O leite de vaca é um alimento consumido diariamente por bilhões de pessoas em todo o mundo, porém, muitos indivíduos relatam desconfortos associados a ele, muitas vezes relacionados à intolerância à lactose. Os desconfortos associados à intolerância, como dores abdominais, distensão, flatulência e diarreia, são causados pela má digestão da lactose, relacionada à deficiência da enzima lactase. Mas é importante observar que nem todo desconforto gastrointestinal, ocasionado pelo leite, está associado à lactose. O leite apresenta uma proteína conhecida como caseína na sua composição e algumas pessoas sentem desconfortos por conta dessa proteína, e é aqui que entra a participação do leite A2.

Todo leite de vaca apresenta caseína na composição, mas a diferença é que o leite tradicional apresenta a caseína tipo A1, que promove a formação de um peptídeo conhecido como BCM-7, este intensifica os riscos de ter um desconforto gastrointestinal. Já o leite A2, apresenta a caseína tipo A2, que gera expressiva menor quantidade de BCM-7, reduzindo os sintomas gastrointestinais.

Assim, alguns indivíduos realmente apresentam intolerância à lactose, enquanto outros podem ter uma maior sensibilidade ao BCM-7 e, para tais, o leite A2 pode ser uma solução. Em estudo conduzido por He et al. (2017), 600 indivíduos com idade média de 36 anos, autorreferidos como intolerantes à lactose e com desconfortos ao consumo de leite, consumiram 300ml de leite convencional A1 ou leite A2. 

Através de um questionário, foram avaliados sintomas como borborigmo (barulhos/ruídos produzidos no trato gastrointestinal), flatulência, distensão abdominal, dor abdominal, frequência das fezes e consistência das fezes. Os resultados obtidos indicaram que o consumo de leite A2 atenuou significativamente todos os sintomas do TGI relacionados ao consumo do leite convencional A1, tanto nos indivíduos com má absorção da lactose quanto naqueles com boa absorção, sugerindo que o desconforto autorreferido em relação à lactose parece estar mais relacionado à presença da caseína A1 do que à lactose em si. Assim é possível levantar a hipótese de que a ausência de caseína A1, presente em leites convencionais, faça com que o consumo de leite tipo A2 seja uma melhor opção para os indivíduos que sofrem com sintomas gastrointestinais. 

Hoje, também temos disponível no mercado o leite A2 com adição de enzima lactase, para aquelas pessoas que também tem intolerância à lactose. Dessa forma, podemos seguir de acordo com a necessidade de cada paciente, planejando um consumo de leite específico. Isso é interessante já que não limita o consumo alimentar, permitindo que a pessoa siga consumindo o alimento que deseja.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

 

Referências Bibliográficas

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KAY, S. I. S.; DELGADO, S.; MITTAL, J.; ESHRAGHI, R. S.; MITTAL, R.; ESHRAGHI, A. A. Beneficial Effects of Milk Having A2 β-Casein Protein: Myth or Reality? Journal of Nutrition, vol. 151, no 5, p. 1061–1072, 1 maio 2021. 
 HE, M.; SUN, J.; JIANG, Z. Q.; YANG, Y. X. Effects of cow’s milk beta-casein variants on symptoms of milk intolerance in Chinese adults: A multicentre, randomised controlled study. Nutrition Journal, vol. 16, no 1, 25 out. 2017.