É natural que o corpo passe por intensas transformações durante a gestação, afinal, ele está se preparando para gerar outro ser humano.
Mas deixando de lado o glamour da frase anterior, devo dizer que algumas mudanças durante a gestação são, no mínimo, peculiares. Principalmente porque essas mudanças raramente são discutidas, como o crescimento do pé.
Há também as axilas escuras, nariz inchado, ronco, manchas no rosto são algumas mudanças que fazem parte do combo de alterações hormonais e físicas da gestação. Mas no meio de tudo isso, o que explicaria o sapato não entrar mais? É possível a numeração do seu pé ter aumentado?
A fisioterapeuta Pélvica, Dra. Juliana Satake, esclarece pra gente que sim, é possível.
É bastante comum que a gestante sinta o sapato mais apertado pelo aumento do comprimento e pela dificuldade em encontrar um calçado que seja confortável nessa fase. O aumento de tamanho pode ser causado pelo inchaço e causar dores que afetam os pés na gestação.
Como essas mudanças no tamanho do pé ocorrem?
Vale lembrar que o pé se constitui como base de sustentação de todo o nosso corpo e que na gestação, devido ao ganho de peso e à tendência ao edema (acúmulo de líquido), provoca inchaços que comprometem todas as articulações, inclusive em tornozelos e pés.
Há mudanças no centro de gravidade do corpo da mulher que ocorrem constantemente durante todo o processo gestacional. Além disso, se estendem até o puerpério.
- O sistema motor precisa se ajustar e se adaptar, adotando novas estratégias de controle para manter a estabilidade e o equilíbrio, o que altera a pressão na planta dos pés.
- As alterações hormonais causam o relaxamento dos ligamentos em todo o corpo, o que impacta também os pés, mais especificamente o arco plantar. Como consequência, o arco do pé na gestante tende a perder a sua altura, deixando os pés “esparramados”, sendo esse um dos fatores que pode levar ao aumento do número do calçado.
- O hormônio responsável por esse relaxamento não poderia ter nome mais legal: se chama relaxina e pode estar presente até 6 meses após o parto. Mulheres que já apresentam frouxidão ligamentar antes da gestação, precisam se atentar ainda mais para que essa frouxidão não cause ainda mais desconfortos ou novas lesões.
- Quanto maior o ganho de peso, maiores as mudanças para a mulher se reajustar. Estudos atuais mostram que um ganho de peso em 20% durante a gravidez, aumenta a carga na articulação em 50% a 100%.
- Características marcantes da nova forma de caminhar da gestante com passos curtos, caminhada mais lenta com as pernas mais afastadas, levam a um maior tempo de apoio nos pés com sobrecarga na região plantar, em médio e antepé.
- Todas essas alterações nos pés somadas a outras alterações de controle motor podem contribuir para um risco aumentado de distúrbios musculoesqueléticos. Aqui vou citar em ordem as que nossas gestantes mais se queixam: a dor lombar, em quadris e tornozelos, e as famosas cãibras musculares dolorosas que tiram o sono de muitas gestantes. E por isso, merecem um tópico exclusivo para falarmos mais:
Cãibras. As cãibras ocorrem durante a noite, e são contrações involuntárias dolorosas que ocorrem de forma repentina, em especial na panturrilha. Para se ter ideia, até 50% das gestantes têm ao menos um episódio que geralmente ocorre no terceiro trimestre.
Exercícios e prevenção
Para quem é sedentária e engravidou. Vale rever a rotina e inserir a prática de exercícios bem direcionados nessa fase. Iniciar uma rotina de exercícios desde os primeiros estágios da gravidez faz toda a diferença no controle postural e no equilíbrio, antes mesmo que as dores ou desconfortos surjam em alguma etapa da sua gestação.
Caso a mulher já seja ativa quando engravidou. Mantenha-se ativa na atividade física que praticava —sempre com respaldo de seu obstetra e respeitando cada fase gestacional. Os exercícios de forma geral são positivos para o binômio mamãe-bebê, mas vale repensar em exercícios direcionados por profissionais de obstetrícia que irão contribuir para ganhos importantes que farão bastante diferença na gestação, parto e pós-parto.
Os exercícios na gestação devem ter o foco em músculos de sustentação e estabilização: abdômen, coluna, membros superiores e inferiores, assim como em músculos pélvicos, trabalhando mobilidade, alongamento e fortalecimento.
É o momento de priorizar atividades que ajudem no ganho de mobilidade, aqui vou citar Yoga com foco para grávidas e o Pilates específico para gestante. Geralmente os movimentos específicos dessas modalidades contemplam o controle postural, fortalecimento do core —músculos essenciais para o equilíbrio do corpo —além do trabalho de fortalecimento, mobilidade, alongamento, estabilidade em articulações mais afetadas, contribuindo para uma gestação mais leve!
Além das atividades físicas direcionadas para grávidas, vale a pena investir em liberação muscular na região das pernas para soltura e diminuição das contraturas e sobrecargas musculares. Caso a gestante no terceiro trimestre, tenha acesso, pode-se investir na drenagem linfática para aliviar e diminuir a carga excessiva nos pés, já que melhora a circulação sanguínea e o retorno venoso. Lembrando que a drenagem na gestante acaba tendo foco maior no alívio de sintomas já que o edema é global e fisiológico.
Segundo a Dra. Juliana Satake, é possível tornar a jornada da gestação o mais leve e positiva possível, ainda que diante de tantas mudanças e transformações que trazem suas bênçãos, mas também seus desafios.
Lembre-se da importância do respaldo do seu médico e de profissionais da área de obstetrícia te acompanhando, a ideia é a de se criar um cenário para uma gestação mais saudável e segura para o desenvolvimento do bebê. Além de ferramentas para um trabalho de parto mais consciente e, principalmente, para o preparo do corpo para o famoso puerpério.
Caso a mulher sinta dores e desconfortos, procure sempre por seu obstetra e saiba que há opções medicamentosas seguras que serão indicadas nessa fase também. Deixei o link te ensinando exercícios que podem te ajudar a aliviar a sobrecarga das pernas e pés para as gestantes.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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