanos, que anteriormente só foi observado em estudos com animais. Embora este estudo forneça outra peça do quebra-cabeça, ainda não há dados em humanos robustos e concretos que demonstrem que a ingestão elevada de proteínas cause efeitos adversos relacionados à DCV.
Ainda, é importante observar que existem falhas na avaliação do estudo, afinal extrapolar dados de sinalização de curto prazo para prever resultados de longo prazo é um erro. Ainda, existem vários marcadores plasmáticos envolvidos com DCV, como colesterol, triacilglicerol, glicemia, insulina, entre outros, que devem ser avaliados em conjunto para predizer a chance de aumentar um risco cardiovascular.
Conclui-se que este estudo mostra que uma maior ingestão de proteínas aumenta a sinalização de mTORC1 nas células do sistema imunológico. Mas não temos como afirmar que esta ativação irá promover a aterosclerose em humanos. Existem muitos fatores de risco para DCV, incluindo sedentarismo, obesidade, tabagismo, etilismo e idade avançada. Outro fato importante é que a proteína não deve ser consumida de maneira desenfreada e em excesso, assim como qualquer outro nutriente, o consumo deve ser ajustado de acordo com a necessidade de cada indivíduo.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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