Alguns temas relacionados à saúde da mulher são recorrentes na mídia e nas redes sociais, e dentre eles, a eficácia (na verdade a falha) de métodos contraceptivos considerados os mais seguros, está entre os mais frequentes.

Provavelmente tal recorrência se dá justamente pela preocupação que essas notícias geram, o que as leva a serem amplamente divulgadas e comentadas. Uma das mais recentes relatava o caso de uma mulher que após uma gravidez indesejada, que ocorreu enquanto usava o DIU, fez uma laqueadura tubária e mesmo assim engravidou.

 

Mas afinal, esses métodos são realmente seguros? Existe método 100% eficaz?

Todo método contraceptivo tem sua própria taxa de eficácia e nenhum deles é 100% seguro, mas existem alguns tão eficazes que não há necessidade de preocupação. 

A taxa de eficácia dos diferentes métodos contraceptivos é chamada índice de Pearl, e o curioso é que, para alguns métodos são descritos 2 índices, um para o uso ideal e outro para o uso real. Essa diferença é observada apenas em métodos que dependem do usuário para funcionarem, como o preservativo, que precisa ser colocado e retirado corretamente, as pílulas que devem ser ingeridas todos os dias no mesmo horário. 

Obviamente a taxa de eficácia do uso ideal é sempre maior que a do uso real, mas para alguns métodos a taxa ideal é a mesma que a real, ou seja, não dependem do uso correto, o que os torna mais eficazes. 

Métodos inseridos através de um procedimento não podem ser retirados sem ajuda médica, portanto, mesmo que o usuário se esqueça deles, eles seguem funcionando normalmente. De forma geral, quanto mais um método depende do uso correto para funcionar, maior a chance de falhar.

Mas vamos aos métodos mais confiáveis, que geralmente são os que causam mais polêmicas:

 

DIU de cobre e DIU de cobre com prata

Podem apresentar diferentes tamanhos e formatos. São muito semelhantes quanto à ação e eficácia. Algo em torno de 0,8 mulheres a cada 100 que usam este método podem engravidar em um ano de uso, ou seja, menos de 1% em um período de 1 ano. O inconveniente dos DIUs é que eles dependem de um procedimento de inserção, mas como já dito, é justamente isso que os torna eficazes. Outro problema é que podem causar aumento do fluxo menstrual.

 

DIU hormonal

No Brasil existem 2 modelos de DIU hormonal, o mirena e o kyleena. Ambos liberam o mesmo hormônio dentro do útero, mas em doses diferentes. Diminuem muito o fluxo menstrual, que pode ser interrompido em boa parte das usuárias. Também necessitam de intervenção médica para serem inseridos e retirados, e a falha descrita para eles é em torno de 0,1 a cada 100, ou seja, apenas uma gravidez não planejada para cada 1.000 mulheres que usam esses métodos por um ano.

 

Implante subdérmico (Implanon)

Aqui estou me referindo apenas ao Implanon, um implante inserido embaixo da pele, que libera hormônio de forma contínua por até 3 anos. Outros implantes hormonais não são indicados para uso como contraceptivos, pois por serem provenientes de farmácias magistrais (manipulados) e não apresentam taxa de eficácia conhecida. O Implanon é o método contraceptivo disponível mais eficaz do mercado, falhando em 0,05 a cada 100 mulheres por um ano de uso. Alguns estudos relatam taxa zero de falha. Também precisam de um procedimento para serem inseridos e retirados. Algumas mulheres param de menstruar com seu uso, mas algumas apresentam sangramentos irregulares, que podem levá-las a desistir do método.

 

Laqueadura tubária

É o método contraceptivo cirúrgico realizado na mulher. Para isso o médico deve acessar as tubas uterinas, que estão localizadas no interior da cavidade abdominal, portanto deve ser realizada num centro cirúrgico por equipe devidamente qualificada. Pode levar a um aumento do fluxo menstrual em algumas mulheres. A taxa de falha é em torno de 0,5 gestações por 100 mulheres ao longo de um ano.

 

Vasectomia

O método cirúrgico do homem. Muito mais simples do que a laqueadura, pode ser feita em ambiente ambulatorial e com anestesia local. A taxa de falha é semelhante a da laqueadura.

 

Então, na próxima vez que você se deparar com alguma notícia dessas ou mesmo receber fotos de recém-nascidos segurando um DIU (sim essas fotos existem, mas não consigo acreditar que sejam reais), pense se seu método contraceptivo está entre os mais eficazes. Se não for o caso, pense se você está fazendo o uso mais correto possível do seu método de escolha. Digo método de escolha, pois essa deve sempre ser uma escolha da própria mulher e o ginecologista deve apenas orientar, tirar dúvidas e em alguns casos ajudar na decisão. Na vida todas as nossas escolhas têm consequências e essa é só mais uma delas, mas que seja feita com o conhecimento adequado.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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National Collaborating Centre for Women’s and Children’s Health (UK). Long-acting Reversible Contraception: The Effective and Appropriate Use of Long-Acting Reversible Contraception. London: RCOG Press; 2005 Oct.