Volto a bater nessa tecla que é indissociável o cuidar de alguém sem esse olhar de que TUDO, absolutamente TUDO E TODOS ao redor irão influenciar. 

Quando os pacientes são encaminhados e encorajados a passar pelo psicólogo, e aqui trago meu relato pessoal e empírico, porque observo isso em muitos atendimentos para pessoas de diferentes faixas etárias, eu ainda vejo um balão de pensamento –como nos desenhos animados, algo bem caricato – ao lado da cabeça do paciente a ponto de eu conseguir ler: “Afff… a fisioterapeuta realmente não acredita em mim e acha que eu estou exagerando…” ou “Ela simplesmente não tá dando conta e acha que minha dor é só psicológica”. 

Como se ir ao psicólogo fosse uma sentença de que a pessoa não tem dores de verdade! Sendo, que na nossa última matéria, já desmistificamos esses tabus –volta lá na nossa matéria se você ainda não leu porque vai te ajudar demais a seguir essa linha de pensamento. 

Não há dores maiores ou menores. Cada um sente  à sua maneira e cada um sabe o impacto que traz em sua própria rotina.

Nesse fim de ano, estendo esse tema e escolhi a dedo porque sei que todos nós sentimos o cansaço bater física e mentalmente. E ter essa compaixão consigo pode nos encorajar a falar mais sobre a forma que conduzimos o cuidar da gente mesmo e dos que estão ao nosso redor. Eu te convido também a falar mais abertamente sobre como aspectos psicológicos, pensamentos,  sentimentos e emoções se relacionam à forma de sentir a dor em cada pessoa e em cada momento que vivemos. 

 

Toda vez que há dor…

A dor é interpretada objetivamente sob os aspectos: cognitivos, emocionais, contextuais -ou seja,  ela gera pensamentos e crenças e a partir disso, padrões de comportamento relacionados. De uma perspectiva emocional, a dor é interpretada como tristeza, impotência, ansiedade ou preocupação. 

Para acrescentar uma pitada mais interessante e individualizada a cada um de nós, considerando que cada pessoa possui contextos de vida diferentes, experiências e valores extremamente pessoais, a  percepção de um mesmo estímulo de dor será diferente e, por isso, a forma de agir e lidar com a dor é diferente para cada um. Isso é, a  condição dolorosa pode ser fortemente alterada conforme o valor que cada pessoa atribui a ela, à  situação vivida e sempre, nunca se esqueça, sempre a partir de sua própria perspectiva de vida.

A forma que nosso cérebro opera e nosso estilo de vida dizem muito sobre nossa saúde, mas também sobre nossas dores. A psicóloga, Dra. Elen, traz que: “Indivíduos ansiosos costumam ter uma tensão constante, sentem preocupação e medos excessivos que podem ser gatilhos para aumento do quadro álgico (dor)… Mas é possível aprender a cuidar e controlar o estresse e realizar atividades para redução das dores.”

Gosto muito de tratar e falar sobre pessoas que sofrem dores crônicas -sabe aquelas dores que são praticamente companheiras ao longo da vida da pessoa, vão e voltam, ou simplesmente estão sempre lá dando o ar da graça de forma sutil. Sabemos que essas pessoas têm sintomas de estresse relacionados que precisam ser cuidados, pois eles desencadeiam, mantêm ou amplificam quadros dolorosos.

Por isso, a importância de se cuidar das pessoas em todos os seus aspectos de vida. Dra Elen relata que o trabalho precisa ser feito junto com o paciente, modificando a sua percepção, entendendo como ele vê aquele processo doloroso, compreendendo o simbolismo para aquela dor, e os diagnósticos que também potencializam a dor já que tudo isso interfere, e  muito, na questão da melhora ou sucesso de tratamento com o profissional de saúde. 

A auto responsabilidade entra nesse quesito também. Muitas pessoas esperam que possam encontrar no médico e no fisioterapeuta, um Messias com uma solução completa de problemas, como um remédio que trata aquele problema para sempre. Infelizmente, nada é tão passivo e se tornar responsável pelo tratamento é mandatório. Delegar o cuidado da saúde a terceiros pode parecer ser a solução mais fácil, né? Afinal, nossa tendência é procurar culpar alguém como o caminho mais curto para fazer sentido na nossa própria cabeça -há quem chame isso de storytelling.

A psicóloga aborda a importância dos pacientes perceberem que mudanças poderão ser necessárias na vida deles e que, além do profissional, também precisam se comprometer com a questão do tratamento, seguindo orientações e para que eles entendam do papel em se responsabilizar pelo seu próprio cuidado. Nosso papel como profissionais de saúde deve ser conduzido sempre lado a lado de profissionais que compreendam o paciente e não somente a sua dor. 

 

Informações importantes que podem ajudar se você estiver errando…

1- Muitas pessoas se colocam em risco durante meses ou até anos, postergam tratamentos e todos os sinais do corpo, ultrapassando limites, pois mascaram diariamente a dor com analgésicos simplesmente repetindo o ciclo para continuar fazendo as tarefas do dia a dia. O psicólogo pode ajudar a romper esse ciclo?

Em tempos corridos como os de hoje, não é raro que as pessoas deixem a saúde de lado e foquem apenas no profissional e ganho financeiro. Vivemos uma vida repleta de fatores estressores e preocupações excessivas. O que nos acarreta utilizar substâncias de forma alienada e nos desconectarmos com os sinais e percepções do nosso corpo. As pessoas consideram muitas vezes mais fácil e rápido “resolver” seus problemas pessoais com uso descontrolado de medicações/analgésicos, numa falsa ideia de apoio e resolução imediata, do que se implicar de forma engajada em um processo de saúde terapêutico a longo prazo que necessite de tempo e paciência. A Psicologia pode sim romper esse ciclo alienado; identificando de que modo a presença da DOR está repercutindo na qualidade de vida do paciente e o quanto esse paciente tem conseguido enfrentar e ajustar seus recursos de enfrentamento a essa situação. O processo psicológico pode ajudar a perceber as dificuldades, trazendo consciência de si mesmo e mostrando sua capacidade de auto regulação e auto suporte. Inclusive perceber e mostrar as condições emocionais e os gatilhos que influenciam negativamente.

 

2- Quando o paciente deve procurar o psicólogo? Qual o momento que outro profissional encaminha para tratamento?

Quando a condição de dor passa a ocupar o centro de uma vida organizada em função de tratamentos, perdas e limitações… ou seja, quando a qualidade de vida se mostra extremamente prejudicada, é hora de buscar ajuda!

Quando o paciente apresenta percepção clara do seu mal-estar e da necessidade de se reorganizar; ou está experienciando um novo contexto de vida -afastamento do trabalho, desemprego, limitações físicas, prejuízo na rotina habitual ou está vivenciando situações de grande estresse e impotência e não dispõe de apoio externo ou interno para lidar com seu sofrimento, é hora de buscar ajuda!

Quando a equipe percebe sentimentos de desesperança, ansiedade elevada, dificuldades de seguir/de adesão à proposta terapêutica (sintomas ansiógenos e depressivos concomitantes ao quadro álgico) podem ser sinais de postura passiva no paciente e de expectativas idealizadas de que a resolução de todo tratamento está depositada somente na equipe.

 

Colaboração: ELEN KIRCHHOFF APPOLINARIO PIERRO – especialista em Psicologia Hospitalar – CRP 06/68278

@patologiadacoluna

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.