Não, vocês não leram o título errado! Hoje vamos abordar a sexualidade masculina, uma vez que ela impacta diretamente na sexualidade feminina e no bom funcionamento do casal. Vocês não imaginam quantas e quantas vezes no consultório, conversando com minhas pacientes, identifiquei que a disfunção sexual estava no seu parceiro e não nela —causando sofrimento para ambos. 

Para esse tema, conversei com uma grande amiga (e parceira de grupo da pós-graduação em Saúde e Educação Sexual pelo Hospital da Mulher Pérola Byington), a psicóloga, Isabela Santana. 

 

Dra. Giulia. Um mesmo homem pode ter várias disfunções sexuais ao mesmo tempo?

Isabela Santana. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de transtorno mentais DSM-V, as disfunções sexuais formam um grupo de transtornos, que, em geral, se caracterizam por uma perturbação clinicamente significativa na capacidade de uma pessoa responder sexualmente ou de experimentar prazer sexual. E, sim, um mesmo indivíduo poderá ter várias disfunções ao mesmo tempo. 

 

Dra. Giulia. No seu consultório, qual disfunção normalmente aparece sem tantos tabus?

Isabela Santana. Falar de sexualidade pode vir acompanhado de diversos tabus, porém, a ejaculação precoce tem aparecido com mais frequência, por buscarem uma melhora independente dos tabus sobre essa conversa. 

Essa disfunção está caracterizada pela ejaculação que ocorre antes ou logo após a penetração com base no DSM-IV. Ela é uma disfunção que afeta homens de todas as idades e tem efeitos na qualidade de vida do sujeito. 

Muitos homens que conseguem relatar sobre essa demanda, queixam-se de uma sensação de falta de controle sobre a ejaculação e demonstram frustração a respeito dos possíveis encontros sexuais. Com isso, pode gerar autoestima diminuída, insegurança e consequências adversas para o relacionamento.

 

Dra. Giulia. Por que é tão importante buscar o diagnóstico? Já que percebemos uma grande resistência desse grupo social em buscar ajuda!

Isabela Santana. Não é por acaso essa resistência, mas, podemos falar sobre isso em outro momento. É importante buscar o diagnóstico para construção da qualidade de vida. As disfunções sexuais podem comprometer a vida social e familiar do indivíduo e, por isso, se faz necessário a busca por tratamento. Existem estudos que sugerem cuidados e abordagens sobre os possíveis impactos psicológicos potencializadores de sofrimento psíquico no intuito de ajudar na compreensão e na promoção do bem-estar desses homens. Ou seja, a finalidade do estudo e tratamento é compreender para cuidar e acolher, distanciando-se de toda construção social de estigmatizar.

 

Dra. Giulia. Você acredita que as disfunções sexuais na masculinidade vêm acompanhadas de sofrimentos psíquicos? 

Isabela Santana. O objetivo de criar espaços como esse é responder essa pergunta e propor uma discussão se essa temática é capaz de gerar ou potencializar um sofrimento ao indivíduo afetado pela patologia. Vale ressaltar que espaços de diálogos são extremamente necessários para conscientização e ofertar um tratamento humanizado, porém, não abarca toda dimensão da complexidade desse tema. 

Por isso, precisamos revisitar sempre que necessário a literatura acadêmica, valorizar e incentivar cada vez mais projetos de pesquisa. Sem embasamento científico não caminhamos muito. 

E, a partir dessa problemática, pode-se ampliar discussões sobre o desenvolvimento psicossexual da masculinidade e contribuir de forma significativa para os estudos sobre as disfunções sexuais. Entretanto, é possível ressaltar que pode existir um sofrimento psíquico diante de uma demanda que naturalmente deixa o indivíduo vulnerável diante do seu corpo e das suas emoções. 

 

Dra. Giulia. O julgamento clínico sobre o diagnóstico de disfunção sexual só pode ser levado em consideração questões biológicas? 

Isabela Santana. É de extrema importância compreender que a resposta sexual tem uma base biológica essencial, embora, em geral, seja vivenciada em um contexto intrapessoal, interpessoal e cultural. Ou seja, a função sexual pode envolver uma interação complexa entre fatores biológicos, socioculturais e psicológicos com base no DSM-V.  Um outro fator é que essa patologia pode se apresentar tanto para categoria homem ou mulher. 

Nesse cenário, o ejaculador precoce pode manifestar um alto nível de estresse, ansiedade e depressão. E isso não é por acaso que, socialmente, o homem ainda é muito cobrado pelo bom desempenho sexual e o medo de frustrar na relação pode gerar vários efeitos psicológicos.

Se quiser saber mais sobre o tema sexualidade, não deixe de acompanhar a minha coluna aqui na IstoÉ Bem-estar! 

Em colaboração: Isabela Santana,  29 anos, nordestina, nascida em Salvador/BA, atualmente moradora de São Paulo. Psicóloga clínica com pós graduação em neuropsicologia, saúde mental e sexualidade.

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.