Você já parou para pensar o que faz de você quem você é? O que te torna único e especial? O que faz você se encaixar no mundo da sua própria maneira?

Nesta coluna, vou te ajudar a compreender um pouco mais quais são as suas características pessoais e, mais importante, como elas funcionam, em 3 eixos:

  • Sua vida emocional;
  • Nas suas relações;
  • Na sua performance cotidiana.

Mas o que é personalidade, afinal?

Imagine a personalidade como uma coleção de traços, cada um com uma tendência a pensar, sentir e se comportar de uma forma particular. E quais são os “traços de personalidade”? Uma maneira extremamente validada pela ciência é a organização de todos esses traços em CINCO Fatores (Extroversão, Neuroticismo, Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura) vejamos a seguir.

 

  1. Extroversão: Energia e Sociabilidade

Você já se perguntou por que algumas pessoas são sempre o centro das atenções em festas, enquanto outras preferem um bom livro em casa? Isso tem a ver com a extroversão. Pessoas extrovertidas tendem a ser mais sociais, cheias de energia e adoram interagir uns com os outros. Por outro lado, os introvertidos são mais reservados, gostam de momentos de solidão e têm, em geral, menos emoções positivas no seu cotidiano, como entusiasmo e alegria.

  1. Neuroticismo: Emoções Negativas e Estresse

Imagine uma escala de emoções, onde de um lado temos a estabilidade emocional e, do outro, as quantidades maiores de ansiedade e de outras emoções sofridas (como medo, raiva, tristeza, vergonha e culpa). O neuroticismo pode ser descrito como uma dimensão como essa. Pessoas com alta pontuação nesse traço podem ser mais propensas a preocupações, ansiedade e sofrimento diante de estresse. Por outro lado, aqueles com baixo neuroticismo são mais tranquilos e equilibrados, enfrentando os desafios da vida com calma. Neuroticismo é extremamente importante porque tem uma relação direta com o sofrimento em geral, com a qualidade de vida, autoestima e com o surgimento da maior parte dos transtornos mentais!

  1. Amabilidade: Colaboração e Empatia

A amabilidade diz muito sobre como você vê e trata os outros (mesmo que seja só dentro da sua própria cabeça). Pessoas amáveis são empáticas que tendem a respeitar e valorizar o outro por sua humanidade, não por outras características. Elas valorizam os relacionamentos interpessoais e estão dispostas a agir colaborativamente em relação ao outro. Por outro lado, aqueles com baixa amabilidade podem ser mais céticos nos relacionamentos e menos preocupados com o sofrimento dos outros.

  1. Conscienciosidade: Organização e Responsabilidade

Já se perguntou por que algumas pessoas são tão organizadas e metódicas, enquanto outras parecem viver no caos? Conscienciosidade é uma maneira de descrever essas diferenças entre as pessoas. Pessoas com alta conscienciosidade são detalhistas, responsáveis, focadas em cumprir metas e são persistentes a despeito de desafios no processo de uma tarefa. Por outro lado, aqueles com baixa conscienciosidade podem ser mais desatentas, impulsivas, menos orientadas a prazos e ao planejamento.

  1. Abertura para a Experiência: Curiosidade e Criatividade

Você já conheceu alguém que sempre está disposto a experimentar coisas novas, seja viajar para lugares exóticos ou conhecer diferentes ideias e adquirir novo conhecimento? Essas pessoas são abertas para a experiência e as ideias. Elas são curiosas, imaginativas e adoram novidades. Por outro lado, pessoas com baixa abertura tendem a gostar da rotina e da estabilidade. Elas preferem o conhecido ao desconhecido.

 

E como isso afeta a vida no cotidiano?

Agora que você conhece esses cinco fatores, você pode estar se perguntando como eles influenciam a sua vida. Bem, eles têm um grande impacto em praticamente tudo, desde a maneira como você se relaciona com os outros, até como lida com o estresse. Uma maneira simples de organizar o próprio funcionamento da personalidade e, por consequência, a própria saúde mental, é pensar em TRÊS EIXOS, os quais vou explorar detalhadamente ao longo das minhas colunas semanais aqui na Isto É Bem-estar:

– Emoções: uma excelente maneira de entender as nossas próprias emoções é dividi-las em negativas (sofridas, desagradáveis, aversivas, e associadas a neuroticismo) e as positivas (agradáveis, associadas a extroversão). 

Assim, uma forma útil de auto-observação é perceber como anda a sua carga de emoções como ansiedade, culpa, raiva, vergonha, tristeza e, TAMBÉM, como anda sua energia, entusiasmo, satisfação, alegria. Ainda que emoções negativas façam parte da vida, e que a nossa vida certamente não vai ser simplesmente repleta de emoções positivas, a nossa saúde mental depende de um equilíbrio entre esses dois grupos de emoções.

 

– Relacionamentos interpessoais: humanos são seres sociais. A socialização, inicialmente com os pais e outros membros da família, molda nossa personalidade e tem uma relação íntima com o jeito que nos relacionamos com os outros durante toda a nossa vida. Por sua vez, atingir nossos objetivos nas relações interpessoais tem uma relação enorme com a nossa saúde mental. Vale dizer que nossa vida interpessoal se organiza em dois dos cinco fatores (extroversão e amabilidade)

Uma forma útil de auto-observação é perceber esses objetivos interpessoais, que podemos dividir em dois grupos: Agência e Comunhão. A Agência se refere a controle, poder, dominação, influência e status de uma pessoa sobre outra (tanto de nós sobre os outros quanto dos outros sobre nós ). Por sua vez, comunhão se refere a afiliação, conexão, acolhimento e cuidado com o outro.

 

Preparei algumas perguntas pra você refletir e responder sinceramente para si mesmo sobre esse tema: 

– Os seus objetivos interpessoais são predominantemente de agência ou de comunhão?

– Em termos de agência, como você protege seus interesses e adquire autonomia?

– Em termos de comunhão, como você colabora com o outro e constrói relações seguras e responsáveis?

– Você consegue atingir esses objetivos? E quando não consegue, como você fica?

 

– Performance: Todos precisamos realizar atividades cotidianas, e grande parte dessas tarefas são difíceis, complexas, morosas e longas demais. Para muitas pessoas, a performance nessas atividades é insuficiente, gerando grandes problemas, tanto pessoais quanto acadêmicos e profissionais. Este eixo da nossa organização de personalidade é baseado no fator Conscienciosidade, que desempenha um papel importante na organização de projetos pessoais. 

 

Algumas perguntas pra você refletir e responder sinceramente para si mesmo.

– Consigo me organizar para realizar projetos pessoais, acadêmicos e profissionais do meu interesse?

– Consigo efetivar esses projetos de maneira persistente e suficientemente eficiente mesmo na presença de distrações e dificuldades?

– Assumo as minhas responsabilidades e as cumpro, devidamente, com cuidado para avaliar como isso afeta as outras pessoas? 

 

Lembre-se: ninguém tem emoções completamente reguladas, relações interpessoais perfeitas e muito menos performance ideal em todas as tarefas do cotidiano. Ainda, a maior parte das pessoas tem interesse no auto aprimoramento, e a boa notícia é que podemos mudar TODOS esses eixos na direção que queremos, desde que tenhamos conhecimentos e habilidades para isso!

Essa possibilidade de mudança é muito importante porque esses eixos da nossa organização de personalidade tem uma relação muito grande com transtornos mentais. Aquele que já teve depressão, transtornos de ansiedade ou outros diagnósticos, muito provavelmente consegue encaixar os sintomas que tinha em um ou mais dos Três Eixos. Isso não acontece por acaso, mas sim porque o comprometimento da saúde mental surge na maior parte das vezes a partir da personalidade.

E é por isso que a auto-observação começa por entender a própria personalidade. E que seja um primeiro passo de uma bela jornada rumo a uma vida cada vez mais valiosa.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.