Muito se tem falado nos últimos dias sobre a necessidade de educação sexual para as crianças, seja em casa ou na escola, como método de prevenção de danos — assédio sexual ou violação de menores.

Por isso, trago aqui hoje a importância dessa prática, como fazê-la da melhor forma e muitas informações para quebrar os tabus relacionados a esse tema.

Vocês concordam comigo que mesmo antes da criança nascer já estamos falando na sexualidade dela? Sim! Desde o chá revelação até a escolha do nome do bebê. Esses eventos acontecem espontaneamente, sem formalidades e sem muita consciência por parte da família, porém, essas tradições já ditam como será a educação sexual ao longo da vida da criança. 

Muitos pais, cuidadores e educadores têm a falsa impressão de que adiar a conversa sobre o tema “sexualidade” irá preservar a inocência das crianças e diminuir a erotização precoce. Alguns adultos acreditam que não há necessidade de informação uma vez que não há maturidade reprodutiva ainda. Porém, o que observamos nos dias atuais é que a falta de diálogo e informação expõe crianças e adolescentes a real maldade do ser humano.

 

E como é a evolução sexual na infância?

A sexualidade das crianças é basicamente uma grande descoberta dos seus próprios corpos através das relações com os pais, com outras crianças e da curiosidade em ver o que é diferente. Porém, o que o adulto vê nessas conversas e brincadeiras entre crianças é a perversão, ou seja, a interação é vista com maldade, como algo ruim, e muitas vezes verbalizado como “sujo” ou “proibido”. 

Vamos alinhar aqui que conversar cobre sexualidade não é conversar sobre sexo. Falar sobre sexualidade não tira a pureza das crianças. Ter curiosidade e buscar informação não fará a criança iniciar a vida sexual de forma precoce. E tocar e conhecer o próprio corpo ou o corpo do outro, inclusive a região genital, não é masturbação. 

A criança passa por 3 fases na primeira infância: a fase oral, a fase anal e a fase fálica. Em cada uma dessas fases do desenvolvimento é explorada uma região do corpo, a região que dá prazer para a criança no momento. 

Na fase oral existe o prazer na amamentação e o neném tem a descoberta da satisfação com sua boca e seus lábios. 

Já na fase anal, a criança descobre o prazer em controlar seu esfíncter para segurar ou liberar a saída das fezes. 

E por fim, na fase fálica, a criança, ainda desprovida de vergonha, entende a diferença entre um pênis e uma vagina (muitas vezes visto em casa com os próprios irmãos ou na escola com os amigos), olha e exibe sua sexualidade. É importante ressaltar que aqui há sim excitações acidentais e até a descoberta do prazer ao manipular seu órgão genital nesse momento, mas não há intenção sexual, portanto, principalmente aqui, falar que essa descoberta é “suja” ou é “proibida” pode acarretar uma parada, regressão do desenvolvimento e traumas na vida adulta. 

 

E quando a tia pergunta para a criança de 5 anos se “já tem namoradinho(a) na turma da escola?” 

“Comum”, não é mesmo? Questionar a criança é confundir seus sentimentos quanto amor e amizade desde a infância. 

Nessa fase, as conversas com a criança devem explorar os diferentes tipos de amizade e aproveitar o momento para explicar que os amigos podem ser de qualquer sexo, etnia, idade, classe social e que podem ter ou não deficiências. 

Nessa idade é importantíssimo ressaltar que todas as interações devem ser baseadas em confiança, respeito, compartilhamento, empatia e solidariedade —ou seja, é aqui que se deve conversar com a criança sobre pessoas que não a respeitam, que a maltratam ou até mesmo que a machucam. A criança já deve saber que existem muitas formas de expressar amizade como abraços, carinhos, beijos, então já deve ser orientada sobre os limites dessas experiências e quem pode ou não pode tocar nelas. 

 

Mas e quando é a própria criança que começa a trazer dúvidas sobre sua sexualidade, como responder? 

A pergunta de um milhão de reais, aquela que nem Freud tem a resposta… E é aí que vocês se enganam! Essa discussão é tão antiga que, em 1907, o brilhante médico já citado nesta coluna, o Dr Sigmund Freud, publicou uma carta aberta intitulada “O esclarecimento sexual das crianças” na qual ele traz que não há objetivo algum em negar às crianças e jovens o esclarecimento sobre a vida sexual dos seres humanos. 

Pensar em mentir ou omitir a verdade dando uma resposta insatisfatória à criança gera um conflito psíquico dentro da mente dela, podendo evoluir para uma dissociação psíquica e até a uma neurose. Ou seja, somar uma mentira ao conhecimento prévio que essa criança já tem na bagagem pode culminar em traumas e dificuldades sexuais na vida adulta. 

E a criança, por si só, elabora diversas teorias para cada pergunta que tem. “Será que os bebês nascem pelo umbigo? Será que pode engravidar pelo beijo? Será que todo mundo tem um pênis? Inclusive, por que meu irmão tem um pênis e eu não tenho?”. Para responder a essas perguntas da melhor forma, o primeiro passo é devolver outra pergunta: “o que você já sabe sobre isso?”. Ou melhor, com outras duas perguntas: “o que você pensa a respeito disso e com quem você já conversou sobre esse assunto?”. 

Lembre-se que se você leitor, que é familiar ou educador, não falar, a criança pode buscar respostas nas mídias sociais, na televisão, em filmes ou seriados adequados ou não para sua idade.

Respeite os limites que a própria criança trará sobre o assunto em questão e responda com a verdade, sempre respeitando a compreensão dela sobre o tema. 

Para ler mais, deixo aqui um guia da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) sobre “Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro: tópicos e objetivos de aprendizagem.”

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas