Tenho certeza que esse é um tema super em alta e muita gente pode estranhar a chamada porque acham que falarei pela primeira vez sobre estética. Mas será que você sabe a verdade sobre nosso tema de hoje? Você já ouviu falar em lipedema

Quando você “google it”, muitas imagens sobre lipedema aparecem, mas ele pode ser muito confundido por leigos como ganho de peso, celulite ou obesidade. O que gera muita confusão é o fato de que suas características podem, na verdade, ser semelhantes em termos de alterações na aparência da pele e aumento de volume dos membros inferiores. Mas a maior diferença é que quem tem essa condição apresenta, além do acúmulo de gordura, outros sinais e sintomas desagradáveis ​​como dor, sensação de inchaço e inflamação. 

 

O que é lipedema?

Uma característica bastante comum no lipedema é a tendência à formação de hematomas associados à fragilidade capilar, inchaço ao permanecer por muito tempo em pé, sensação de peso, fadiga e fraqueza muscular nas áreas afetadas. Além disso, no lipedema há um nítido aumento de volume bilateral e desproporcional, geralmente nas pernas. Normalmente a pessoa apresenta tronco “fino”, mas há um aumento de gordura abaixo do quadril. Calma! Ao contrário do que muita gente possa pensar, ela não ocorre apenas nos quadris ou pernas. Inclusive o lipedema pode ser classificado de I a V, dependendo da área afetada, além de poder apresentar de forma concomitante diferentes regiões do corpo. Vamos conhecer os tipos? 

 

Tipos de lipedema

Tipo I: o nível do tecido adiposo está aumentado nas nádegas e coxas.

Tipo II: estende-se até os joelhos com formação de bolsas de gordura na região medial do

joelhos.

Tipo III: estende-se até os tornozelos.

Tipo IV: braços e pernas são afetados.

Tipo V: apenas do joelho para baixo.

Devido ao acúmulo de depósitos de gordura sob a pele, as alterações, saliências e texturas da pele também podem ser comprometidas, e a mulher pode relatar inclusive dor ao toque da pele. A gravidade pode ser classificada de acordo com a superfície da pele e alterações estruturais no tecido adiposo das extremidades. Essa condição também pode levar a problemas secundários, como fibrose, onde a gordura se torna dura, semelhante a uma cicatriz e nodular.

 

Estágios do lipedema 

Os estágios do lipedema em relação a sua progressão variam de 1 a 4: 

Estágio 1: o paciente tem uma superfície de pele normal com aumento de gordura subjacente. Estágio 2: superfície da pele irregular, com aspecto semelhante ao de celulite e presença de nódulos um pouco maiores na pele.

Estágio 3: a pele é significativamente mais flácida, com a presença de dobras. Também é possível palpar áreas de fibrose, causadas pela inflamação crônica. 

Estágio 4: presença do linfedema associado, que é chamado de lipo-linfedema.

 

Desmistificando o lipedema

O diagnóstico do lipedema é clínico e, se não tratado, pode também repercutir na qualidade de vida da paciente, atrapalhando a funcionalidade, afetando o caminhar, devido ao mau alinhamento e eixo das pernas que compromete a postura e sobrecarga nas articulações, além de fraqueza e perda de flexibilidade.

A sua origem é genética e é desencadeada normalmente após momentos de desequilíbrio hormonal, como menopausa, gravidez e uso de anticoncepcional, acometendo exclusivamente mulheres. 

Além dos aspectos físicos, o lipedema merece ainda mais atenção pelos problemas sociais e emocionais, isso é, não é sobre estética somente, mas principalmente sobre o impacto da condição em diferentes aspectos da vida da pessoa. Geralmente, a mulher se queixa e se priva de utilizar roupas que mostrem as pernas ou que marquem a região da cintura. 

Por ser muito confuso e pouco difundido, aliás, é recentemente difundido, as pacientes acabam sofrendo com diagnóstico tardio ou já passaram por tratamento anterior sem resultados, o que geralmente deixa a mulher frustrada e com pouca esperança de que haja alguma melhora da condição posteriormente. Por isso, é importante o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar especializada nessa área.

 

Tratamento com fisioterapia para lipedema existe?

Lipedema é uma condição crônica e não tem cura. O tratamento consiste em minimizar sintomas como: diminuir o edema, reduzir a dor, a inflamação, a hipersensibilidade, e claro, minimizar a progressão da doença, além de controlar todos sintomas para melhorar a qualidade de vida das mulheres com lipedema. 

O tratamento pode ser cirúrgico ou conservador e, apesar de crônico, é possível controlar os sintomas e melhorar muito a qualidade de vida. Antes da cirurgia, é indicado as medidas de tratamento mais globais como: a regulação através de uma dieta balanceada, exercícios e fisioterapia. 

Aqui, vale dizer que a alimentação e a falta de atividade física também influenciam. Uma alimentação rica em açúcares, carne vermelha, consumo de bebidas alcoólicas, podem influenciar por serem inflamatórias, piorando  ainda mais o quadro. Acesse as informações no texto da minha colega Paola Machado sobre a diferença entre lipedema e linfedema.

Ainda poucos profissionais têm experiência ou especialização no cuidado de pacientes com lipedema. Mas com a capacitação adequada, a fisioterapia por meio de aparelhos modernos e específicos, terapias manuais, drenagem linfática, compressão e exercícios, pode tratar a sensibilidade dos tecidos, restrição de movimentos, fadiga, inchaço e sensação de peso nas pernas, diminuindo e auxiliando a inflamação, fibrose e edema. Pedi a orientação da especialista Dra Ana Clara Desidério que possui experiência nos atendimentos encaminhados por médicos vasculares, para nos explicar melhor como a fisioterapia para lipedema pode ajudar a melhorar o quadro:

  • Ultrassom (US): atua na alteração e quebra de células de gordura melhorando o aspecto da pele.
  • Terapia por ondas de choque (TOC): possui efeitos vasodilatadores e reduz o estresse oxidativo, estimulando a formação de novas células e fibras musculares, diminuindo a flacidez .
  • Laser de baixa intensidade (LLLT): tem a finalidade de bioestimulação e biomodulação dos tecidos, melhorando a inflamação.
  • Bota pneumática, drenagem linfática e taping:  permitem a melhora da drenagem de membros inferiores, diminuindo a sensação de peso e fadiga, facilitando o retorno linfático e drenagem de líquidos e toxinas.
  • Exercícios: têm o objetivo de correção, proteção articular e melhora da mobilidade, reduzindo o excesso de tecido adiposo. Além disso, o exercício tem o poder de melhorar a saúde em geral, a autoestima e melhora da qualidade de vida.  Os tipos de exercícios mais indicados são os aeróbicos e de resistência, com baixo impacto como pilates, exercícios funcionais, musculação, hidroginástica, natação, bicicleta e yoga, são algumas das indicações. Estes tipos de atividade melhoram a força, resistência e também trabalham o sistema cardio respiratório, melhorando também os sintomas de ansiedade e depressão que muitas mulheres com lipedema possam apresentar. 

Alguns aparelhos com correntes elétricas podem ser utilizados durante o exercício, melhorando e muito, a ativação de grupos musculares que as pacientes têm dificuldade em ativar corretamente. Veja mais  aqui como podemos te ajudar!

 

Atenção!!!

Já as atividades com alto impacto não são indicadas! Pois pioram e aumentam a inflamação e a dor.  Antes de iniciar uma atividade física sempre consulte o seu médico, todos os exercícios devem ser bem orientados e acompanhados por profissionais especialistas com experiência em lipedema. 

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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Paula M.C. Donahue, et al. PT,Physical Therapy in Women with Early Stage Lipedema: Potential Impact of Multimodal Manual Therapy, Compression, Exercise, and Education Interventions. LYMPHATIC RESEARCH AND BIOLOGY Volume 20, Number 4, 2022 Physical Therapy in Women with Early Stage Lipedema: Potential Impact of Multimodal Manual Therapy, Compression, Exercise, and Education Interventions – PubMed (nih.gov)
Nicolás Pereira C. Lipedema: más que un problema de “piernas gordas”. Actualización en la fisiopatología, diagnóstico y tratamiento quirúrgico. Rev. cir. vol.73 no.3 Santiago jun, 2021. 
https://aelinfedema.org/wp-content/uploads/2019/11/Consenso-Lipedema-v.Sep-2019.pdf