Sabemos que o chiclete é uma goma de mascar macia e elástica, feita para ser mastigada e não engolida. Embora o chiclete seja considerado seguro, algumas marcas contêm ingredientes controversos em pequenas quantidades que podem contribuir para a má digestão. As receitas podem variar entre as marcas, mas todas as gomas de mascar contêm os seguintes ingredientes básicos:
- Goma. Uma base não digerível do tipo emborrachada usada para o aspecto mastigável. São utilizados compostos petroquímicos, como a borracha de butadieno estireno (SRN), borracha butílica (IIR), cera de parafina ou cera de petróleo. O aspecto elástico dá-se pelo poliacetato de vinila (PVA). Também pode ser utilizado enchimentos como carbonato de cálcio, que são utilizados para dar textura, e amaciadores, usados para reter a umidade e evitar o endurecimento –aqui são incluídos ceras como parafina ou óleos vegetais.
- Conservantes. São adicionados para prolongar a vida na prateleira. A escolha mais popular é um composto orgânico chamado hidroxitolueno butilado (BHT).
- Edulcorantes. Aqui são desde açúcares comuns até adoçantes sintéticos. Os mais populares incluem açúcar de cana, açúcar de beterraba, xarope de glicose e xarope de milho. Gomas sem açúcar utilizam adoçantes como xilitol, sucralose, aspartame e sorbitol.
- Corantes. São utilizados os aprovados e liberados para uso alimentar.
- Aromatizantes. São adicionados para dar um sabor “desejado”, que podem ser naturais ou sintéticos.
- Aditivos. Podem utilizar compostos ácidos (ácido cítrico), substâncias que induzem à sensação de queimação da pimenta (canela) e formulações que dão estouros na boca.
Um fato curioso é que a maioria dos fabricantes de gomas mantém suas receitas em segredo, então quando você olha no rótulo para saber o que realmente compõe o produto, você se depara com “base de goma”, que se refere à combinação específica de goma, resina, enchimento, amaciantes e conservantes. Todos esses ingredientes utilizados no processamento de gomas de mascar devem ser de “qualidade alimentar” e classificados como adequados para o consumo humano.
Mas e os ingredientes do chiclete, eles são seguros para a saúde?
Mesmo nesses casos, os valores geralmente são bem inferiores aos considerados causadores de riscos à saúde. Há também casos de alguns compostos que são omitidos na formulação “base de goma” sem que saibamos se realmente existem ou não na receita.
O hidroxitolueno butilado (BHT), por exemplo, é um antioxidante adicionado a muitos alimentos processados como conservante, e isso evita que as gorduras fiquem rançosas. O seu uso é controverso, pois alguns estudos em animais demonstraram que altas doses podem causar riscos de câncer. No entanto, os resultados são mistos e outros estudos não encontraram este risco.
Geralmente, existem poucos estudos em humanos, portanto seus efeitos sobre as pessoas são relativamente desconhecidos. Já em doses baixas de cerca de 0,11 mg por quilo de peso corporal — 0,25 mg por kg –, o BHT é considerado seguro pela FDA e pela EFSA.
Já o dióxido de titânio é um aditivo alimentar comum usado para clarear produtos e dar a eles uma textura suave. Alguns estudos associaram doses muito altas de dióxido de titânio a danos no sistema nervoso em ratos.
A quantidade e o tipo de dióxido de titânio ao qual as pessoas estão expostas nos alimentos são considerados seguros. No entanto, mais pesquisas são necessárias para determinar o limite de consumo seguro.
Um estudo mostrou que a exposição crônica e frequente a esse composto diminui a capacidade de absorção da superfície das células intestinais chamadas microvilosidades. Com menos microvilosidades, a barreira intestinal fica enfraquecida, o metabolismo abranda e alguns nutrientes – ferro, zinco e ácidos gordos, especificamente – tornam-se mais difíceis de absorver.
Vale ressaltar que, mesmo com as controvérsias, a goma de mascar não tem sido associada a nenhum efeito sério para a saúde, mas os ingredientes adicionados a algumas marcas de goma de mascar são controversos.
O chiclete ajuda a emagrecer?
Temos a visão científica versus a visão clínica. Sempre digo aqui que o que é feito em ambiente controlado muitas vezes não demonstra o completo descontrole em nossas vidas. Portanto, investigação é investigação; a prática é outros quinhentos.
Vários estudos mostram os benefícios da goma – todos mencionados nas referências. Um pequeno estudo descobriu que mascar chiclete depois do almoço diminui a fome e reduz os lanches no final do dia em cerca de 10%. Há também algumas evidências de que a goma de mascar pode aumentar a sua taxa metabólica. Outros estudos mostram que quando os participantes mascavam chiclete, queimavam cerca de 19% mais calorias do que quando não mascavam.
Estudos relataram que a goma de mascar não afeta o apetite nem a ingestão de energia ao longo de um dia. Já outro estudo descobriu que pessoas que mascavam chiclete tinham menor probabilidade de comer lanches saudáveis como, por exemplo, as frutas.
Um estudo da Ohio State University descobriu que uma vez que essas pessoas cospem o chiclete, elas comem tanto quanto as pessoas que não mastigam. Em longo prazo, além de parecer que o chiclete seja um alimento eficaz no emagrecimento, pode levar também a deficiências nutricionais.
Nesse mesmo estudo as pessoas foram instruídas a mastigar chicletes antes de lanches e refeições por uma semana e anotar tudo o que comeram. Seus diários alimentares revelaram que, comparados a pessoas que não mascavam chicletes, eles comiam menos vezes ao dia, porém as refeições eram maiores e mais calóricas.
A razão pela qual comeram alimentos menos saudáveis pode ser parcialmente explicada por uma segunda experiência, em que as pessoas jogaram um jogo em que as vitórias eram recompensadas com tangerinas e uvas e, para outro grupo, batatas fritas e chocolates. Os participantes que mascavam chiclete de hortelã estavam desmotivados para vencer o jogo e comer a fruta. Essa diminuição na motivação, acreditam os pesquisadores, ocorreu porque o mentol nas gengivas mexe com as papilas gustativas, fazendo com que as frutas e os vegetais tenham um sabor amargo. Aqueles que mascavam chicletes mais doces não sentiam essa repulsa pelas frutas, mas todos os grupos que mascavam chicletes tinham aumento da fome.
No entanto, muitos estudos têm controvérsias, e mais pesquisas são necessárias para determinar se realmente a goma de mascar leva a uma diferença no peso da balança a longo prazo.
Agora vamos à visão prática do chiclete
“Ciclo da frustração gástrica”. A imagem ilustra a presença do chiclete na boca. O indivíduo passa pelo processo de mastigação e o processo de produção de saliva pelas glândulas salivares — princípio mediado pelo SNC. Assim ocorre o aumento da produção de suco gástrico, juntamente com o estímulo da saciedade. Porém, não há nenhum alimento para esse processo de digestão, sendo um ciclo “vazio”.
Como sempre digo, temos que avaliar os estudos e levar para a prática. Vai do profissional seguir sua linha de pesquisa e opinião, principalmente quando o assunto tem tantos lados diferentes.
De acordo com a nutricionista clínica e comportamental da Unifesp, Dra. Samantha Rhein, cada vez fica mais claro (por meio de evidências científicas) que só mudaremos o elevado grau de excesso de peso da população se adquirirmos hábitos de estilo de vida mais conscientes e saudáveis.
“Então, por que devemos considerar a possibilidade de mascar um chiclete para conseguirmos alcançar um peso saudável?”, questiona a nutricionista.
Estas gomas estimulam a mastigação e, consequentemente, a saciedade, uma vez que o ato de mastigar envia ‘sinais’ ao cérebro de que o alimento está chegando e o seu trato gastrointestinal deverá estar preparado para ‘receber’ esta refeição — ou pelo menos deveria –, objetivando iniciar sua digestão. No caso do chiclete isto não acontecerá e essa saciedade não será sustentável.
Não é somente a mastigação que garante a saciedade ou que ela se prolongue; a presença do alimento no estômago, a sua quantidade, densidade — teor de fibras, gorduras, açúcares e proteínas — e grau de digestibilidade contribuirão com a liberação de substâncias químicas que prolongaram esta sensação de saciedade promovida pelo alimento e refeição.
A nutricionista clínica e pesquisadora da UNIFESP, Dra. Deborah Masquio, também pontua que mascar chiclete não deve ser considerada uma estratégia para melhorar a saúde ou promover o emagrecimento. A maioria dos chicletes contêm açúcares e aditivos químicos que não nutrem o organismo. Além disso, o ato de mascar chiclete , mesmo que sem açúcar, inicia o processo de digestão, aumentando a secreção de ácido clorídrico, que pode ser prejudicial para a parede do estômago causando gastrite, azia e desconfortos.”
A Dra. Samantha Rhein reforça que “ao prospectar os resultados de pesquisas científicas sobre o consumo a médio e longo prazo de aditivos alimentares — conservantes, corantes –, notamos que existe uma relação direta com maior risco para desenvolver alguns tipos de cânceres — estômago e intestino –, além de alergias e intolerâncias alimentares.”
Temos que considerar também que tipo de aprendizado e autonomia tiramos de qualquer experiência ou tratamento. Toda vez que você tiver fome terá que utilizar uma ‘muleta’ chamada goma de mascar, em vez de desenvolver alternativas centradas e que dependam apenas de você? Onde fica a mudança consistente de estilo de vida e comportamento alimentar? Neste caso ela certamente não existiu.
A melhor estratégia para o emagrecimento seria o ajuste de horários, tipos de alimentos e tamanho das porções; e não estratégias controversas.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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