26/09/2024 - 14:00
O Dia Nacional do Surdo, comemorado em 26 de setembro, é importante para discutir a saúde auditiva e conscientizar sobre a perda auditiva.
Estima-se que cerca de 1,5 bilhão de pessoas tenham algum tipo de perda auditiva. Isso tem um grande impacto no mundo todo, é uma das principais causas de alterações nos órgãos sensoriais das pessoas e tem um impacto enorme em suas vidas diárias, tanto em sua vida social quanto em seu ambiente de trabalho.
O médico otorrinolaringologista, Bruno Borges de Carvalho Barros, traz informações valiosas e curiosas sobre como prevenir a surdez para a equipe da IstoÉ Bem-estar, destacando os sinais de alerta para a perda auditiva e as opções de tratamento disponíveis.
A perda auditiva e os fatores de risco
A perda auditiva pode ocorrer de forma gradual ou súbita, e muitas vezes é subestimada até que se torne um problema severo. As perdas de audição podem ser categorizadas em dois subtipos, o tipo condutivo, onde há lesão ou alguma alteração de estruturas que compõem o tímpano e a cadeia de ossículos, que constituem a orelha média, ou também por um tipo de perda chamada neurossensorial, por lesão de células ciliadas que ficam na orelha interna, uma estrutura chamada cóclea, ou mesmo do nervo responsável por levar os sons do ouvido até o cérebro.
O tipo mais comum é o tipo de perda neurosensorial que pode aparecer desde a infância, ou seja, desde o nascimento. São pessoas que nascem com uma perda congênita da audição, que pode ter origem desde genética, associada ou não a síndromes, até por outras alterações. Também podem aparecer ao longo da vida.
Ao longo da vida, os principais fatores que levam a esse tipo de perda são desgaste natural da audição, conhecida como presbiacusia, e também a exposição a sons, o famoso trauma acústico, em que a lesão auditiva pode ser por excesso de exposição permanente.
O maior exemplo são pessoas que trabalham em ambientes de ruído por um longo período, ou mesmo uma exposição abrupta, até de curta duração, mas de um som muito intenso.
O Dr. Bruno destaca que o uso frequente de fones de ouvido em volumes excessivos tem sido uma das principais causas de perda auditiva entre jovens.
“Para prevenir a perda auditiva, é crucial limitar o tempo de exposição a ruídos intensos, usar protetores auriculares em ambientes barulhentos e realizar check-ups auditivos regulares, especialmente em pessoas acima de 50 anos ou que trabalham em ambientes ruidosos”, aconselha o especialista.
Inclusive, há a possibilidade de perda auditiva temporária devido à exposição prolongada a sons em volumes excessivos.
“A exposição prolongada a sons acima de 85 decibeis pode provocar a perda auditiva temporária ou permanente”, explica. Isso ocorre porque o som excessivamente alto atinge as células ciliadas da cóclea, uma estrutura sensível no ouvido interno responsável por transformar as ondas sonoras em impulsos nervosos. Uma vez danificadas, essas células não se regeneram, resultando em perda auditiva permanente.
Outro ponto preocupante é que, em ambientes barulhentos, como transporte público ou ruas movimentadas, muitas pessoas aumentam o volume dos fones de ouvido para bloquear o ruído externo, o que intensifica ainda mais os danos ao sistema auditivo.
“O ideal é limitar o volume a no máximo 60% da capacidade total do dispositivo e fazer pausas regulares”, recomenda o doutor.
Outras situações que podem levar a perda de audição incluem também o uso de medicamentos que podem machucar o ouvido. Os mais conhecidos são a cisplatina, que é um medicamento usado no tratamento de câncer, na quimioterapia, e o uso de antibióticos da classe dos aminoglicosídeos.
Outras situações envolvem processos infecciosos que podem levar também à alteração auditiva, incluindo desde infecções à infância, como a rubéola, como também a toxoplasmose, dentre outros tipos de infecções.
Prevenção
“Fatores incluem a prevenção de produção de radicais livres, que acontecem por consumo excessivo de álcool e tabaco —fator que acelera o envelhecimento e a morte das células da audição. Ter bons hábitos alimentares, uma boa alimentação também ajuda que essas células da audição vivam por um longo prazo”, destaca o doutor.
Essas células auditivas têm um prazo de vida, de validade, então ao longo da vida essas células da audição vão morrendo e não há uma forma de recuperação ou de regeneração. A partir do momento que são perdidas, essas células não são recuperáveis.
Cada um de nós tem no seu código genético a idade em que essa perda irá acontecer e a velocidade com que elas vão morrendo. “Isso explica porque tem flutuações, tem gente que está com 80 anos e a audição está perfeita e gente às vezes com 60 anos já está com uma dificuldade auditiva intensa. A gente chama isso de genótipo, então essas perdas elas caracterizam para cada pessoa de acordo com o que está no seu código genético”, completa.
Se a pessoa consumir álcool excessivamente, fumar, ter uma péssima qualidade de vida, esse processo ocorre mais rápido. A perda pelo envelhecimento se inicia a partir dos 50 anos de idade e vai se acelerando conforme o avançar da idade.
Tratamento para perda auditiva
Mas, se mesmo com todos os cuidados para sua saúde, a perda auditiva for diagnosticada, há várias opções de tratamento.
“Em alguns casos, o uso de aparelhos auditivos pode ser suficiente para melhorar a qualidade de vida. Em outros, cirurgias ou implantes cocleares podem ser recomendados, dependendo da causa e da gravidade da surdez –mas todos os casos têm solução”, explica o médico.
Ele ainda lembra a importância de cuidar da saúde auditiva desde a infância.
“Infecções de ouvido maltratadas na infância podem ter consequências a longo prazo. Os pais devem estar atentos a sinais como a falta de resposta a estímulos sonoros ou dificuldades na fala”, explica.
Em colaboração: Bruno Borges de Carvalho Barros, médico otorrinolaringologista pela UNIFESP, pós-graduado pela UNIFESP, especialista em otorrinolaringologia pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e cirurgia cérvico-facial. É mestre e fellow pela Universidade Federal de São Paulo.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.