Já dizia o ditado: “você é o que você come”! “Ser o que você come” pode influenciar nas suas escolhas, comportamento alimentar e estudos mostram que o que você come pode estar codificado no seu DNA.
Estudos indicaram que sua genética desempenha um papel na determinação dos alimentos que você considera deliciosos ou repugnantes. Sabemos que existe alguma contribuição genética para o motivo pelo qual comemos os alimentos que comemos. Entretanto, temos ainda muito a estudar, também por conta da herdabilidade.
A herdabilidade é a quantidade de genética que contribui para uma característica. Assim, características como a altura, que é muito genética, podem ter uma hereditariedade de 50 a 80%. Mas a dieta provavelmente tem uma herdabilidade muito pequena, ou componente genético, porque é influenciada por muitas outras coisas importantes, como condição socioeconômico, cultura, educação e outros fatores que nada têm a ver com o sabor ou gosto dos alimentos.
Um estudo de 2020 de Cole e colaboradores intitulado em “Comprehensive genomic analysis of dietary habits in UK Biobank identifies hundreds of genetic associations”, identificou, por meio de uma análise genômica de um banco de dados público de informações genéticas e de saúde de 500.000 participantes, 481 regiões do genoma (ou loci), que estavam diretamente ligadas a padrões alimentares e preferências alimentares.
Ao escanear os genomas, a nova análise foi capaz de localizar 194 regiões associadas a padrões alimentares e 287 ligadas a alimentos específicos, como frutas, queijo, peixe, chá e álcool.
No estudo foi encontrado regiões no genoma que provavelmente influenciam uma variedade de características dietéticas, incluindo a ingestão de frutas, aves ou peixes ou diferentes tipos de café ou ingestão de álcool. Também mostrou associações genéticas com padrões alimentares mais complexos, como se alimentar de forma mais saudável ou não.
Alguns dos genes que tiveram o efeito mais forte na dieta são os genes dos receptores gustativos, receptores olfativos e enzimas digestivas. Isso inclui o gene do receptor do sabor amargo – mais conhecido por influenciar a ingestão de vegetais crucíferos.
Na maioria das nossas dietas, comemos vários alimentos juntos, de modo que os alimentos que ingerimos geralmente estão conectados uns aos outros. Mas os genes dos receptores olfativos que identificamos são muito específicos.
Existe uma região no genoma para um receptor olfativo associado à quantidade de chá que alguém ingere, por exemplo. Pesquisadores descobriram um genótipo, ou uma versão diferente de uma variante genética, que explica a capacidade de alguém de cheirar um composto chamado beta-ionona. Se você tem uma versão desse gene receptor olfativo, pode sentir o cheiro da beta-ionona e, se tiver a outra versão, você não consegue sentir o cheiro.
O que acontece a beta-ionona está em um monte de coisas – como tabaco, uvas, suco de laranja, mamão, pêssego, framboesa, hortelã e chá. Portanto, esta versão deste genótipo pode ditar – um pouco, até certo ponto – se você fuma, porque está no tabaco, ou se você come uvas ou bebe suco de laranja ou chá.
Outra pesquisa analisou como mais de 150.000 participantes classificaram suas preferências por 139 alimentos e bebidas diferentes usando uma escala de nove pontos. Em seguida, os cientistas analisaram as informações genéticas dos participantes e os resultados de seus questionários de preferência alimentar para ver se conseguiam identificar alguma conexão.
Foram encontradas 1.401 variações genéticas, muitas das quais relacionadas a certos traços de preferência alimentar (ou por um alimento específico ou por grupos de alimentos). Usando essas informações, os pesquisadores classificaram os alimentos em três categorias, como altamente palatável —alimentos calóricos e doces —, de baixo teor calórico —legumes, vegetais ou grãos —, e adquirido —apreendidos ao longo da vida, como álcool, café sem açúcar, vegetais com muitos temperos.
Quando os pesquisadores analisaram como as variações genéticas estavam ligadas à saúde, encontraram uma relação entre as categorias de preferência e certos traços de saúde. Os resultados foram:
- As pessoas que eram mais propensas a escolher alimentos altamente palatáveis carregavam variantes genéticas ligadas a um maior risco de obesidade e níveis mais baixos de atividade.
- As pessoas que gostavam de alimentos de sabor mais fortes tinham o colesterol mais baixo do que as pessoas que não tinham preferência por esses sabores e este grupo também foi mais propenso a ter uma maior ingestão de álcool.
- A preferência alimentar de baixo teor calórico foi associado ao aumento da atividade física.
- Quando se tratava de analisar alimentos e grupos de alimentos específicos, os estudiosos descobriram que nem todos carregavam um gene para gostar de todos os alimentos em uma categoria. Por exemplo, as pessoas que gostavam de legumes cozidos não necessariamente gostavam de salada.
Entretanto, exames de ressonância magnética mostraram que a preferência por alimentos mais calóricos podem estar ligadas a uma parte do cérebro envolvida no processamento do prazer, o que sugere que o gosto pela comida é mais influenciado pela biologia do que pelo comportamento. Embora os receptores de sabor desempenhem um papel importante sobre quais alimentos você gosta, é, na verdade, o que acontece em seu cérebro que impulsionará o que os estudiosos observaram no estudo, sendo que a principal divisão de preferências não é entre alimentos salgados e doces, mas sim entre alimentos altamente prazerosos e altamente calóricos e aqueles para os quais o gosto precisa ser aprendido — essa diferença se reflete nas regiões do cérebro envolvidas em seu gosto e aponta fortemente para um mecanismos biológicos subjacentes.
A genética pode desempenhar um papel maior em suas preferências alimentares do que você pensa. Embora você não possa mudar seus genes ou suas papilas gustativas, aceitar seus gostos e desgostos alimentares e trabalhar com eles junto com auxílio profissional, em vez de contra eles, pode ajudá-lo a criar um plano alimentar nutritivo que você goste.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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