O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno mental do neurodesenvolvimento, conforme eu expliquei na minha coluna aqui na Isto É Bem-estar do dia 05/12/23, e que afeta milhões de brasileiros. Acredito que  tenha ficado evidente para quem leu essa coluna, que os portadores desse transtorno mental têm sintomas que atrapalham muito seu funcionamento cotidiano, seja através de desregulação emocional ou por meio de dificuldades na busca de objetivos importantes para si.

Na medida que nos deparamos com essas dificuldades, surge naturalmente a pergunta sobre o que fazer: como tratar esse problema de saúde? O tratamento do TDAH tem sido objeto de debates e controvérsias, especialmente quando se trata do uso de medicamentos como os psicoestimulantes.  O uso de medicação para o TDAH é um tópico frequentemente discutido e levanta questões sobre a eficácia, segurança e a necessidade concomitante à psicoterapia. 

Nesta coluna, vou trazer a vocês informações baseadas em evidências, tendo como norte a busca por uma vida com significado para os portadores de TDAH. Resolvi então, resumir esse tema para vocês em 10 tópicos. Vejam a seguir! 

 

Os 10 tópicos sobre o tratamento do TDAH simplificado:

  • O uso de psicoestimulantes (metilfenidato, Ritalina®/ Concerta® / Ragione®; Lisdexanfetamina, Venvanse®) foi extensamente estudado em pacientes com TDAH e esses estudos têm a nítida conclusão de que essas medicações têm um efeito bastante grande na redução da intensidade e frequência dos sintomas de TDAH.

 

  • Os estimulantes geram seus efeitos muito rapidamente. Para alguns pacientes, o efeito é nítido logo após a primeira dose, e, para quase todos os pacientes, esse efeito é muito mais rápido do que as habituais 2-6 semanas que levam para que os antidepressivos tenham seus efeitos.

 

  • A dose da medicação importa. Não é infrequente que eu encontre pacientes medicados com doses muito baixas, sendo assim privados dos efeitos positivos dessas medicações. O aumento da dose deve ser realizado, sempre com cautela, observando as contraindicações, sendo acompanhado por profissional médico competente.

 

  • Ainda, é possível que o paciente não receba medicação com capacidade para cobrir o dia todo. Algumas versões do metilfenidato duram poucas horas, mas mesmo os estimulantes com ação mais duradoura, por vezes, não conseguem trazer benefícios sustentados para pacientes que permanecem ocupados por longos períodos (ex: > 12 horas). O tratamento com estimulantes precisa de um esforço de “alfaiate” por parte do médico prescritor. Isto é, precisa de um ajuste fino às necessidades e rotina do paciente.

 

  • Por outro lado, também vejo muitas vezes o uso de doses excessivas e/ou aumentadas muito rapidamente. Esta última situação costuma acontecer frequentemente com o Venvanse, potencialmente gerando tolerância (necessidades de doses crescentes para o mesmo efeito).

 

  • Da mesma forma que qualquer remédio, os psicoestimulantes têm contra indicações, e faz parte do ato de prescrição observá-las. Por exemplo, pacientes com cardiopatias relevantes podem precisar de uma avaliação cardiológica para a liberação do uso de estimulantes. Ainda, pacientes bipolares devem estar estáveis em termos de humor para que então o uso de estimulantes possa ser considerado.

 

  • Transtornos de ansiedade são muito frequentes entre os portadores de TDAH, inclusive pelas dificuldades acadêmicas e profissionais tão comuns nesses pacientes. Fato é que os estimulantes podem acentuar a ansiedade, gerando um ciclo de piora clínica em que a ansiedade deixa o paciente ainda mais desatento! E o que fazer? Tratar a ansiedade de maneira efetiva antes de tratar o TDAH. Aqui, “a ordem dos fatores altera o produto final”.

 

  • Os estimulantes são muito importantes, mas o tratamento do TDAH vai muito além deles. Esse certamente é tópico para outra coluna aqui na Isto é Bem-estar, mas vou resumir: há muitos hábitos formados ao longo dos anos em função das dificuldades do TDAH e é importante que o paciente reaprenda a funcionar em diversas áreas da vida. Esse processo envolve comunicação diagnóstica, psicoeducação a respeito do TDAH e psicoterapia baseada em evidências.

 

  • Saúde geral importa. Os estimulantes não vão funcionar direito em alguém que não se alimenta bem, tem rotina de sono caótica e é sedentário. A boa notícia é que os próprios estimulantes prescritos de maneira sensatas e acompanhados de uma boa comunicação diagnóstica e psicoeducação bem-feita já são uma grande ajuda para que o paciente comece a construir um estilo de vida melhor.

 

  • Metilfenidato (Ritalina® / Concerta® / Ragione®) é um fármaco com um risco muito pequeno de dependência (desenvolvimento de transtorno de uso de substância). O risco do Venvanse (Lisdexanfetamina®) é um pouco maior, porém também não é muito elevado quando bem prescrito.

 

Por fim, é fundamental ressaltar que a decisão de iniciar ou continuar o tratamento medicamentoso para o TDAH deve ser cuidadosamente considerada em consulta com um profissional de saúde mental qualificado. A medicação não é apropriada ou necessária para todos os casos de TDAH, e cada paciente deve ser avaliado individualmente para que o paciente e médico determinem o melhor caminho.

Para aqueles que serão medicados, vale uma última informação: a aderência ao tratamento é fundamental. As estatísticas sobre o uso de estimulantes são estarrecedoras: > 50% dos pacientes não compram a segunda caixa da medicação. Claro que alguns (poucos) não se deram bem com o fármaco e não querem continuar. Entretanto, a maioria dos pacientes não continua o tratamento inclusive porque é muito difícil para pacientes com TDAH persistir em tarefas e projetos. Essa dificuldade precisa ser trabalhada, portanto, precocemente no tratamento. A segurança e eficácia da medicação para TDAH dependem do diagnóstico, prescrição e administração adequados por profissionais qualificados.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.