Enjoo, náuseas e vômitos são tão comuns na gravidez que são quase obrigatórios em mulheres no início da gestação em filmes e séries. É só a personagem aparecer vomitando abraçada ao vaso sanitário que logo confirmam que está grávida. Pior que, estatisticamente, isso faz sentido.

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), esses sintomas aparecem em cerca de 85% das gestantes nas primeiras semanas. Em 25% delas observamos um quadro de enjoos exclusivamente matinal, que melhoram ao longo do dia. 10% das gestantes chegam a precisar de tratamento medicamentoso e 1% desenvolve um quadro que chamamos de hiperemese gravídica, quando há a necessidade de reposição de líquidos e eletrólitos através de soro, muitas vezes com internação hospitalar.

Os sintomas são progressivos no início da gravidez e vão piorando com o passar das semanas, mas tendem a melhorar depois de 3 meses, sendo muito raros depois da metade da gestação.

 

Mas o que causa esse desconforto?

Acredita-se que vários fatores somados sejam responsáveis por esses sintomas, sendo o principal deles o aumento dos níveis de alguns hormônios de forma progressiva, entre eles os estrogênios, a progesterona e principalmente o hCG (gonadotrofina coriônica humana). 

A progesterona é conhecida por seu efeito no tubo digestivo, tornando-o mais lento. Isso faz com que o estômago demore mais para se esvaziar após uma refeição, possivelmente piorando os enjoos e vômitos. Esse efeito da progesterona também justifica a constipação intestinal tão frequente nas gestantes.

O hCG é aquele hormônio usado para confirmarmos o diagnóstico de gravidez, pois está presente no sangue e na urina das gestantes desde o começo do processo. No início é produzido principalmente pelos ovários, mas depois de 3 meses, sua produção passa a ser predominantemente na placenta, e é justamente essa mudança que pode ser responsável pela melhora dos sintomas nessa fase.

Só que agora, uma nova descoberta pode mudar a maneira como lidamos com isso. Foi publicado neste mês na revista Nature, um artigo que explica de que maneira o hormônio GDF15 (growth differentiation factor 15) influencia na presença e na intensidade das náuseas e vômitos na gravidez.

Os pesquisadores acreditam que este hormônio, que tem seu aumento mais evidente em algumas espécies animais, principalmente nos primatas, tenha tido papel importante em nossa evolução, impedindo que a gestante ingerir alguns determinados tipos de alimentos potencialmente perigosos para ela e para o feto. Apesar disso não fazer mais tanto sentido nos dias atuais, pois não precisamos caçar ou colher nossos alimentos, essa informação pode ser útil na busca por novas opções de tratamento que sejam mais eficazes, principalmente para os casos mais graves.

Mas, enquanto ainda não temos disponível alguma medicação que haja especificamente no efeito da GDF15, aqui vão algumas dicas para as gestantes que sofrem com enjoos e vômitos:

 

  • Procure fazer refeições leves e menos volumosas: como já disse, toda a digestão da gestante é mais lenta e, além de ocorrer um esvaziamento mais lento do estômago, podem ocorrer refluxo e azia, portanto, refeições menores diminuem risco destes efeitos, que podem ser gatilhos para náuseas e vômitos. Aqui vale evitar também alimentos muito gordurosos ou processados. Além disso, alimentos frios e menos temperados são ótimas opções;

 

  • Evite ingerir muito líquido durante as refeições: pelos mesmos motivos da dica anterior, mas lembre-se de se manter hidratada ao longo do dia, o que é super importante na gestação, principalmente com as ondas de calor que temos vivenciado com frequência;

 

  • Consuma frutas cítricas e gengibre: algumas frutas como limão e laranja costumam aliviar os sintomas de enjoos na gravidez. Uma opção que costuma ajudar é beber água com gás com uma rodela de limão ou mesmo limão espremido;

 

  • Evitar cheiros fortes: evitar perfumes ou mesmo alimentos com cheiros muito fortes;

 

  • Praticar atividades físicas: a atividade física ajuda a melhorar o trânsito intestinal, além de proporcionar sensação de bem-estar.

Se mesmo com essas dicas os enjoos e vômitos persistirem, existem alguns medicamentos que são seguros para o uso em qualquer fase da gravidez, mas devem ser usados com orientação médica, durante o acompanhamento pré-natal.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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Êmese da gravidez / Geraldo Duarte… [et al]. — São Paulo: Federação das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, no. 2/Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-natal).