A data de 4 de março é sinalizada pelo Dia Mundial da Obesidade, e os números sobre a doença crônica no mundo são alarmantes, mais de 1 bilhão de pessoas são portadoras da patologia, sendo 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com projeções realizadas por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, a evolução da obesidade no país é uma realidade e, caso a doença permaneça com a taxa de crescimento atual, em 2030 atingirá 24,5% da população.

A Dra. Elaine Dias JK, endocrinologista, ressalta que a doença é uma preocupação global e, somente no Brasil, mais da metade dos adultos (60,3%) apresentam excesso de peso, o que representa 96 milhões de pessoas. As mulheres são a maioria, 62,6%, enquanto os homens somam 57,5%, conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde.

A médica explica que a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e complexa. Existem diversos fatores relacionados ao sobrepeso e, por isso, é fundamental que o paciente faça uma avaliação médica, embasada em exames laboratoriais. 

“A obesidade é uma patologia e infelizmente a maioria das pessoas sofrem não somente por conta das demais doenças que ela pode acarretar, como hipertensão, diabetes etc, mas também por conta do preconceito, especialmente as mulheres. Há muitos pacientes que recorrem ao médico por isso, porque passaram por situações humilhantes no trabalho, na academia, dentro de casa, na loja de roupas e até em consultórios médicos. O que está diretamente relacionado à falta de informação e conscientização da população”, indaga a médica, que é especialista em emagrecimento saudável.

A endocrinologista ressalta que, além da genética, estão a ansiedade e a compulsão alimentar entre os principais gatilhos para gordura excedente no organismo. “Nas minhas consultas, trabalho muito a necessidade de qualidade de vida e autoaceitação com meus pacientes. Foi assim que percebi a importância de aliar tratamentos endocrinológicos com acompanhamento nutricional, psicológico e tecnologias que proporcionam bem-estar. O importante não é o quanto se pesa ou se emagrece, mas como o paciente se sente e os impactos na sua saúde”, comenta a especialista.

A obesidade reflete na maioria dos sistemas do corpo: coração, fígado, rins, articulações e sistema reprodutivo. “Ela é capaz de provocar uma série de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer, bem como problemas de saúde mental”, explica a doutora.

 

Tipos de Obesidade

A obesidade se manifesta de diferentes formas, cada uma com suas particularidades e riscos associados. Tradicionalmente, é classificada em dois tipos principais:

 

-Obesidade Tipo 1 (Moderada): IMC entre 30 a 34,9 kg/m². Neste estágio, os riscos para doenças associadas, como diabetes tipo 2 e hipertensão, começam a ser significativos.

-Obesidade Tipo 2 (Severa): IMC entre 35 a 39,9 kg/m². Os riscos para complicações de saúde aumentam substancialmente.

-Obesidade Mórbida: IMC de 40 kg/m² ou mais. Neste nível, o indivíduo enfrenta um risco muito elevado de desenvolver problemas de saúde graves.

Além disso, a obesidade pode ser subdividida com base na distribuição de gordura corporal:

-Obesidade abdominal (Androide): Caracterizada pelo acúmulo de gordura na região abdominal. Esta é mais comum em homens. Está associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares.

-Obesidade periférica (Ginoide): Com acúmulo de gordura nas coxas e quadris. Esta é mais frequente em mulheres. Apesar de menos associada a doenças metabólicas, pode dificultar a mobilidade e afetar a qualidade de vida.

A Dra. Elaine explica que, para identificar o tipo de obesidade, geralmente se inicia com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), uma medida simples que relaciona peso e altura. No entanto, para uma avaliação mais precisa, é necessário recorrer a análises complementares, como a medição da circunferência abdominal, densitometria corporal, e bioimpedância, que oferecem uma visão mais detalhada da composição corporal.

 

Tratamentos Modernos

Os tratamentos para obesidade têm evoluído significativamente, com opções que vão além das tradicionais recomendações multidisciplinares, que vão muito além de dieta e exercício físico. “A ciência tem descoberto grandes aliados farmacológicos. Estive na Obesity Week, em San Diego, onde foram apresentados os mais recentes desenvolvimentos em ciência baseados em evidências, como a Tizerpatida, que já teve aprovação da ANVISA para ser comercializada no Brasil”, comenta a doutora.

A médica explica que se trata de um análogo dos hormônios intestinais GLP1 e GIP, que agem no hipotálamo, no centro da fome e saciedade. Nos resultados de estudos apresentados no Congresso, houve uma redução média de 26,6% do peso dos participantes de forma rápida.

Além dessas inovações, há a cirurgia bariátrica e metabólica, indicada para casos de obesidade severa ou mórbida; terapias comportamentais e de estilo de vida, que envolvem programas intensivos de mudança de comportamento, muitas vezes combinados com suporte psicológico; tecnologia que potencializam os tratamentos com a redução de medidas, fortalecimento dos músculos, entre outras soluções.

 

Colaboração: Dra. Elaine Dias JK, médica PhD em endocrinologia pela USP e metabologista.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.