Já venho há algum tempo observando na minha prática clínica, os diferentes comportamentos de acordo com as diferentes faixas etárias, mas nunca tinha parado para pesquisar a respeito.
Tinha a percepção de que quando atendia uma paciente por volta de seus 70 anos e minha proposta de tratamento tinha estimulação de colágeno e tecnologias, o plano era quase sempre negado. Já quando atendia pacientes na casa dos seus 30 a 40 anos, esse era o ideal e eu acertava na mosca! Quando o público era da casa dos 15 a 25 anos e eu mencionava algo injetável, elas me olhavam como se eu fosse um “ET”. Isso é algo que, de fato, me intriga.
Por volta dos anos 80 a 90, não existiam muitas alternativas estéticas, de beleza. Consequentemente, o público dessa época cresceu com alternativas mais imediatistas, radicais, que eu chamo de corte ou costura –que é quando as alternativas de consultório eram poucas e somente a “faca” resolvia.
Assim, alternativas como lifting facial, blefaroplastia –uma cirurgia estética destinada a remover a pele enrugada e “caída” das pálpebras superiores e/ou inferiores — e fios de ouro eram as poucas técnicas disponíveis. Um pouco mais tarde, surgiu o preenchimento, com o polêmico PMMA e um tipo de laser que mais queimava do que tratava. Entretanto, o mercado estético de consultório começava a aquecer e a mentalidade estética, a mudar.
O público começou a sofrer uma mudança quando os médicos oftalmologistas Carruthers, no final dos anos 80, ao tratar blefaroespasmo –transtorno de causa neurológica, que ocorre a contração involuntária das pálpebras, podendo deixar a vista mais irritada, ressecada e a produção lacrimal pode ser prejudicada — em um paciente, notaram uma melhora das rugas na região da testa.
Com isso, o grande boom do mercado estético aconteceu e, de lá para cá, você já sabe! Preenchedores com ácido hialurônico, lasers diversos, tratamentos para estimulação de colágeno, injetáveis para gordura, criolipólise, máquinas de estimulação muscular, fios e tração reabsorvíveis, e o céu parece não ser mais o limite no mercado estético.
Parece que temos tudo à disposição, desde procedimentos para as necessidades mais urgentes até os mais organizados com planejamentos em longo prazo.
Mas, diante de todo esse universo estético à disposição, surge uma população cada dia mais consciente do que quer: o público dos 15 aos 25 anos, com uma rotina de skincare impecável (às vezes mais até do que precisavam para a idade), que preza pela saúde da pele acima de tudo, por uma beleza natural, sem grandes modificações, aceitando suas diferenças, valorizando o autocuidado e procurando mais saúde e menos intervenções.
Apesar da pressão negativa que sofre com as redes sociais —e por isso, a saúde mental é um dos seus focos de maior valorização —, o público mais jovem parece estar cada dia mais consciente em procurar informações reais sobre o que está colocando dentro de si e das decisões no futuro. Isso pode acarretar uma mudança radical no mercado estético mundial, com uma tendência dessa geração a usar muito pouca maquiagem ou quase não usar, e a valorização de uma pele bem cuidada cresce.
Nos congressos mundiais de dermatologia, já noto uma mudança muito grande nas tendências de tratamentos com direcionamentos maiores para tecnologias, ou injetáveis que favoreçam uma pele mais bonita, limpa, hidratada e clean, com ativos e empresas cruelty free (produto não é testados em animais), e que não gerem tantas mudanças imediatas, visando maiores resultados consistentes em longo prazo.
Em 2032, a geração Z –que nasceu completamente no mundo digital — representará 21% da população mundial e os players da beleza deverão se adaptar a esse mercado.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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