A dieta alcalina pode prevenir e tratar doenças como câncer, doenças cardiovasculares e osteoporose, mas antes de falar sobre ela, é importante lembrar o que significa alcalino. A acidez está relacionada à concentração de hidrogênio (H+) medida como pH. Um pH de 7 é considerado neutro. Se a acidez aumenta, o pH diminui, já se o pH aumentar, temos um ambiente alcalino. Exemplos de líquidos ácidos são bebidas esportivas, refrigerantes ou suco de limão, normalmente com pH em torno de 3.
Agora vamos falar sobre a dieta, que é derivada da teoria “hipótese das cinzas ácidas”, publicada em 1912, que relata que certos alimentos, quando queimados, produzem uma cinza mais alcalina e outros uma cinza mais ácida. A partir daqui, partiu-se do pressuposto de que isso também aconteceria no corpo e, portanto, uma dieta baseada em alimentos que produzissem cinzas mais alcalinas resultaria em um corpo alcalino, e isso seria melhor para a saúde, prevenção e até curaria doenças.
Foi então sugerido que, para atingir uma ambiente mais alcalino, é necessário consumir mais frutas e vegetais com uma ingestão moderada de proteínas. De acordo com a dieta alcalina, alguns alimentos que consideramos ácidos, como os cítricos, são na verdade considerados produtores de alcalinidade. Assim, de acordo com a teoria, certos grupos de alimentos são considerados ácidos (carne, aves, peixe, laticínios, ovos, grãos, álcool), alcalinos (frutas, nozes, legumes e vegetais) ou neutros (gorduras naturais, amidos e açúcares).
É importante dizer que infelizmente existem poucos estudos científicos para testar esta teoria, mas vou te apresentar o que existe de comprovado até o momento.
Quando comemos alimentos e eles passam pelo trato digestivo, ocorrem algumas mudanças muito significativas no pH. Na boca, o alimento é misturado à saliva em um ambiente bastante neutro antes de chegar ao estômago, que é fortemente ácido. Em seguida, o alimento segue para o intestino, onde é neutralizado com substâncias alcalinas, o que é importante para que possa ser absorvido. O pH do sangue é rigorosamente controlado entre 7,35 e 7,45 e a manutenção do pH do sangue é extremamente importante. O desvio desta faixa significaria que as enzimas não podem funcionar e o resultado seria grave e poderia levar à morte. Por isso, o nosso corpo tem vários mecanismos para manter o pH do sangue. Um ensaio randomizado bem controlado de uma dieta ácida levou à alteração do pH plasmático em apenas 0,014 unidades. No entanto, o pH da urina aumentou 1,02 unidades, demonstrando que mudanças na dieta podem alterar o pH da urina, mas não alteram o pH do sangue.
Assim, a dieta alcalina foi difundida pelo Dr Young e ganhou fama após seus livros publicados atribuindo uma característica milagrosa à dieta, alegando que as proteínas e os grãos produzem uma elevada carga ácida no corpo, o que causaria uma série de problemas de saúde. Ao longo dos anos, o Dr Young ficou conhecido por tratar seus pacientes com a dieta alcalina e, também, por sua prisão no ano de 2017, por se intitular médico sem de fato ser.
A teoria principal da dieta alcalina menciona que alimentos ácidos podem retirar cálcio dos ossos, o que aumentaria a chances de osteoporose. Porém, vale ressaltar que uma recente publicação de um artigo científico robusto, que avaliou diversos estudos, relata que não existe esse prejuízo com uma dieta ácida. A dieta alcalina também tem sido alvo para a prevenção e cura do câncer, mas um recente estudo bem elaborado demonstrou que não existe nenhuma associação entre a acidez ou alcalinidade alimentar o risco ou progressão do câncer.
Assim, consumir uma dieta ou água alcalina para alcalinizar o seu corpo com o intuito de gerar mais saúde, não tem comprovação científica. A dieta não é capaz de mudar o pH do sangue e isso é ótimo, afinal o nosso corpo possui sistemas que ajustam esse pH finamente, impedindo situações de alcalose e acidose (que só ocorrem em situações graves de saúde e são incompatíveis com a vida). O consumo de frutas e vegetais é amplo na dieta alcalina e essa recomendação é sempre válida, mas não muda o seu pH.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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