Você já percebeu que certos alimentos parecem irresistíveis? Aqueles doces e refrigerantes que, ao começarmos a consumir, sentimos vontade de comer e beber cada vez mais. Isso acontece porque alimentos ricos em açúcar ativam no nosso cérebro mecanismos parecidos com os que levam a dependências, como o vício em jogos ou redes sociais. Essa “dependência alimentar” pode ser mais comum do que imaginamos e está diretamente ligada à forma como nosso cérebro responde a certos tipos de alimentos.

 

O que acontece no cérebro?

Quando comemos algo muito doce, nosso cérebro libera imediatamente grande quantidade de uma substância chamada dopamina, que está associada à sensação de prazer. A dopamina é uma molécula que permite a comunicação entre as células do sistema nervoso e é liberada toda vez que fazemos algo que nosso corpo considera prazeroso.

O problema é quando liberamos a dopamina em grande quantidade num curto período de tempo, o que normalmente acontece quando consumimos esses alimentos muito doces (grande quantidade de açúcar refinado). Esse processo faz com que o cérebro comece a “pedir” mais desses alimentos para sentir a mesma quantidade de prazer intenso. É como se ele ficasse “mal-acostumado” com altos níveis de dopamina pedindo cada vez uma quantidade maior, em um intervalo de tempo menor. 

Se esse estímulo passa a fazer parte da rotina da pessoa, o sistema nervoso começa a ficar “resistente”, ou seja, o mesmo alimento não consegue provocar o mesmo prazer de antes. Na prática isso significa o seguinte: o efeito posterior sempre será inferior ao anterior. Esse é o ponto em que a dependência alimentar se instala de fato.

 

Consequências da dependência alimentar

O consumo excessivo desses alimentos ricos em açúcar refinado levará ainda ao aumento da chance de uma série de problemas como obesidade, diabetes tipo 2, pressão alta, câncer e doenças cardiovasculares. Além disso, a sensação de dependência alimentar pode nos fazer perder o controle sobre o que comemos, isso torna, por consequência, mais difícil adotar uma alimentação saudável.

No entanto, é importante entender que para quebrar esse ciclo de dependência não basta apenas uma questão de “força de vontade”. O cérebro, literalmente, se reconfigura através da tolerância à dopamina (efeito menor com o passar do tempo) e passa a buscar mais dessas substâncias que o fazem sentir prazer. 

Como o efeito reduz devido ao ciclo de tolerância que se iniciou, num determinado momento a pessoa passará a consumir esses alimentos doces apenas para manter um nível basal de dopamina. Ou seja, aquele prazer de antes não acontece mais e quando a pessoa tenta ficar sem o açúcar, ela pode chegar a sentir um vazio que se aproxima até mesmo da tristeza.

 

O que podemos fazer para sair desse ciclo?

Felizmente, existem maneiras práticas de combater essa dependência alimentar e a chave está em mudar os hábitos gradualmente:

Substituir alimentos processados por opções mais naturais. Alimentos ricos em proteínas, como ovos, e gorduras boas, como abacate, ajudam a equilibrar os níveis de dopamina de forma mais saudável. Essas opções nutrem o corpo sem causar o ciclo de dependência e ainda oferecem muitos nutrientes importantes para uma boa saúde geral.

 Praticar atividades físicas regularmente. O exercício físico também equilibra a  dopamina (aumento mais lento e progressivo) no cérebro proporcionando sensações de bem-estar sem dar um estímulo agudo com elevação abrupta da dopamina no sistema nervoso. Dessa forma, a prática regular de exercícios é uma excelente maneira de reduzir o desejo por alimentos não saudáveis.

Dormir bem e manter uma rotina de sono. Dormir adequadamente ajuda a regular os neurotransmissores no cérebro (inclusive a dopamina), por isso ter uma rotina de horário para dormir e acordar é tão importante como ter um bom número de horas por noite (em torno de 8h).

Manejar o estresse. Muitas vezes, buscamos conforto na comida como uma forma de aliviar o stress. Encontrar outras maneiras de relaxar como meditação, hobbies, contato com as pessoas que amamos ou atividades ao ar livre ajudam a controlar essa vontade de comer alimentos ricos em açúcar refinado.

 

Quebrando o ciclo

O mais importante é lembrar que combater a dependência alimentar é um processo gradual. A mudança de hábitos deve ser feita aos poucos, com pequenas trocas no dia a dia e um foco no bem-estar a longo prazo. Ao reprogramar o cérebro para buscar dopamina em atividades saudáveis, e não apenas na comida, é possível diminuir a dependência desses alimentos.

E, claro, tudo bem se de vez em quando você quiser comer um doce. O segredo está no equilíbrio. Quanto mais consciência tivermos das escolhas alimentares, mais fácil será manter uma relação saudável com a comida.

Se você quer entender mais detalhes sobre a dopamina, alimentação e formas de manejar stress, no canal @drtakassi acabamos de publicar um episódio do podcast sobre esse tema. Nele aprofundo o conhecimento a partir dos estudos científicos atuais com foco em descrever de forma prática todas as condutas.

Lembre-se sempre:

A sua primeira Riqueza é a sua Saúde!

Até a próxima.

Dr. Takassi

 

Informações importantes:

1 – O artigo tem puramente um caráter educativo para a população em geral. Ou seja, não se trata de uma recomendação médica e ainda reforçamos que em caso de qualquer queixa ou possível conduta a pessoa deve procurar um médico / profissional da área da saúde. 

2 – Por ser um artigo focado em educação, em nenhum momento o objetivo é substituir uma consulta médica. Por isso, mais uma vez em caso de necessidade, a pessoa deverá procurar um atendimento médico. 

3 – Os vídeos são produzidos com informações encontradas em livros e artigos científicos mais atuais sobre o tema. No entanto, devido à dinâmica da mudança dos conhecimentos científicos, alguns conceitos podem alterar ao longo do tempo. 

4 – De acordo com Art. 8º da Resolução CFM 1974/11 de Publicidade do Código de Ética Médica, os artigos têm somente caráter de prestar informações de fins estritamente educativos.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

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