Você já parou para pensar porque monitoramos o ganho de peso das gestantes durante todo o pré-natal? Certamente não é por razões estéticas. Tudo bem que algumas mulheres ganhem menos do que o necessário, mas na grande maioria dos casos, o acompanhamento busca reduzir os impactos do ganho excessivo de peso durante a gravidez. Mas quais seriam os riscos e possíveis consequências de ganhar muito peso durante a gravidez? E para quem já está acima do peso e engravidou?
Excesso de peso e a gravidez: alterações hormonais
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade já pode ser considerada uma epidemia global. Mais de um bilhão de adultos, em todo o mundo, está acima do peso, sendo que destes, 500 milhões são considerados obesos. No Brasil, segundo o IBGE, mais de 60% da população está acima do peso, e esses números seguem crescendo a cada ano.
O controle do peso para mulheres que desejam gestar não é importante apenas durante a gravidez, vem de muito antes. A obesidade causa alterações hormonais que podem atrapalhar a ovulação e dificultar a fecundação. Alguns estudos sugerem também que mulheres obesas podem ter menor taxa de sucesso em tratamentos de infertilidade, como a fertilização in vitro por exemplo. As alterações hormonais causadas pelo excesso de peso podem deixar o endométrio, camada que reveste o útero internamente, menos favorável à implantação do embrião. Alguns estudos apontam também para um risco aumentado de abortamento entre mulheres acima do peso.
Riscos para o fornecimento de nutrientes pela placenta
A placenta tem um papel não só de fornecer nutrientes para o feto, mas também de produzir uma série de hormônios que são essenciais para a gravidez. Estudos realizados com placentas após o parto, revelam que as placentas de mulheres com sobrepeso e obesidade são maiores e com mais alta concentração de gordura. Além disso, apresentam grande quantidade de macrófagos, que são células de defesa, juntamente com substâncias inflamatórias, parecidas com aquelas que, na obesidade, causam aumento de risco para doenças cardiovasculares. O resultado é que isso tudo pode levar a alteração no fluxo de sangue e nos nutrientes fornecidos pelos vasos sanguíneos da placenta, podendo atrapalhar na produção de diversos hormônios importantes para a gestação.
Esses hormônios, junto com outras modificações que ocorrem no corpo da gestante, levam a diversas alterações metabólicas, entre elas um aumento da resistência à insulina, que é similar ao que ocorre em um estado pré-diabético. Só que em mulheres acima do peso, isso ocorre de forma muito mais acentuada, o que leva ao aumento na chance de diabetes gestacional e todas as suas complicações.
Hipertensão arterial e pré-eclâmpsia
Hipertensão arterial e pré-eclâmpsia também estão entre as consequências da obesidade e do ganho de peso excessivo na gravidez, elas são responsáveis pela maioria das mortes maternas em qualquer país do mundo.
Todos estes problemas aumentam as chances de mulheres com sobrepeso e obesidade terem complicações no parto, como prematuridade, maior taxa de cesárea, mais dificuldade com a anestesia, mais infecções, trombose e necessidade de UTI. Mas o que pode ser feito? Como controlar o peso em uma fase com tantas oscilações emocionais e mudanças?
Como controlar seu peso durante a gestação
Atividade física! A primeira dica talvez não seja tão óbvia para alguns, pois existe muita informação desencontrada, até mesmo vinda de profissionais da área. As gestantes não só podem como devem praticar atividade física. As vantagens vão muito além do controle do peso. Já fiz um texto aqui sobre o assunto.
Passar por uma avaliação e fazer acompanhamento com um nutricionista pode fazer toda diferença, não só no cálculo dos nutrientes e elaboração do cardápio, mas também nas dicas para lidar com as armadilhas e necessidades do dia a dia. Existe a cultura no Brasil de que grávida precisa “comer por dois”, e isso é um absurdo. Seja no ambiente de trabalho, social ou familiar é muito comum oferecerem comida a mais para as grávidas. Comer mais ou ganhar mais peso na gravidez não vai fazer o bebê crescer mais, e bebês maiores ou mais pesados não são necessariamente mais saudáveis.
As necessidades calóricas da gestante são calculadas de acordo com peso, idade e quantidade de atividade física realizada. Agora vai a notícia que pode chocar muita gente: nos primeiros 3 meses as gestantes precisam ingerir as mesmas quantidades de antes de engravidar, nada a mais. No segundo trimestre aumentam em aproximadamente 300 quilocalorias por dia e no último trimestre 400 quilocalorias a mais.
Entendo que para muita gente pode ser um desafio e tanto se manter dentro dessas recomendações, que a gravidez é um momento de mais ansiedade, mudanças e que as ofertas por alimentos não saudáveis ou muito calóricos é enorme, mas quando paramos para pensar melhor, o que representa esse esforço quando é a saúde de um filho que está em jogo? O sacrifício de passar algumas vontades certamente terá valido a pena no final. Confira mais sobre o assunto aqui!
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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