Hoje vamos falar sobre algo bastante cotidiano: a nossa alimentação. Para isso, vamos começar com uma pergunta muito rápida e peço que não pense muito ao responder.

Se eu te perguntasse qual é o seu alimento preferido, e como você o descreveria conforme a textura; forma; cor; aroma; sabor e temperatura, saberia me responder? Grande parte das pessoas não saberia o que falar, e não poderia contar de maneira detalhada como é a sua alimentação diária, os aspectos dos alimentos que consome e quais são as sensações que esses alimentos despertam em seu corpo. Conhecer as suas preferências, saboreá-las e também reconhecer os alimentos que não te caem bem ou lhe causam algum dano é algo necessário quando o assunto é a sua saúde. 

Quando despertamos essa consciência maior em tudo o que fazemos, estamos ativando um modo chamado “ser” de nossa mente e a partir daí, inúmeras outras percepções e conexões poderão começar a surgir. Veja algumas atitudes que são essenciais para você começar a trilhar este caminho:

  • Aceitar e permitir as experiências que aparecem no momento presente;
  • Não julgar os acontecimentos;
  • Expressar a intenção de ativar esse modo, ou seja, acolha o desenvolvimento destas habilidades, para que seja algo natural e fluído.

Já está comprovado cientificamente que muitos são os benefícios de uma alimentação consciente, como a perda de peso ou o melhor controle do peso alcançado, evolução positiva em condições de transtornos alimentares ou ainda o comer transtornado –que é algo diferente. O comer emocional, também conhecido como comer hedônico ou busca pelo alimento por prazer, é outra condição de saúde que recebe influência positiva deste comer consciente ou Mindful Eating.

Para começar a desenvolver estas habilidades, a minha sugestão é que você inicie, mesmo que de maneira breve de 2 a 3 minutos por dia, exercícios de respiração e meditação. Quando faço essa sugestão, muitas pessoas me dizem que não conseguem meditar,  já que esvaziar a mente é impossível para eles. Se isso acontece com você, fique tranquilo, pois o enfoque aqui é ordenar os seus pensamentos e concentrar-se no momento presente, tirando o máximo proveito de suas experiências atuais. O que passa é que você vai precisar de um pouco de treinamento e dedicação para que aos poucos, todos os benefícios fluam de maneira prazerosa, provando que você pode.

Todos nós temos uma voz interior, conhecida como intuição, autoconhecimento ou “olhar interno”, que nos permite sentir e perceber tudo ao nosso redor, inclusive o que comemos. Esse comer intuitivo, também chamado de sabedoria corporal, baseia-se em 3 pilares: permissão incondicional para comer, comer para atender as necessidades fisiológicas e não emocionais e apoiar-se nos sinais de fome e saciedade. 

A permissão incondicional para comer considera que esse ato é uma necessidade que deve ser respeitada e cumprida, além de fazê-lo sem julgamentos, sentimento de culpa ou pensamentos contraditórios do tipo: “posso ou não”, “este alimento é bom ou não” e assim por diante. Já o comer para atender as necessidades fisiológicas acontece quando os alimentos devem suprir as nossas necessidades orgânicas, mas não as afetivas ou emocionais, ou seja, não devemos nos deixar levar pelo impulso de uma sensação de raiva, ansiedade, alegria ou qualquer outro sentimento. Isso não quer dizer que não possamos aproveitar o momento das refeições transformando-o em um período agradável e que nos traga boas memórias, mas sim que não podemos nos deixar levar pelo descontrole alimentar que muitas vezes tem como gatilho algum tipo de sentimento. 

O último, mas não menos importante pilar é saber reconhecer as sensações de fome e saciedade. Vamos começar a trabalhar nesse propósito? O meu convite é que você comece uma rotina diária de atividades. São elas:

  1. Diariamente, mesmo que por 2 a 3 minutos, faça exercícios de meditação e/ou respiração;
  2. Tenha um diário para registrar as suas sensações e o que você consome diariamente (incluindo horário, forma de preparo) para que você possa fazer uma autoanálise e conhecer melhor as suas preferências e aversões;
  3. Saiba reconhecer quando sente fome física, fome emocional e saciedade. Veja abaixo as definições: 

FOME FÍSICA. Manifesta-se por sensações físicas como dor de estômago, dor de cabeça, fraqueza, irritação, ou seja, existe uma necessidade real de se alimentar.

FOME EMOCIONAL. Relaciona-se com o seu estado mental, como por exemplo tristeza, felicidade, ansiedade, angústia. Os fatores emocionais estão relacionados com esse tipo de fome.

SACIEDADE. É uma sensação de preenchimento do estômago após uma refeição. Para senti-la, é importante comer de forma equilibrada, mastigando bem os alimentos.

  1. Perceba as sensações que os alimentos causam em você, como relaxamento, tensão, angústia, medo entre outros. É importante saber reconhecer essas sensações e nomeá-las também faz parte desta trajetória. 

Sinta-se convidado a ativar o seu modo SER para a alimentação e saiba que estará muito mais conectado com tudo o que passa ao seu redor, colhendo os frutos para uma maior saúde física e mental. 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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