Todos sabemos que praticar exercícios físicos regularmente tem um grande impacto em nossa saúde e qualidade de vida, mas em um estudo publicado recentemente, pesquisadores de Harvard descobriram que a hora do dia em que escolhemos praticar atividades físicas, pode influenciar na chance de desenvolver diabetes tipo 2. 

O diabetes tipo 2 ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida, o que chamamos de resistência à insulina, e dessa forma, não consegue regular adequadamente os níveis de açúcar no sangue. Está diretamente relacionado ao sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares inadequados. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 90% das pessoas diabéticas são do tipo 2, e a doença acomete mais de 11 milhões de pessoas.

Já sabíamos que a prática regular de atividades físicas pode ajudar na prevenção da doença, e no controle para aqueles que já têm o diagnóstico, entretanto, essa pesquisa mostra que o horário do dia em que praticamos e a intensidade do exercício, são determinantes para o desenvolvimento da diabetes tipo 2.

Nesse estudo, foram avaliadas mais de 93 mil pessoas, através do uso de pulseiras que mediam o tempo, a frequência, a intensidade e a constância dos treinos ao longo de uma semana, e que também determinavam se os exercícios eram realizados no período da manhã, da tarde ou da noite. Foram incluídas apenas pessoas sem histórico de diabetes, com uma média de idade de 62 anos.

Após seis anos da avaliação inicial, os pesquisadores avaliaram quantos desses indivíduos tinham sido diagnosticados com diabetes tipo 2. Dentre os resultados encontrados, descobriram que aqueles que faziam atividades físicas pela manhã e à tarde, tinham um risco significativamente menor de desenvolver diabetes, em contraste com aqueles que praticavam no período da noite. 

Essa informação confirma, o que alguns estudos já tentavam provar através de experimentos com ratos, que praticar exercícios físicos durante o dia teria um impacto maior no metabolismo, com mais benefícios para a saúde e até mais queima de gordura. O que justifica isso é a oscilação que ocorre naturalmente em grande parte dos nossos hormônios ao longo do dia.

Com os dados deste estudo, os pesquisadores também observaram que para a prevenção do diabetes, os exercícios que eles classificaram como de intensidade moderada para vigorosa, ou vigorosa, eram mais efetivos e não sofriam o efeito da hora do dia em que eram realizados. Ou seja, os participantes que se exercitavam de forma mais intensa tiveram menos diabetes, independente do horário que treinavam.

Mas um resultado curioso encontrado, foi que a constância dos exercícios ao longo da semana não é tão importante quanto a somatória total praticada na semana. Por exemplo, duas sessões de treinamento de 75 minutos teriam o mesmo benefício que cinco sessões de 30 minutos no período de uma semana, ao contrário do que se acreditava.

Como qualquer estudo científico, este apresenta seus pontos de questionamento, mas algumas informações podem ser aplicadas, como a preferência pelo período da manhã para se exercitar, principalmente no caso de indivíduos que realizam exercícios mais leves, como idosos ou pacientes em reabilitação cardíaca. 

Para aqueles que praticam atividades mais intensas, o horário não terá influência nos benefícios para o diabetes tipo 2. Já para aqueles que não dispõem de uma agenda que permita realizar exercícios de forma constante ao longo da semana, sessões menos frequentes e mais longas podem ser a solução.

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

Tian, C., Bürki, C., Westerman, K.E. et al. Association between timing and consistency of physical activity and type 2 diabetes: a cohort study on participants of the UK Biobank. Diabetologia(2023).
Sato S, Basse AL, Schönke M, Chen S, Samad M, Altıntaş A, Laker RC, Dalbram E, Barrès R, Baldi P, Treebak JT, Zierath JR, Sassone-Corsi P. Time of Exercise Specifies the Impact on Muscle Metabolic Pathways and Systemic Energy Homeostasis. Cell Metab. 2019 Jul 2;30(1):92-110.e4. 
Feng H, Yang L, Liang YY et al (2023) Associations of timing of physical activity with all-cause and cause-specific mortality in a prospective cohort study. Nat Commun 14(1):930. 
Doherty A, Jackson D, Hammerla N et al (2017) Large scale popu- lation assessment of physical activity using wrist worn accelerom- eters: the UK Biobank study. PLOS ONE 12(2):e0169649. 
Le Goallec A, Collin S, Jabri M, Diai S, Vincent T, Patel CJ (2023) Machine learning approaches to predict age from accelerometer records of physical activity at biobank scale. PLOS Digital Health 2(1):e0000176. 
Ainsworth BE, Haskell WL, Whitt MC et al (2000) Compendium of physical activities: an update of activity codes and MET inten- sities. Med Sci Sports Exerc 32(9 Suppl):S498–S504. 
Van der Velde JHPM, Boone SC, Winters-van Eekelen E et al (2022) Timing of physical activity in relation to liver fat content and insulin resistance. Diabetologia. 
Savikj M, Gabriel BM, Alm PS et al (2019) Afternoon exercise is more efficacious than morning exercise at improving blood glucose levels in individuals with type 2 diabetes: a randomised crossover trial. Diabetologia 62(2):233–237. 
Mancilla R, Brouwers B, Schrauwen-Hinderling VB, Hesselink MKC, Hoeks J, Schrauwen P (2021) Exercise training elicits supe- rior metabolic effects when performed in the afternoon compared to morning in metabolically compromised humans. Physiol Rep 8(24):e14669.