O tema de hoje é Desinibição Alimentar, assunto bastante estudado na nutrição comportamental, ligado à impulsividade, considerado como um comportamento de liberação da ingestão energética, em resposta a um determinado estímulo ou “gatilho”, como muitos conhecemos. Aquele dia cansativo, uma sensação de tristeza, desânimo, ansiedade ou expectativa por algo que está para acontecer ou mesmo a busca incansável pela magreza ou pelo “padrão” de beleza atualmente imposto pela sociedade —todos estes podem ser gatilhos para reações alimentares impulsivas ou não planejadas.
Pense na impulsividade… Esta palavra faz sentido para você, certo? Para nos aproximarmos deste termo (ou sensação), no campo da alimentação, devemos refletir sobre algumas possíveis atitudes: você é do tipo de pessoa que, por vezes, restringe muito a alimentação e em seguida come sem limites, sentindo que colocou tudo a perder? Vive em dieta ou buscando algum alimento para retirar de sua alimentação, em busca de resultados imediatos? Ou ainda come mais quando está cansada, triste e/ou ansiosa? Se a sua resposta foi sim, acredito que a matéria de hoje pode fazer sentido e talvez te ajudar a encontrar o caminho de uma alimentação mais estruturada e planejada, utilizando da prática do mindfulness.
Quando a reação de comer de maneira excessiva ou descontrolada acontece, o consumo alimentar, e consequentemente calórico, pode ser grande e inadequado em termos de qualidade, podendo ou não atingir a proporção de um episódio de compulsão alimentar, com posterior sensação de culpa e frustração. Saiba mais sobre processos de compulsão alimentar no meu texto “Megarexia: como o distúrbio da imagem corporal pode afetar a saúde física e mental”
Restrição e a desinibição alimentar
A prática regular da restrição alimentar, feita principalmente quando queremos perder peso, é a atitude mais associada com a desinibição. O fato de diminuírem drasticamente a caloria diária consumida ou reduzir a quantidade de carboidratos ou lipídios ou qualquer outro nutriente da alimentação pode até resultar em uma perda de peso brusca e rápida, mas certamente de difícil manutenção, principalmente se esta restrição ocorrer por longos períodos. Vale comentar que, na maioria das vezes, toda esta restrição, além de desnecessária, pode ser prejudicial para sua saúde.
Superação da desinibição alimentar: prática do mindfulness
Para sairmos desta corda bamba, o desenvolvimento de uma consciência alimentar é peça chave para a prática de condutas menos restritivas e resultados mais sustentáveis. Conhecer proximamente os elementos que constroem o nosso comportamento alimentar como as crenças, os gatilhos emocionais, as preferências, aversões e intolerâncias alimentares, entre outros fatores, inclusive o estresse emocional. Sei que este autoconhecimento é complexo e demanda coragem, dedicação e persistência, no entanto, ao ganhar esta “habilidade” você terá maior capacidade de autorregular-se.
A prática regular de mindfulness possibilita nos mantermos concentrados nas experiências que acontecem no momento presente, auxiliando no reconhecimento de fenômenos corporais, sensoriais, emocionais e mentais. Saber reconhecer as nossas atitudes frente a ações cotidianas nos permite tomar atitudes mais assertivas e que caminhem de acordo com a nossa natureza e necessidades. Confira meu outro texto sobre mindfulness como ferramenta para o bem-estar.
Quando transpassamos o conceito de mindfulness especificamente para a alimentação falamos de mindful eating e acredite, inúmeros são os benefícios desta prática. Além do desenvolvimento de maior estado de presença e consciência, é possível escolher melhor o que comemos, perceber melhor as sensações de fome e saciedade, mastigar de forma mais adequada e, consequentemente, nos nutrirmos de maneira mais adequada. Além de nos aceitarmos com menor sensação de culpa e acolher de maneira mais compassiva os acontecimentos de nossa vida, incluindo a alimentação.
Muitos estudos científicos nesta área podem ser encontrados em plataformas de publicação científicas, principalmente com pacientes diabéticos, obesos e adolescentes. Na maioria destas investigações, os resultados de práticas regulares de mindfulness confirmam os benefícios.
Como podemos incorporar as práticas de mindfulness em nosso cotidiano?
Os professores Marcelo Demarzo e Javier Garcia Campayo em seu livro “Manual Prático: Mindfulness curiosidade e aceitação” dão algumas sugestões importantes:
- Escolher um lugar tranquilo e silencioso para a prática, onde você possa ficar à vontade e com poucas distrações.
- Se possível, escolha sempre o mesmo lugar.
- Procure reservar um tempo fixo na agenda para realizar o que chamamos de práticas formais diárias.
- Comece com tempos curtos (5 a 10 minutos) de práticas diárias, e em seguida, vá aumentando gradativamente, de acordo com as suas necessidades e possibilidades.
Tenha em mente que a regularidade é sua grande aliada, portanto, planejar esta prática como um momento de autocuidado é essencial para colher os frutos.
Saiba que a desinibição alimentar é uma condição inversamente proporcional à perda de peso e controle alimentar, assim, o estresse e a restrição não compensam. Busque alternativas que te fortaleçam e que promovam saúde mental e bem-estar.
Nos vemos em breve !
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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