A endometriose é uma doença que gera cólicas e dores intensas no período menstrual e durante a relação sexual, afetando de forma direta a qualidade de vida das mulheres. Quando não tratada de forma precoce, impacta todos os aspectos da vida social, afetiva e emocional.

O problema ginecológico tem como principal característica o crescimento de tecido uterino (endométrio) fora do útero, causando quadro inflamatório marcado por dores intensas, cólicas e, em alguns casos, infertilidade.

 

E como isso acontece?

Quando a mulher está em seu ciclo menstrual, o endométrio (camada que reveste a parede uterina) se descama quando não há embrião implantado, gerando o fluxo menstrual.

Já na endometriose, o endométrio parece seguir um fluxo retrógrado e se alojar fora da cavidade uterina, podendo se implantar em trompas, ovários e até órgãos, como estômago ou intestino, o que chamamos de endometriose profunda.

Não se sabe exatamente a causa dessa doença, e há estudos que abordam que essas células do endométrio já estariam presentes antes mesmo da mulher entrar na puberdade.

No entanto, em todo novo ciclo menstrual, essas células, alojadas em outros locais fora do útero, pela ação hormonal, são estimuladas e causam um processo inflamatório, gerando aderências e tecido cicatricial, que podem levar a vários sintomas e até, a infertilidade.

Os sintomas da endometriose variam com a sua localização, mas vou pontuar alguns:

 

  • Dor durante a relação sexual (dispareunia);
  • Dor durante o ciclo menstrual (dismenorreia);
  • Síndrome do intestino irritável;
  • Dor ou desconforto ao evacuar;
  • Síndrome da bexiga dolorosa;
  • Dor abdominal;
  • Dor lombar;
  • Enxaqueca;
  • Fadiga (51% a 87% apresentam cansaço intenso).

 

Como funciona o tratamento da endometriose?

O tratamento, em alguns casos, pode demandar cirurgia para retirada e supressão hormonal. Mas vale dizer que, infelizmente, mesmo após o procedimento, muitas mulheres continuam a sofrer com sintomas. Por isso, o foco principal, quando se pensa em endometriose, é o manejo da doença e as mudanças no estilo de vida dessa mulher.

 

Benefícios da atividade física para mulheres com endometriose

Muitos estudos mostram que existe uma relação entre a dor crônica e o sedentarismo. Se já para quem não tem uma doença é difícil manter a prática regular de atividade física, imagine para quem sofre com dores, por causa de um problema como a endometriose.

Dados revelam que entre 51% a 87% dessas mulheres apresentam fadiga intensa. Essa fadiga e a dor impedem a adesão a uma rotina de treinamento, e o ciclo do sedentarismo piora ainda mais os sintomas de fadiga crônica, insônia e depressão, além de outros impactos musculoesqueléticos envolvidos, piorando controle motor, estruturas de suporte muscular e assim, as dores se tornam ainda mais constantes.

As diretrizes internacionais enfatizam a importância da atividade física como parte da abordagem terapêutica em mulheres com endometriose. Os exercícios têm capacidade de remodelar os tecidos e modificar o sistema nervoso por meio da liberação de substâncias anti-inflamatórias e antioxidantes.

Além disso, o exercício aumenta a produção de substâncias como leucócitos, cortisol e adrenalina —com potentes efeitos anti-inflamatórios agudos, que têm um papel protetivo contra doenças inflamatórias crônicas.

Um sintoma comum em mulheres com endometriose é a dor lombar, pois elas apresentam alterações nos tecidos musculoesqueléticos, em especial os grupos de músculos abdominais profundos.

Os músculos abdominais profundos compõem o core e são estruturas essenciais para o controle postural. Quando enfraquecidos ou comprometidos pela doença, afetam o controle de toda a região lombo pélvica, aumentando o ciclo de dor crônica.

Estudos comprovam que nove semanas de exercícios terapêuticos supervisionados para a estabilização do core em mulheres, diagnosticadas com endometriose e com histórico de sintomas clínicos, geram resultados positivos em todos os aspectos da saúde e qualidade de vida. Exercícios regulares com intensidade moderada têm um papel importante em ativar as vias do cérebro bloqueadoras de dor.

 

Os exercícios ideais para essa condição

Foque no pilates, pois ele trabalha o controle postural e fortalecimento do core, além da maior consciência corporal. É uma ótima opção para prevenir as dores na lombar que afetam tantas mulheres.

Faça ioga. Além dos benefícios do movimento, pode contribuir na regulação da respiração, meditação e atenção plena para controle dos sintomas físicos e emocionais da mulher com endometriose.

Invista em aeróbicos (correr, pedalar, nadar). Essas atividades relacionam-se com a modulação da dor crônica e bem-estar.

Estudos mostram que o ideal é que os exercícios sejam feitos de forma regular e com intensidade moderada, com objetivo de ativar as vias bloqueadoras de dor.

É necessário ressaltar que exercícios físicos integram uma abordagem médica com tratamento medicamentoso ou cirúrgico. Por isso, mesmo que a passos pequenos, é importante inserir uma rotina de exercícios no tratamento da endometriose. Para isso, a dica é que procure sempre um profissional que esteja com você para indicar e orientar os melhores exercícios até que o seu corpo se adapte a uma nova rotina de treinos.

O exercício será benéfico em todos os aspectos físicos, emocionais e psicológicos —e vai transformar positivamente a sua rotina!

Colaboração: Dra. Renata Luri, Fisioterapeuta Doutoranda pela Unifesp e sócia da Clínica La Posture em São Paulo e Juliana Satake, Fisioterapeuta Especialista em Saúde da Mulher pela CAISM (UNICAMP)

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

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