Em um dos artigos anteriores, esse tema, dor durante a relação sexual, foi abordado superficialmente, porém, hoje trago junto com minha amiga, Dra. Giovanna Tiveron, fisioterapeuta pélvica e pós-graduada em saúde da mulher, um panorama mais específico sobre um dos diagnósticos mais comuns que as mulheres fazem em seus consultórios: o foco no vaginismo como causa da dor e da falta de desejo durante a relação sexual — tão cercado de tabus, explicações enganosas e tratamentos ineficazes.

 

O que é o vaginismo?

O vaginismo é um distúrbio sexual caracterizado por espasmos involuntários e persistentes dos músculos perineais, que ocorrem em resposta à tentativa de penetração vaginal. Esses espasmos podem ser parciais ou totais, e têm um impacto direto na capacidade da mulher de manter relações sexuais ou realizar exames ginecológicos. Os espasmos são frequentemente dolorosos e podem levar a uma série de consequências físicas e emocionais.

 

O vaginismo sempre se desenvolve com o tempo ou a mulher pode ter dor desde a primeira relação sexual?

Existem duas classificações: 

  1. Vaginismo primário. Este tipo de vaginismo é identificado quando a mulher nunca conseguiu ter uma penetração vaginal bem-sucedida desde o início de sua vida sexual. O problema está presente desde a primeira tentativa, e não se deve a experiências de penetração anteriores.
  2. Vaginismo secundário. Ocorre quando uma mulher que anteriormente conseguiu ter penetração vaginal desenvolve a condição após um evento traumático. Esses eventos podem incluir abuso sexual, cirurgia ginecológica, ou experiências negativas associadas à sexualidade.

 

Vaginismo parcial e total

  1. Vaginismo parcial. Os espasmos musculares são moderados, resultando em dificuldades significativas para a penetração e dor durante a relação sexual (dispareunia). A penetração pode ser possível, mas é frequentemente acompanhada de desconforto.
  2. Vaginismo total: A contração muscular é intensa e a vagina se contrai completamente, impedindo qualquer tentativa de penetração. Esta forma severa pode tornar impossível a realização de relações sexuais ou exames ginecológicos.

 

E quais os impactos do vaginismo na vida dessa mulher?

O vaginismo não afeta apenas a saúde sexual, isso pode ter consequências sociais, psicológicas e emocionais. A dor durante a penetração pode levar a uma aversão ao sexo, contribuindo para um ciclo de estresse e dor que pode afetar a saúde física

Mulheres com vaginismo frequentemente experimentam sentimentos de inadequação, ansiedade e depressão. A frustração com a incapacidade de ter relações sexuais satisfatórias pode levar a problemas de autoestima e relacionamentos. A dificuldade em manter relações sexuais pode afetar a vida conjugal e social da mulher, levando a uma diminuição na qualidade de vida e no bem-estar emocional.

 

Quais fatores contribuem para o aparecimento e/ou manutenção do vaginismo?  

O vaginismo pode resultar de uma combinação de fatores psicológicos, emocionais e fisiológicos como ansiedade, estresse e histórico de trauma, os quais podem desencadear ou agravar o vaginismo. Mulheres que têm medo de dor ou têm experiências sexuais negativas podem desenvolver a condição como um mecanismo de defesa.

Além disso, experiências de abuso sexual ou trauma físico podem levar ao desenvolvimento de vaginismo secundário. A resposta fisiológica a esses traumas pode incluir espasmos musculares involuntários.

Outro fator pouco conversado nas consultas, mas de suma importância, é a educação e crenças culturais, já que uma educação repressora e crenças religiosas que consideram o sexo como algo negativo podem contribuir para a formação de atitudes ansiosas e negativas em relação à sexualidade.

 

Pensando nessa doença multifatorial, quais os tratamentos fisioterápicos específicos que podem ser realizados junto da terapia sexual?

A fisioterapia pélvica é um componente crucial no tratamento do vaginismo. Ela visa melhorar a função muscular e a saúde do assoalho pélvico. Os principais métodos incluem dar poder para que a paciente aprenda a controlar os músculos do assoalho pélvico, aumentando a consciência corporal e a capacidade de relaxamento, através de técnicas que se chamam biofeedback e eletroestimulação. 

Além disso, há também técnicas como a de liberação miofascial, como digitopressão e deslizamento, que são usadas para aliviar pontos gatilhos e tensão na musculatura pélvica. 

Há também a termoterapia que, através de dilatadores térmicos, utilizam calor para promover o relaxamento e o alongamento da musculatura pélvica, ajudando a aliviar a rigidez e a dor associada ao vaginismo.

Por fim, mas não menos importante, a educação e conscientização corporal com o treinamento de relaxamento e respiração ajudam a reduzir a ansiedade, e a promover uma abordagem mais relaxada em relação à penetração.

Para vocês verem que nem toda “baixa libido” é hormonal, ela pode ser mecânica! Esse bate-papo com a Giovanna trouxe muita informação técnica, mas eu gostaria que vocês levassem dessa matéria o coração de toda e qualquer doença: ter dor não é normal! Esse gatilho deve ser investigado e tratado de forma a melhorar a qualidade de vida dessa mulher! Não deixe de procurar ajuda!

 

Em colaboração: Giovanna Martins Tiveron, graduação em fisioterapia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (2009), residência multiprofissional e mestrado em ciências de saúde na UNIFESP, além de Pós-graduação em saúde da mulher (INSPIRAR 2022)

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.