Nos últimos anos, nossa dieta tornou-se mais industrializada e pobre em nutrientes. Nossa saúde foi prejudicada, pois é através da alimentação que temos acesso a nutrientes, vitaminas, minerais, entre outras fontes de uma vida com saúde e bem-estar. Para entender mais sobre a relação entre alimentação e saúde, trago o exemplo da microbiota e da vitamina D, explicando todas as suas funções essenciais no nosso corpo e como o seu bom funcionamento está relacionado à nossa alimentação.

 

O que é a microbiota intestinal?

Durante a última década, o incentivo dado ao estudo e aprimoramento no conhecimento do microbioma permitiu a produção de uma grande quantidade de conhecimento sobre as diferentes variáveis que desempenham um papel na arquitetura (diversidade e abundância de grupos) e na funcionalidade (atividades derivadas dos diferentes grupos) das comunidades de microrganismos que vivem em nosso intestino. 

O microbioma consiste no conjunto de microorganismos (bactérias, fungos, vírus e outros) que co-habita o nosso corpo, como por exemplo em nossa pele, pulmões, boca e intestino, para descrever alguns dos locais mais estudados. 

Em geral, o microbioma desempenha funções essenciais, como a manutenção da imunidade e evita a presença de microorganismos prejudiciais para o nosso corpo. Particularmente em nosso intestino, a microbiota é responsável pela quebra e transformação de elementos da dieta, favorecendo a absorção de nutrientes e a produção de moléculas necessárias para nutrir as nossas células e tecidos. Além disto, estes microrganismos são capazes de estimular o nosso sistema imunológico e nos proteger contra doenças infecciosas, autoimunes e neurodegenerativas, entre várias outras funções. Por estes motivos é realmente importante que cuidemos deste ambiente interno. 

Segundo o professor Nicolás Tobar, “Nós somos considerados como hospedeiros de todos estes microorganismos e, entre os vários fatores internos e externos que influenciam diretamente neste microbioma, a dieta é, sem dúvida, um dos principais determinantes da estrutura e da função da comunidade microbiana do intestino humano”. 

“A nossa alimentação facilita o envio de sinais que modificam a comunicação entre o hospedeiro e a sua microbiota; interação esta que favorece a manutenção do equilíbrio; quando este equilíbrio não ocorre, uma suscetibilidade ao desenvolvimento de doenças estará presente”, afirma o pesquisador. 

A partir desta fala, nos damos conta de que, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, muitas das doenças mais frequentes estão diretamente relacionadas à dieta. Infelizmente, as estratégias nutricionais para a prevenção ou tratamento de tais doenças não têm demonstrado grande eficácia, reforça Tobar.

No entanto, esta afirmação explícita a necessidade de implementação de políticas e estratégias cada vez mais voltadas para a promoção de hábitos saudáveis de estilo de vida e alimentação; este último porque o conteúdo e a quantidade da dieta podem sim, modificar as interações entre nutrientes e microrganismos promovendo efeitos benéficos e preventivos. Este efeito protetor pode ser garantido a partir de uma mudança consistente e permanente em nossa alimentação cotidiana. 

Devido à transição alimentar dos últimos anos, o consumo de alimentos ultraprocessados e dietas com alto teor calórico está se tornando cada vez mais comum. Além disso, a ingestão de alimentos ricos em fibras alimentares diminuiu drasticamente, ao mesmo tempo que se notou um aumento na ingestão de alimentos com excesso de gorduras saturadas, sal e carboidratos refinados, fatores que estão diretamente associados ao desenvolvimento da obesidade, da síndrome metabólica e de doenças cardiovasculares.

 

Como podemos introduzir na rotina uma dieta com funções protetoras, mantendo o equilíbrio da microbiota intestinal?

  • Alimentação com predomínio de cereais integrais, frutas, verduras, legumes e leguminosas, considerada rica em fibras alimentares, uma vez que este nutriente auxilia a manutenção das bactérias “protetoras” de nosso intestino, que são encarregadas de produzir moléculas importantes para a nossa saúde, como por exemplo, os ácidos graxos de cadeia curta, vinculados com a manutenção da microbiota intestinal.
  • A utilização/consumo de probióticos (lactobacillus), é uma alternativa que contribui de maneira importante para a saúde e manutenção da microbiota intestinal. Os probióticos são microorganismos vivos que podem ser incorporados em sua forma comercial (sachês e cápsulas, por exemplo), ou por meio de alimentos como kefir, coalhada, kombucha e demais fermentados, entre outros. No entanto, a utilização na forma comercial deve ser recomendada e acompanhada por um profissional da área da saúde, como nutricionista ou médico.
  • Introduza diariamente alimentos ricos em ácidos graxos insaturados (nozes, castanhas, amendoim, azeite de oliva, abacate ou avocado, semente de linhaça, gergelim) e polifenois (frutas vermelhas, laranja, chá verde, vegetais e leguminosas).
  • Evite consumir alimentos ricos em gordura saturada, sódio (embutidos, industrializados, sal de adição, carnes gordas, frituras, lácteos integrais, manteiga) e carboidratos refinados (açúcar, farinha branca, biscoitos, balas e doces em geral). 

Devemos ser cuidadosos com a nossa alimentação, uma vez que a microbiota intestinal é capaz de interagir com os componentes de nossa dieta e gerar produtos /moléculas que têm um impacto negativo ou positivo em nossa saúde.

 

Benefícios de uma microbiota intestinal saudável

Nossa microbiota intestinal é responsável por recuperar a energia fornecida pelos alimentos, liberar vitaminas, minerais e antioxidantes, assim como controlar a presença de patógenos exógenos. Ela também auxilia na integridade da barreira epitelial intestinal e o desenvolvimento do sistema imunológico intestinal, reforça Nicolás Tobar, sobre a importância de uma alimentação balanceada para evitar diversas doenças. 

Saiba que a dieta ocidental (rica em gordura) atual, é capaz de promover, uma condição de desequilíbrio chamada disbiose, caracterizada pela disfunção da barreira intestinal, aumento da permeabilidade intestinal e a entrada na circulação de metabólitos, moléculas tóxicas produzidas pelas bactérias negativas em nosso intestino. Todos esses fatores podem contribuir de forma importante com o desenvolvimento de inflamação sistêmica de baixo grau, uma característica comum das doenças crônicas não transmissíveis mais comuns na atualidade.

A nutrição personalizada é um enfoque emergente, atual e promissor, baseado em dados que poderiam permitir dietas adaptadas individualmente, segundo as necessidades particulares de cada condição de saúde. 

Outra orientação importante sobre alimentação e estilo de vida é a exposição diária e com proteção ao Sol, garantindo desta forma a nossa dose diária de vitamina D. O consumo de seus alimentos fonte: gema de ovo, atum, salmão, leite e seus derivados, deve fazer parte de nossa rotina alimentar.

Isto porque vários relatórios científicos robustos mostram que a vitamina D desempenha papel positivo na capacidade imunológica para eliminar células malignas ou tumorais. Trabalhos em animais e humanos indicam que a vitamina D pode fortalecer a capacidade das células imunes, que identificam células malignas e melhorar os tratamentos que estimulam a resposta imunológica contra o câncer.

 

O que é a vitamina D?

A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel, ou seja, necessita de gordura para ser dissolvida e absorvida de forma mais eficiente por nosso intestino. No entanto, isto não quer dizer que em pessoas com excesso de gordura corporal esta vitamina seja melhor aproveitada, uma vez que nestas condições a gordura presente é a do tecido adiposo, a mais superficial, ou seja, não está no intestino.

A vitamina D (calciferol) se apresenta de duas formas: vitamina D3 (colecalciferol) e vitamina D2 (ergocalciferol). 

Esta vitamina na forma D3 vem de alimentos de origem animal ou é produzida pela pele em resposta à radiação ultravioleta, enquanto a vitamina D2 vem de plantas e fungos. Independentemente de sua origem, ambas são transformadas pelo fígado e outros tecidos em 25-hidroxivitamina D [25-OHD], que é a principal forma circulante de vitamina D em humanos.  

Durante a sua metabolização, a 25-OHD é então convertida principalmente nos rins em outra forma mais ativa (1,25-dihidroxivitamina D [1,25-(OH)2D]), e que irá regular, no interior das nossas células, a expressão de vários genes dependentes desta vitamina.

Em humanos, estes genes ativados pela vitamina D, estão correlacionados com a melhora da imunidade ao câncer e da sobrevivência geral impedindo, desta forma, que as moléculas tóxicas comentadas anteriormente, entrem em nossa circulação, cheguem a diversos órgãos e tecidos do nosso corpo, ampliando a capacidade de desenvolver tumores malignos, portanto, fica claro o papel preventivo da vitamina D. 

Logo, nosso organismo trabalha como uma máquina altamente especializada, habitada por microorganismos que evoluem à medida que evoluímos. Portanto, estamos diretamente conectados, necessitando um equilíbrio desta unidade, garantindo a sua saúde e o seu bem-estar

 

Colaboração: Dr. Nicolás Tobar é Engenheiro de Biotecnologia Molecular, Doutor em Nutrição e Alimentos da Universidade do Chile —professor assistente do Instituto de Nutrição e Tecnologia dos Alimentos (INTA).  

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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