No início dos anos 2000, o Women’s Health Initiative (WHI) realizou um estudo do tratamento da menopausa com reposição hormonal, publicando os mais diversos riscos e malefícios desse tratamento para a saúde da mulher. Entretanto, anos depois, confirmaram problemas metodológicos da pesquisa que colocava seus resultados em cheque. Agora, após um estudo de longo prazo, que acompanhou mulheres durante 20 anos, o WHI divulgou os benefícios da reposição hormonal para mulheres na perimenopausa e, ainda, menores riscos para aquelas na pós-menopausa. 

 

Reposição hormonal

O uso de reposição hormonal, ou terapia hormonal, da menopausa, envolve uma gama de hormônios com diferentes vias de administração e doses, além de esquemas diversos de uso e indicação. Suas indicações de uso começaram nos anos 60 nos Estados Unidos. Estudos observacionais descobriram que o uso da terapia hormonal da menopausa trazia menores riscos para as mulheres de desenvolverem doenças cardíacas, fraturas ósseas e menos risco de morte para todas as causas.  

A reposição hormonal era prescrita especialmente para prevenção de doenças cardíacas, mesmo que, na época, faltassem pesquisas controladas sobre o tema. A terapia hormonal buscava prevenir ataques cardíacos e a demência nas mulheres, principalmente aquelas durante a menopausa. 

Entretanto, ocorreu um declínio em certas prescrições de terapia hormonal para menopausa desde 2002, após a publicação do antigo estudo do WHI. 

 

Mudanças nas evidências: estudos posteriores 

Em 2020, um artigo publicado no Menopause, realizou uma análise estratificada por idade das consequências do declínio do uso de estrogênio isolado em mulheres norte-americanas na faixa dos 50 anos, após a divulgação do estudo do WHI. 

O declínio das indicações foi associado a 37.549 eventos adversos —câncer de mama, câncer de cólon, doença coronariana e fraturas ósseas. Contudo, o declínio no uso de estrogênio trouxe também consequências favoráveis entre as mulheres na casa dos 70 anos. 

Já em 2023, o estudo “The Women’s Health Initiative randomized trials of menopausal hormone therapy and breast cancer: findings in context” confirmou que a terapia de estrogênio para mulheres com histerectomia prévia diminuía os riscos e mortalidade de câncer de mama. Entretanto, a terapia de estrogênio associada à progesterona aumentava os riscos de câncer de mama, segundo pesquisas realizadas durante duas décadas.

Outros estudos trouxeram que os riscos e benefícios da reposição hormonal diferiram entre as mulheres na transição da menopausa e aquelas mais velhas, em estágios mais avançados da menopausa. O uso dessa terapia em mulheres com mais de 10 anos de pós-menopausa poderia estar associado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares. Já aquelas iniciadas na peri ou na pós-menopausa inicial, poderia diminuir o risco de doenças cardiovasculares. 

Ao reanalizar o estudo do WHI, descobriram que as mulheres com idade entre 50 e 59 anos ou com menos de 10 anos de pós-menopausa apresentaram maiores benefícios, como a redução da incidência de doenças cardiovasculares e da mortalidade geral, com o uso da terapia hormonal. 

 

Novo estudo do WHI

Os pesquisadores descobriram que a terapia hormonal não aumentaria os riscos de mortalidade geral em nenhum grupo de faixa etárias, quando comparado com as mulheres de idade semelhante que foram administradas com placebo.

No estudo interrompido em 2002, foi reportado um aumento de 29% do risco de doenças cardiovasculares entre as mulheres que usaram a reposição hormonal. Já no novo estudo, as estatísticas da diferença no risco de doenças cardiovasculares entre as mulheres que usaram e as que não usaram os hormônios foram insignificantes. 

O risco de derrame entre as mulheres mais novas foi relativamente baixo, com menos de um caso para cada mil mulheres que usaram a terapia de estrogênio-progesterona. Também não houve um risco excessivo com estrogênio isolado.

Esse estudo confirmou as diferenças entre os tratamentos com estrogênio e progesterona combinados e do estrogênio isolado, associados ao risco de câncer de mama. Mulheres que usaram o estrogênio isolado tiveram uma redução de 20% do risco de desenvolver câncer de mama.  

Comprovaram que o risco de desenvolver câncer de mama é aumentado com o uso a longo prazo de combinação de hormônios, como estrogênio e progesterona. Entretanto, combinar progesterona com estrogênio para mulheres com útero reduz o risco de desenvolver câncer do endométrio. Em perspectiva, o risco de desenvolver câncer de mama com essa terapia hormonal é o equivalente ao risco de câncer de mama associado à ingestão de uma a duas bebidas alcoólicas diariamente. Dessa maneira, o risco absoluto é baixo.

O risco de fraturas ósseas entre as mulheres que usaram a terapia hormonal foi 33% menor que o dos grupos que usaram placebo durante o estudo. 

Diante disso, evidencia-se a importância das mulheres terem as informações necessárias para terem mais conhecimento na tomada de decisão do uso ou não da terapia hormonal, e também conseguir fazer escolhas conscientes sobre a duração do seu tratamento.

Vale ressaltar que a terapia hormonal é individual e varia de caso para caso, principalmente quando comparado às faixas etárias. Sempre procure um profissional da área da saúde para saber o ideal para você.

Se quiser saber mais sobre reposição hormonal durante a menopausa, confira o Podcast da IstoÉ Bem-estar com o Dr. Igor Padovesi, ginecologista, especialista em terapia hormonal. 

 

O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e é supervisionado por um Profissional da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.