Tenho uma doença crônica – que é controlável e não tem cura – que frequentemente danifica as minhas costelas. Quando descobri isso poderia me desmotivar, mas tenho que me levantar todos os dias e enfrentar esse problema, que faz parte de mim e que terei que controlar durante toda a minha vida. Isso me faz motivar-me a cada dia e treinar mais para fortalecer todos os meus músculos e, em contrapartida, viver com mais saúde e qualidade de vida.

Trabalho com pessoas que têm obesidade desde 2007. Passei anos acompanhando histórias e descobrindo o que desencadeou o ganho de peso nos pacientes, além de estudar diferentes formas de combater, agir e controlar o problema.

Sei a gravidade da patologia, pois é crônica, inflamatória e multifatorial. E sei também o quanto sofre a grande maioria das pessoas que têm obesidade grave, pois o problema não é só fisiológico e metabólico, compromete também movimentos simples, como caminhar (tenho pacientes que chegam com andadores ou cadeiras de rodas), deitar ou subir na maca, sentar e levantar da cadeira.

Entramos em uma questão séria, mas infelizmente muitos não estão preparados para ouvir. Isso compromete tanto o estado metabólico quanto questões simples de locomoção. Eu também sei que tem pessoas que sofrem de obesidade e relatam que estão 100% “saudáveis” metabolicamente e fisicamente, porém o excesso de gordura corporal quando não tratado pode levar a sérios problemas futuros de forma muito brusca e comprometer gravemente o organismo. Isso já é o suficiente para ficar em alerta. 

O excesso de gordura corporal é uma condição que devemos combater pela nossa saúde, ela está associada a problemas como diabetes, infarto, AVC, câncer, esteatose hepática e depressão. Costumo reforçar que, como profissional de educação física, procuro prezar  pelo bem-estar do meu leitor, porque a minha escolha pela profissão visa melhorar a saúde das pessoas e ajudar todos a enxergarem o quanto algumas condições –quando não enfrentadas – podem ser prejudiciais à saúde. Por isso, separei alguns motivos para você que deseja combater a patologia.

 

A atenção na saúde dos seus filhos

Poucas pessoas sabem, mas a saúde é especialmente importante no início da vida, pois afeta o seu corpo mais tarde. Na verdade, muito pode ser determinado enquanto o feto ainda está no útero.

As escolhas alimentares e de estilo de vida da mãe são muito importantes e podem influenciar diretamente o comportamento futuro e a composição corporal do bebê. Portanto, crianças que têm pais e avós obesos têm muito mais probabilidade de serem obesas em comparação com crianças com pais e avós considerados com peso normal. Além disso, os genes que você herda de seus pais podem determinar sua suscetibilidade ao ganho de peso.

Embora a genética e os fatores do início da vida não sejam os únicos responsáveis pela obesidade, eles contribuem para o problema ao predispor as pessoas ao ganho de peso. A investigação revela que cerca de 40% das crianças obesas continuarão a ter excesso de peso durante a adolescência e 75% a 80% dos adolescentes obesos manterão esta condição na idade adulta.

Podem existir fatores genéticos que dificultam o processo de emagrecimento, mas isso não quer dizer que o emagrecimento não vá acontecer e, consequentemente, que pode ser um pouco mais difícil. 

Um outro estudo, realizado pela UNIFESP, notou que mesmo os adolescentes que tinham alterações genéticas conseguiram emagrecer, apesar de menos. Além disso, eles tiveram diversos benefícios na saúde, como aumento de massa magra e redução de gordura visceral. Isso só reforça que a pessoa com alteração genética pode ter mais dificuldade, mas continuam tendo resultados.

Como disse, a carga genética tem sim um papel importante, porém ela não é determinante. Não é a carga genética que vai definir se você irá emagrecer ou não, ela só ajuda ou dificulta o processo de emagrecimento. 

 

A síndrome metabólica

A síndrome metabólica é considerada como uma doença crônica, caracterizada por um conjunto de alterações metabólicas, que incluem glicemia elevada ou diabetes mellitus, excesso de colesterol ou triglicérides no sangue, redução de HDL-c, elevação de pressão arterial e excesso de gordura na região abdominal. 

A combinação de todas essas alterações é assustadora, mas é o fator denominado síndrome metabólica, e sua presença aumenta o risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. Portanto, o controle precisa ser realizado assim que alguma dessas alterações for diagnosticada.

Já o principal fator envolvido no desenvolvimento da síndrome metabólica é a obesidade –e, consequentemente, todos os fatores que levam ao acúmulo de gordura corporal, como ingestão alimentar hipercalórica, sedentarismo e ingestão excessiva de açúcares.

 

Resistência à insulina

Agora que você entende melhor como funciona a síndrome metabólica, destaco que ela está relacionada à resistência à insulina. O hormônio é responsável por transportar a glicose (açúcar) até as células, para que possa ser utilizada como combustível. Os receptores de insulina nos músculos funcionam como um sistema de “fechadura e chave”: as ligações de insulina em um receptor de insulina giram a chave e permitem que o açúcar entre no músculo. Mas com a resistência à insulina, o hormônio não consegue abrir a porta. Isto significa que as pessoas com síndrome metabólica são incapazes de capturar açúcar nos músculos de forma tão eficiente quanto alguém sem a doença.

 

Esteatose hepática não alcoólica

A EHNA (esteatose hepática não alcoólica) é uma manifestação hepática da síndrome metabólica, que se caracteriza pela presença de gordura nos hepatócitos, que são as células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas. Pode variar desde esteatose hepática simples, esteatose-hepatite não alcoólica, cirrose e hepatocarcinoma (câncer).

É também conhecida por doença hepática gordurosa, gordura no fígado ou fígado gorduroso,  essa  condição é cada dia mais comum, podendo assim, atingir 50% dos diabéticos, 57% a 74% dos obesos e até 90% dos obesos mórbidos.

Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento e progressão da esteatose não são bem esclarecidos. Porém, a resistência à insulina, o estado inflamatório, o sobrepeso, o diabetes, fatores genéticos, má alimentação, perda de peso muito rápida e o estilo de vida sedentário são os principais gatilhos para o desenvolvimento dessa patologia.

 

Retração cerebral

Um estudo recente descobriu que altos níveis de gordura corporal estão ligados a uma redução na massa cinzenta do cérebro, que contém células nervosas. Isso pode aumentar o risco de declínio da memória e demência. Além disso, a obesidade pode afetar o cérebro de várias maneiras, incluindo o aumento da compulsão.

A região cerebral chamada córtex órbito frontal é responsável pelo impulso. Em crianças obesas, essa região parece estar mais reduzida em comparação com crianças saudáveis. Quando essa região cerebral é menor, há uma maior probabilidade de os adolescentes comerem compulsivamente. A obesidade é conhecida por causar alterações no sistema imunológico, o que resulta em aumento da inflamação no corpo. A inflamação pode até afetar o cérebro e gerar um ciclo vicioso, no qual a obesidade causa inflamação que danifica certas partes do cérebro, o que leva a uma alimentação desequilibrada.

Além disso, reduz a saciedade, pode levar a problemas psiquiátricos, compulsão alimentar como reação ao estresse e perda de memória em mulheres após a menopausa.

 

Resistência à leptina

A leptina é um hormônio importante para regular o apetite e o metabolismo. É produzida pelas células adiposas e envia um sinal ao cérebro quando estamos saciados. Pessoas com obesidade produzem muita leptina, o que pode levar a uma condição chamada hiperleptinemia e a resistência à leptina.

Assim, mesmo que seu corpo produza mais leptina, seu cérebro não a reconhece. Quando seu cérebro não recebe o sinal de leptina, ele pensa erroneamente que você está morrendo de fome, mesmo que tenha gordura corporal armazenada mais do que suficiente.

Isso faz com que seu cérebro mude a fisiologia e o comportamento. Tentar exercer força de vontade contra o sinal de fome provocado pela leptina é quase impossível para muitas pessoas.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

 

 

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